Capítulo 66

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Como ordenado, Anahí não teve noticias de Alfonso depois de dispensá-lo. O hospital voltou ao normal, assim como todo o resto, aparentemente.


Aparentemente, porque desde o momento em que ele saíra pela porta o cérebro dela, de uma forma irritante e persistente, alertava que ele voltara. 05 anos sem nem uma única palavra, e ela esbarrou com ele no pronto socorro.


Lembranças que há muito ela não visitava teimavam em vir a tona. Lembranças antigas, cheias de cor e sabor. Lembranças que pulsavam. Mas aquele Alfonso, o que lidara com ela pouco atrás, não era mais ele.


Falta vida. Alma. Faltava o ímpeto que sempre o fazia se encher de uma fúria genuína mediante as atitudes dela, aquela raiva prematura que a encantava justamente por não ser refreada. O cabelo estava diferente, um corte mais baixo, o modo de andar, de falar... Mas a maior alteração estava nos olhos. Não no semblante duro nem na aliança na mão, mas nos olhos. Haviam endurecido, esfriado. Este fora o preço da mentira dela, afinal.


Mas ainda era ele. Mesmo distante, ainda era a voz dele. Mesmo frio, ainda era o olhar dele. Ela parou, secando o cabelo de modo mecânico com uma toalha, o pensamento distante.


Arthur: Ei, amor. – Ela o olhou, saindo em choque dos pensamentos onde estivera – Soube que foi uma noite complicada.


Anahí: São as melhores que nós temos. – Ele ergueu as sobrancelhas pra ela, reprimindo, e ela deu de ombros.


Arthur: Alguma perda? – Confirmou, calçando os sapatos. Ela havia acabado de chegar mas ainda era manhã, e ele precisava trabalhar.


Anahí: Não no meu plantão, Artie. – Ele ergueu as mãos, aceitando.


Arthur: Ótimo. – Ela apertou o cabelo dentro da toalha, olhando-o nas mãos – Você está bem? – Perguntou, terminando de se aprontar.


Anahí: Sono não vai me fazer mal. – Dispensou, se levantando. Ele assentiu.


Arthur: Vou passar o almoço em conferencia hoje, então provavelmente não vou atender, caso você ligue. – Comentou, ignorando o fato de que ela nunca ligava.


Anahí: Estamos bem, certo, Artie? – Confirmou, voltando do banheiro com uma escova dentro dos fios. Ele pestanejou.


Arthur: Sim. – Respondeu, lentamente, observando-a. Tinha o olhar distante. – Aconteceu alguma coisa?


Anahí: Não. Digo, nós nos corrigimos nos últimos anos, não é? – Ele se aproximou, abraçando-a levemente – Estamos bem. Estáveis. Nem eu tive esperanças de que conseguíssemos ficar bem assim, você sabe, depois de tudo.


Arthur: Ei. Estamos muito bem. – Garantiu, o rosto tranquilo – Ficaremos melhor ainda depois de inaugurarmos o complexo oftalmológico que a minha linda esposa tanto quis. – Ele beijou a maxilar dela em um carinho sutil.


Foi um projeto de trabalho árduo, este, mas Arthur não economizou uma única noite de sono. Ela o quisera, antes do abalo no casamento, e era um presente que ele queria dar a ela, agora que estavam bem: Levou anos de reuniões cansativas, pautas para financiamento, alvarás de construção, importação de maquinas, contratação de profissionais... Mas estava pronto agora. As vias de ser inaugurado. A satisfação no olhar dela na única vez que ele a deixou visitar o lugar compensou o trabalho do tempo inteiro.


Anahí: Você me ama? – Perguntou, os olhos azuis insondáveis.


Arthur: Desde que eu acordo até a hora em que vou dormir. – Ele colocou o cabelo dela atrás da orelha – Você está agitada. Inquieta. O que houve?


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