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O auditório da faculdade estava lotado. Era impressionante como tantas pessoas se interessavam por palestras assim. Na entrada havia um cartaz enorme com a foto do palestrante: um senhor que parecia ser tão velho quanto os próprios dinossauros.

Letícia olhava para todos os lados procurando pelo motivo de estarmos aqui e eu a seguia, esperando que sentássemos o mais afastado do palco possível, para que pudesse dormir sem que ninguém visse. Não demorou muito para que seus os olhos castanhos de águia encontrasse os dois garotos, eles estavam próximos ao palco, conversando com duas outras garotas que, aparentemente, babavam.

Revirei os olhos com a cena. Era patético.

— Eles estão acompanhados — sussurrei para que somente ela ouvisse.

— Não por muito tempo — respondeu.

Letícia empinou o nariz, jogou os cabelos loiros ondulados para trás e deu seu melhor sorriso. A garota sabia como conseguir o que queria usando os atributos que Deus — e a genética — havia lhe dado. Caminhou despreocupada até onde eles estavam, como se não estivesse, de fato, indo na intenção de encontrá-los. Alguns passos atrás, eu a seguia e observava, como um aprendiz vendo seu mestre em ação.

A garota fez uma pausa no bebedouro e encheu um copo de água, antes de seguir ao seu destino. Segurei o riso quando vi a cena que se seguiu.

Ela havia esbarrado propositalmente em uma das garotas, virando parte do líquido na moça e parte em si própria, deixando sua blusa branca um tanto transparente. A garota ruiva perdeu o sorriso na hora e começou a gritar sobre como aquilo havia arruinado seu dia.

— É só água — Arthur falou, nitidamente perdendo o interessa na garota mesquinha.

— Me desculpa, não foi minha intenção — Letícia mentiu e eu me aproximei. — Nossa! Eu sou muito desastrada mesmo... — ela sussurrou, colocando em prática seus dotes artísticos.

Notei que os dois garotos olhavam para as duas garotas, pensativos, como se estivessem resolvendo de qual dos lados ficariam. Aquilo era ridículo e mentalmente agradecia por ter mais juízo que minha amiga. Breno encarou Letícia e depois seu olhar parou na blusa branca, que agora deixava à mostra seu sutiã vermelho.

Ele apresentou a si próprio e ao amigo, como se todas as garotas do campus não conhecessem os dois. Letícia não perdeu tempo e os cumprimentou com beijinhos na bochecha, me puxando para que fizesse o mesmo. A ruiva, a essa altura, estava incomodada com o fato de que perdera a atenção e caminhou com passos firmes em direção ao banheiro, levando a amiga embora.

— Vocês estudam arqueologia? — ela perguntou, como se não soubesse que os dois faziam Direito.

— Não, nós cursamos Direito — Breno respondeu e vendo a cara de confusa, acrescentou: — Para ser sincero, eu odeio essas palestras, mas o Arthur gosta e prometeu que iríamos a uma festa depois — ele riu, implicando com o amigo.

— Ah! Então foi o mesmo que eu — Letícia comentou. — Luísa não queria vir de jeito nenhum, mas eu AMO dinossauros! — Ela mentia tão bem que até eu já estava acreditando. Cretina! — Tive que comprar a presença da minha melhor amiga, isso é tão injusto.

— Parece que temos algo em comum, então — Arthur comentou e sorriu.

Eu juro que senti meu coração parar com aquele sorriso e tinha certeza de que minha melhor amiga deveria estar sem ar. Decidi não ficar olhando muito para o moreno e me foquei em puxar assunto com o loiro, já que eu não ficaria de vela e tiraria proveito da situação.

— Seu amigo costuma pagar as promessas que faz? — perguntei brincando, enquanto caminhávamos até nossos lugares.

— Ele tenta me enrolar, mas eu também sei ser persuasivo — ele piscou e sorriu. — Além do mais, hoje é meu aniversário, então nós vamos sair de qualquer jeito.

— Que ótima maneira de comemorar, preso em uma palestra por duas horas — brinquei. — A propósito, parabéns.

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Nas horas seguintes, Letícia tentava puxar assunto de todas as formas com Arthur, mas ele parecia mesmo interessado no que o Professor Alfred Thompson falava, respondendo a garota com monossílabos. Breno também puxava assunto comigo, deixando sempre no ar uma segunda intenção e eu tentava ser o mais simpática possível para não estragar o quase encontro da minha melhor amiga.

Esperamos que a maioria das pessoas saísse para que pudéssemos levantar. Como se tivesse invertido os papéis, Arthur conversava animadamente com Letícia e era a vez dela de só concordar, já que não havia prestado atenção na palestra e não sabia como responder ao garoto.

O desespero estava estampado no rosto da garota, ela sabia que talvez não tivesse chance de um segundo encontro e me olhava com aqueles olhos de cachorrinho abandonado, implorando silenciosamente para que eu ajudasse de alguma forma.

— Quais seus planos para hoje à noite? — Breno perguntou, fazendo com que eu tentasse achar uma desculpa para rejeitar o convite que viria.

— Hoje não temos nada! — Letícia se antecipou e eu suspirei, sorrindo forçado antes de concordar.

— Perfeito! Vocês estão oficialmente convidadas para comemorar comigo e não aceito não como resposta — ele respondeu, deixando a mostra seu sorriso perfeito.

Acho que Arthur estava tão incomodado quanto eu, pois ficou em silêncio encarando o amigo.

— Me passa seu whatsapp, ai você me manda o endereço e nós buscamos vocês duas — Breno falava olhando para mim, mas era Letícia que se antecipava respondendo.

Ela passou meu contato para o garoto loiro e logo em seguida nos despedimos deles. Esperei para que se afastassem o suficiente e fuzilei minha amiga com os olhos.

— Você ficou maluca! — falei ríspida. — Nós não tínhamos combinado nada sobre isso! Era apenas uma palestra e agora eu praticamente tenho um encontro marcado com um garoto que nem sei se estou interessada.

— Não seja tão dramática, o cara é lindo! — deu de ombros. — E estava tudo indo mal entre eu e o Arthur, precisava de um pretexto para vê-lo novamente.

— Eu odeio você — falei, tentando parecer o mais verdadeira possível, mesmo que isso fosse uma grande mentira.

— Desculpa bebê, mas você não tem o mesmo dom que eu — Ela brincou e sorriu, enganchando o braço no meu. — É só uma festa, vai ter várias pessoas, se você não quiser, nem precisa ficar perto dele.

Resolvi não discutir, no fundo sabia que era em vão. Letícia sempre acabava me convencendo a fazer suas vontades.

Dez Vezes VocêHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin