Ian: Bom dia, fantasma da sexta-feira. – Disse, parando no corredor, com a mochila nas costas – Pegou o plantão da noite? – Perguntou, estranhando.


Alfonso: Não, cheguei cedo demais. Não dormi bem, resolvi vir logo. – Ele deu de ombros – Cheguei cedo demais pra qualquer coisa, estou aqui. – Resumiu.


Ian: Ok. Escute, saideira, eu e você, hoje a noite. – Programou, apontando na direção do elevador.


Alfonso: Saideira de que exatamente? – Perguntou, exasperado.


Ian: Do mês, Alfonso. – Descartou, categórico – O mês está acabando, nós vamos sair. Você não precisa de uma justificativa pra tudo. É adulto, pode só sair e encher a cara. Senhor, da-me paciência. – Suspirou, saindo, então voltou – Se você sair escondido, puxo seu endereço no servidor e vou te buscar. – Avisou.


Alfonso: Escute. – Ian o olhou, de novo de saída – Que horas Anahí chega? – Ian sorriu, afetado.


Ian: Lá vai você de novo. – Disse, irônico.


Alfonso: Uma pergunta direta, você pode só dar uma resposta direta, sabia? – Apontou, afetado.


Ian: Geralmente, antes de todo mundo. Já deveria estar aqui. Se não está agora, deve estar na piscina. – Supôs, então o olhar brilhou de maldade – Ou pode ter passado por um tornado ao vir pra cá. Um raio pode ter atingido o carro. Uma arvore pode ter caído em cima. Você devia ir procurar, não? – Perguntou, com um sorriso debochado. Alfonso revirou os olhos.


Alfonso: Fazendo o que na piscina? – Ian ergueu a sobrancelha.


Ian: Tem cada uma... Eu vou pro meu plantão, que eu ganho mais. – Dispensou – Saideira, eu e você, não fuja. – Confirmou, antes de dar as costas, largando-o ali.


Alfonso pensou sozinho por um instante, então saiu, novamente com um enigma nas mãos que não conseguia decifrar. A piscina do hospital era muito similar a uma piscina de natação profissional, dividida com raias, sinalizada pelos metros de profundidade. Ficava no subsolo, abaixo do átrio, todo o pátio reservado a ela. Era dedicado principalmente para exercícios de fisioterapia e recuperação de traumas, após operações. Ele entrou, os passos ecoando no salão vazio. Tolice, porque ela estaria ali? Olhou em volta, e havia feito a volta, prestes a sair quando ouviu a voz dela, baixa, vindo de longe.


- Não. Já estou aqui. Em 15 minutos no máximo. Mande pra minha sala. – E encerrou.


Ele parou na porta, observando. Ela voltou na área dos vestiários, de maiô e touca pretos. Já estava molhada; devia ter saído da agua pra atender o telefone. Ele parou, optando pelo anonimato, os olhos vidrados no que via. Ela parou na beira da piscina, estalando pescoço pros dois lados e se esticou, os dedos alçando as pontas dos pés. Parecia em paz. Manteve a posição por um instante antes de se endireitar, mergulhando de ponta na agua em seguida, disparando nadando em direção ao extremo oposto da piscina.


Nadava de modo fluido, o corpo esguio se movendo em sincronia, algo que prendia os olhos dele. Ele ficou paralisado onde estava, parecendo... Encantado, hipnotizado, pela imagem tão simples. Ela alcançou o outro extremo em poucos instantes, tocando a parede da piscina e se virando em um movimento fluido, sem perder o ritmo, começando o caminho de volta. Se pegou imaginando como os cabelos longos reagindo a aquele exercício, o modo como se abririam preguiçosamente debaixo d'agua, formando uma mancha marrom acariciando a pele dela debaixo d'agua. Ele não percebeu quanto tempo ficou ali, de pé, paralisado, até se sobressaltar com o maldito alarme do celular dela, sinalizando tempo. Ela emergiu, tragando ar, e ele recuou um passo, se protegendo do olhar dela. Ela ainda ficou na agua por um momento, batendo os braços e pernas (regularizando os movimentos depois do exercício pra evitar câimbras ao sair da agua, ele reconheceu), e então se apoiou na borda da piscina, saindo com um salto leve, respingando agua. Só então ele saiu dali.

MientesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora