Importância

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Já é tarde da noite quando o vôo pêgo por Megan, chega à capital, Toronto.
Grata por ter pegado o endereço na última ligação feita por seu pai.
Megan está diante da nova casa de seus pai, um bairro bem iluminado, de casas grandes e elegantes, o táxi segue sua rota.
Marcelo abre a porta, assim que ouve alguém tocar a campainha.
Megan sorri, dizendo:
- Oi, pai.
- Megan? Oi. Entre.
Ela é recebida por um meio abraço do pai e um beijo sobre sua cabeça.
Marcelo fecha a porta, perguntando:
- Você está bem, Megan? O quê é isso em seu braço?
- Estou bem, pai. Ah, isso é só um corte.
- E como conseguiu?
- Eu tropecei e... E a mamãe?
- Ela está no quarto. Siga pelo corredor, é a terceira porta à direita.
- Tá. Eu vou falar com ela.
- Procure não demorar, quero falar com você.
- Tudo bem.
Megan caminha segue para o corredor, a casa é grande, há portas e  janelas por todos os lados, duas varandas à esquerda do corredor, um cozinha americana, vasos com coqueiros em pontos estratégicos da casa, dois bonsais se exibem sobre uma mesa redonda de vidro em uma das duas varanda.
Megan adentra no quarto gélido, vê sua mãe deitada à cama e se aproxima, sua mãe está pálida e com olheiras profundas:
- Mamãe?
Nathália olha para Megan com um devido esforço e sorri:
- Filha? Megan, é você mesma?
- Sim, mãe. Sou eu, a Megan.
- Ah, querida! Não sabe o quanto fez falta.
- Eu posso imaginar.
- Por quê saiu de casa, meu bem?
- Desculpe, mãe. Eu precisava fazer isso.
- Você está bem, querida? Estão cuidando bem de você?
- Eu estou bem, mãe. Não se preocupe, onde estou as pessoas são bem hospitaleiras.
- Onde você está? Não está morando com suas amigas como tinha dito?
- Eu não quis amolar nenhuma delas. Além de tudo, Sara foi embora do país  e as meninas também vão.
- Então você está morando com quem?
- Isso não importa, mãe. Quero saber de você. Por quê você está nesse estado? O quê houve?
- Não é nada, meu bem. Não tem que se preocupar. O importante é você está de volta. Vamos, vou preparar o jantar para você.
- Não, mãe. Não se levante. Precisa cuidar da sua saúde. E eu não vou ficar por muito tempo.
- Que horas são?
- Quase dez.
Megan encara o respirador artificial ao lado da cama e se preocupa, porém se mantém passível.
Ela acaricia o rosto de Nathália e sorri para esconder à vontade imensurável de chorar, uma angústia lhe invade o peito.
Ao sair do quarto e fechar a porta, Megan escorrega para o chão e começa a chorar.
- Ei, não, não, não chore. Megan, não faça isso.
- O quê eu fiz com ela, pai?
Megan abraça seu pai e chora em seu peito.
Marcelo diz:
- A culpa não é sua. Eu que não soube valorizá-la, eu não estava sendo um bom marido.
- Eu não queria que isso acontecesse.
- Ninguém nunca quer.
Megan é conduzida por Marcelo até uma das varandas, onde se sentam.
Megan pergunta:
- O quê houve com ela?
- Sua mãe contraiu uma virose congênita.
- Como aconteceu?
- Se lembra quando Chasee, ela e eu fomos pescar há um mês atrás?
- Sim.
- Então, enquanto Chasee e eu fomos ver se conseguíamos êxito do outro lado do canal, ela ficou do lado de cá tomando sol... Eu não sei bem como isso acontecer, mas os médicos diz que ela foi picada por algum parasita transmissor.
- Um mês depois?
- Dizem que o vírus demora algumas semanas para se instalar nas células sanguíneas e então começarem a surgirem os primeiros sintomas.
- Ela vai ficar bem?
- É o quê eu espero. Ela está tomando alguns coquetéis analgésicos para anestesiarem as dores.
- E aquele respirador artificial?
- Uma ou duas vezes na noite ela precisa usá-lo, algumas regiões do sistema respiratório foram lesionadas e por conta disso não conseguem fazer com quê o oxigênio chegue aos pulmões.
- Tem certeza que não é grave, pai?
- Tenho. Mais uma ou duas semanas e ela ficará bem.
- É melhor que fique.
Megan coloca suas pernas sobre a mesma cadeira que está sentada, cruzando os braços em volta delas.
Marcelo pergunta:
- Por quê voltou?
- Porque eu queria ver minha mãe.
- E agora que viu? Vai sumir outra vez?
- Eu não posso simplesmente fingir que tenho uma vida para cuidar, porque eu ainda estou em busca dela. E eu quero provar que sou capaz de realizar coisas e conseguir êxito sem ter você ou a mamãe por perto para ficar corrigindo meus erros.
- Você quer provar para quem?
- Para mim mesma.
- E por quê?
- Porque eu sinto que não sou tão coerente em relação as coisas que faço, as escolhas que tenho feito e nem muito menos aos caminhos que tenho tomado.
- Megan, sua mãe e eu sempre soubemos que você teria dificuldade em enxergar o mundo com seus próprios olhos. Mas, você tem se encaixar em algum lugar, não acha? Precisa aprender a dar mais valor ao que tem, mesmo que não tenha. Veja o lado bom do lado ruim.
- E desde quando o lado ruim tem um lado bom?
- Desde que você aprende a entender as utilidades e inutilidades entre o caminho que deve seguir e o caminho que deve imaginar-se seguindo. Deixe de querer ver além daquilo está vendo. Não existe maldade nas coisas ou diante dos olhos, mas existe na cabeça, existe nas pessoas, então não deixe de trilhar um caminho só porque você acha que encontrará monstros nele. Escute uma coisa, da mesma forma que sua mente a engana, seus pés podem fazer o mesmo.
- Isso é confuso.
- A vida inteira é uma confusão, mas cabe a você optar por mudar seu destino. Não sou eu, não é sua mãe que deve dizer a você qual é o melhor caminho para seguir, ou o melhor horário para não haver congestionamento no trânsito, mas é você quem deve pôr-se à prova. Você está entendendo, Megan?
- Acho que sim.
- Acha que sim? Está vendo, aí está seu erro. Você não tem que achar nada, minha filha. Esqueça seus achismos, mantenha-se focada em uma decisão, ponha-se em foco, acorde para a vida. Megan, desafie-se. Não tenha medo, vá em busca do que deseja, não pare por nada e nem ninguém. Enfrente os obstáculos que sabemos perfeitamente que não serão poucos e nem fáceis, mas tenha sempre certeza de que você é a dona do seu destino e a única capacitada para mudá-lo. Não tenha medo de seguir, corra, lute, conquiste e acima de tudo tenha fôlego para esbravejar seu talento.
- Pai, eu senti sua falta.
Megan o olha e ele está sorrindo.
Marcelo diz:
- Eu nunca disse, mas eu tenho orgulho da filha que tenho.
- Eu sei que gostaria de ter uma filha tão otimista quanto você e corajosa, mas eu não estou nem perto de ser como você.
- Eu não estou pedindo para ser igual a mim, Megan. Apenas espero que dê o melhor de si, para coisas que vão beneficiá-la mais tarde.
- Pai, você espera que um dia eu seja tão útil quanto minha mãe?
- Eu ainda espero ver muitas coisas vindas de você, Megan, principalmente netos e um genro.
- O quê, pai?
- Eu não estou tão novo, Megan. Não tenho mais a mesma vitalidade de antes.
- Bem, talvez isso não esteja tão longe de acontecer.
Marcelo à olha e nota um brilho em seus olhos, Megan sorri.







A ESCOLHA DO LÍDERWhere stories live. Discover now