Vitalidade

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- Quer que eu entre com você?
- Eu preciso fazer sozinha.
- Estarei bem aqui.
Marcelo sorri para o conforto de Megan, que entra em uma das salas frias do consultório.
Na porta está uma identificação: Dra. Lina Mettviski.
Megan bate e entra após ouvir a autorização.
- Srta. Homefild. Entre, por favor. Não quer o acompanhamento de seu pai?
- Não. Estou bem.
- Como queira, sente-se. Fique à vontade.
Megan se acomoda em um estofado e espera a psicóloga fazer o mesmo.
- Posso chamá-la de Megan?
- É o meu nome. É o mínimo que pode fazer.
- Tudo bem. Eu sou a Dra. Lina Mettviski. Seu pai entrou em contato comigo, disse sobre seus sonhos, disse que você tem tido pesadelos que isso vêm afetando toda família. Pode me dizer mais sobre eles? Pode me ajudar a ir mais fundo nessa terapia?
- Por quê eu faria isso?
- Megan, eu quero ajudá-la.
- Desculpe, mas eu não estou necessitada de ajuda. Não sou tão infeliz quanto imagina. Se minha mãe tem uma "confiança" em você, eu sinto muito, mas eu não vou falar nada. Absolutamente nada da minha vida, não para você.
- Tudo bem. quero que sinta-se à vontade para se expressar como quiser. Sinta-se confortada. Megan, quero ajudá-la como uma amiga, esqueça que sou uma profissional. Tudo que me disser aqui dentro, será de absoluto sigilo.
- Será mesmo, doutora?
- Pode confiar.
- Eu não tenho esse costume.
- Tudo bem. Eu tenho o resto do dia para ficarmos aqui. E eu não irei desistir na primeira sessão. Se não se sentir bem, pode sair quando desejar.
- Essa foi a única coisa que você disse e que fez sentido até agora.
Megan se levanta, quando está prestes a abrir a porta, escuta:
- Eu não faria se fosse você. Você quer se livrar disso, Megan. Ninguém deseja passar por isso. E eu garanto que isso é verdadeiramente inegável, mas posso garantir que doerá bem menos se manter a mente bloqueada.
- Do que está falando?
- Eu também tive sua idade. Eu presenciei meu irmão se transformar em um animal peludo, se contorcer no tapete da nossa sala e matar nossos pais por nunca estar saciado o bastante para fazer uma dieta animal.
- O quê?!
- Megan, isso não é como uma seleção, você não aponta o dedo e diz "aquele". Acredite em mim, se hoje eu estou aqui é porque eu acredito na sua força de vontade.
Megan caminha até o sofá e aperta seus dedos contra o estofado.
A doutora continua:
- Você pode se livrar disso. Não é real. Nunca é tão real.
- Você sabe o que está dizendo?
- Claro que sei.
- Não, doutora. Não sabe. Não é uma lenda. E como você disse, não é uma seleção, mas uma escolha. E eu lamento pelos seus pais, por seu irmão, mas você não imagina o que aconteceu, muito menos pode querer impor a mim coisas que aconteceram a você. Você não pode se sentar e esperar que eu confie em você, porque eu não confio. Eu estou aqui porque fui obrigada e acredite, eu vou voltar aqui, mas não é para lhe dizer sobre meus pesadelos, até mesmo porque eles acabaram, mas pelo prazer de olhar nessa sua cara lavada e dizer a mesma coisa que acabei de dizer. Você não sabe de nada. Não sabe no que está se metendo. Você não pode se sentir capacitada a mudar isso.
- Megan, eles estão usando você. Você pode evitar que façam isso.
- Quer dizer o quê?
- Você vai acabar ferindo seus pais, você querendo ou não está envolvendo eles nisso.
- Realmente, doutora, você não sabe nada. Não é porque seu irmão sofreu uma metamorfose que eu não saberei mudar isso.
- Você vai correr o risco?
- Não importa a você. Não queira se meter na minha vida, doutora. Estou avisando, não queira.
- Não queira ser a salvadora da pátria, Megan.
Megan dá por encerrada a primeira sessão e sai da sala, atravessa o saguão da clínica sendo seguida por seu pai até o carro do outro lado da rua.
- Como foi?
- Tudo bem. Foi uma consulta normal. Não pode ser cantada vitória, ainda é cedo.
O pai liga o carro e começa dirigir, mas ainda interessado em saber mais:
- Quer continuar?
- Com toda certeza. Eu quero voltar naquela clínica.
Alguns quilômetros depois, eles chegam em casa.
Quatro horas da tarde, um dia tranquilo e chuvoso, Megan está em seu quarto, estirada na cama com seus fones de ouvido.
Momentos depois, o pai abre a porta do quarto e lança uma espiada em direção à cama, que Megan está dormindo e decide por deixá-la quieta.
Horas mais tarde Megan acorda, desliga seu iPod e o deixa de lado, ao encarar o relógio percebe que passa das onze e meia.
Ao descer para a sala, ela percebe o silêncio na casa, exceto pelo atrito da chuva sobre o telhado.
Megan caminha até a cozinha, se serve de um copo com leite e uma fatia de bolo, arrasta uma das cadeiras e se senta, Thom deita sobre seus pés embaixo da mesa.
Passados momentos ali, encarando o nada e percebendo que o frio e o sono à consomem, Megan se arrasta para o quarto.
Seus pesadelos acabaram, sonhos vêm e vão, mas nada tão agressivo quanto os anteriores.
- Megan, é melhor se levantar, está tarde. Vai acabar se atrasando.
Incapacitada de mover um músculo, ela jogada de bruços sobre a cama resmunga.
A mãe puxa o cobertor sobre ela e o joga para fora da cama:
- Levante-se agora mesmo, Megan Roselyn Homefild!
Megan se senta, ainda sonolenta e atordoada ela pergunta:
- Que horas são?
- Quase oito.
- Que droga! Por quê você não me chamou, mãe?!
Pula para fora da cama e corre para o banheiro.
Seu pai está ao pé da escada, enquanto ela desce ajeitando seus materiais dentro da mochila:
- Buscarei você no final da aula.
- Beleza. Tenho que ir, estou mega atrasada!
Megan pega um pêssego da mão de Chasee que está sentado no sofá e sai da casa.
Chegando na escola é recebida por Toby e suas amigas.
Sara à puxa para um abraço, dizendo:
- Bom dia, Meg!
- Bom dia, Sara. Olá, meninas.
Elas se cumprimentam com beijos no rosto e meio abraços.
Toby encara Megan, ele está com um caderno e caneta em mãos:
- Olá, Megan.
- Oi, Toby.
Carla olha para Megan e diz:
- Megan, o Toby está pegando as assinaturas de quem vai à praia.
- Devemos contar com você?
Megan olha para suas amigas que estão esperançosas:
- Meninas...
- Eu sabia! Você nunca cumpre com suas promessas!
Dina se altera e sai apressada pelo corredor.
Carla diz:
- Não se preocupe, ela ficará bem.
- Eu gostaria de ir, mas não posso. Tenho outro compromisso.
Toby pergunta:
- Então não devo pôr seu nome?
- Não. Não deve.
- Está bem. Tenho física agora. Nos vemos na segunda aula, meninas.
Toby se afasta, enquanto Dina, Sara e Megan entram em suas sala.


















A ESCOLHA DO LÍDERWhere stories live. Discover now