3 | uma bela desconhecida

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DYLAN

RAIDEN CALLOWAY ERA UMA INCÓGNITA. Eu a vi pela primeira vez no primeiro ano do Ensino Médio, quando me mudei para a Crawford.

Ela estava sozinha, encostada na mureta do estacionamento, vestindo uma saia xadrez verde escura; meias calças rasgadas; jaqueta de couro e coturnos. Seus cabelos estavam bagunçados devido ao vento forte, a maquiagem dos olhos estava um pouco borrada e ela fumava um cigarro ao lado de uma placa que dizia "proibido fumar".

Acho que foi a partir daquele dia que eu meio que me rendi por ela.

Nós chegamos a fazer algumas aulas juntos durante os três primeiros anos de ensino médio, contudo nunca trocamos uma palavra sequer. Ela nunca pareceu estar de verdade nos lugares, apenas em presença, e por isso sempre tive curiosidade em saber o que se passava em sua cabeça.

É claro que dezenas de boatos circulavam pelos corredores, mas por achar que as pessoas são muito mais do que dizem sobre elas, nunca dei atenção a nenhum deles. Na verdade, existiam alguns fatos no meio desses boatos, como o de que Raiden era o tipo de garota que não dava a mínima para nada e só se metia em confusão. A sala de detenção já quase tinha o nome dela pregado à porta de tanto tempo que ela passava por lá. Mas fora o pouco que ela mostrava para o mundo, era praticamente impossível desvendá-la, e eu não podia negar o quanto era curioso a seu respeito.

Calloway era incrivelmente bonita, não existia um cara naquela escola que nunca tivesse sonhado em chamá-la para sair alguma vez, mas não chamava por puro medo. Inclusive o meu melhor amigo já tinha tido uma queda por ela no primeiro ano, e eu não o julgava, era difícil não ficar obcecado pelos olhos azuis que contrastavam perfeitamente com os cabelos escuros. Além do semblante sempre sério que a tornava um grande mistério.

Quando Chace Ecklund – um dos amigos mais próximos de Raiden – foi designado para ser meu parceiro de química nas aulas da Sra. Truman, no segundo dia de aula, confesso ter ficado um tanto quanto irritado. Ele era o maioral da escola, o capitão do time de futebol. Todos o adoravam. As garotas se jogavam aos pés dele. E, nada contra, mas eu preferia me manter longe de caras assim.

— E aí, cara?! Eu sou o Chace, muito prazer! — Ele estendeu a mão para mim quando a professora nos pediu para juntarmos as duplas.

— Dylan. — Apertei sua mão com um pouco de receio, temendo que aquela fosse alguma brincadeira que me faria sair da sala totalmente humilhado.

— Bom, Dylan, eu já te aviso que sou péssimo em química — disse num tom divertido. — Mas o treinador me deu uma dura ontem e disse que se eu tirar um F em química esse ano ele vai me cortar do time, então eu realmente preciso da sua ajuda nisso aqui. A Truman disse que você é o melhor da turma.

— Não é tão difícil quanto parece, é só decorar as fórmulas — Dei de ombros. — Posso te ajudar, se não for uma das pegadinhas que o time gosta de fazer com quem, ao contrário deles, é inteligente.

Qual é, eu não estava sendo paranoico, mas até aquele momento tudo o que eu sabia sobre ele era o que ouvia pelos corredores, não dava para confiar muito.

Ecklund deu risada com a minha fala, como se tivesse sido realmente engraçado, e enquanto ele se divertia eu o olhava com as sobrancelhas erguidas, esperando até que finalmente parasse de rir.

— Relaxa, Dylan. Não é nenhuma pegadinha, eu sou realmente um terror em química — garantiu, contendo o riso.

Assenti, confiando em sua palavra, e relaxei um pouco.

Chace acabou se mostrando bem legal durante a aula, e eu preciso admitir que comecei a entender um pouco do porquê de todos gostarem dele; o cara era divertido e, ao contrário da maioria dos jogadores, não tinha aquele ar de superior e nem agia como um babaca. No fim do período eu já estava mais confortável com a situação e tinha entendido que ele realmente precisava da minha ajuda.

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