1 | quebrando regras

4K 425 340
                                    

RAIDEN

O ANO ERA 1994. Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul. A morte de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana e ídolo da maioria dos jovens da época, abalou uma geração inteira. A Copa do Mundo FIFA foi sediada nos Estados Unidos. E as mãos de Miranda e Brooke me puxavam para frente enquanto nós atravessávamos a pista de dança lotada indo em direção ao bar.

Ao chegarmos no local, Miranda se debruçou sobre o balcão e gritou "tequila" para o barman. O homem assentiu e prontamente dispôs três copos pequenos de vidro na nossa frente, encheu cada um com o líquido amadeirado e se afastou rapidamente, pronto para atender o próximo cliente. Nós os pegamos e formamos uma pequena roda ao lado do bar, nos preparando para virar a bebida em nossas gargantas.

— Ao nosso último dia de liberdade! — Brooke gritou por cima da música.

Ao nosso último dia de liberdade! — Miranda repetiu.

— Meu Deus, vocês são tão patéticas. — Revirei os olhos, rindo diante da cena.

— E você é tão amarga! — Brooke imitou meu gesto, nos arrancando gargalhadas.

Então nós brindamos e bebemos.

O líquido desceu rasgando pela minha garganta, mas a sensação de queimação já me era tão familiar que não fiz nenhuma careta, apenas devolvi o copo ao balcão e fechei os olhos enquanto balançava a cabeça ao som da música que tocava.

— Nem acredito que amanhã já vamos voltar para aquele inferno de escola. — Ouvi Miranda dizer e abri os olhos para focá-la.

— Eu estou animada, na verdade. É o nosso último ano, meninas — Brooke argumentou, com seu tom doce e entusiasmado de sempre. — E é a última chance de a Raiden parar de ser uma vadia e arrumar um par pro baile. — Sorriu ainda mais com a última frase.

Como resposta, apenas levantei o dedo do meio para a ruiva e saí em direção a pista de dança outra vez, sendo seguida por elas. As duas adoravam me alfinetar pelo fato de eu ser desprendida e detestar relacionamentos e todo o clichê que os acompanhava. Eles não foram feitos para mim, o que eu podia fazer?!

Os planos para aquela noite eram me divertir com o meu pequeno grupo de amigos, que além delas também incluía Chace Ecklund e Seth Montgomery, e beber como se não houvesse amanhã, aproveitando ao máximo o último dia de férias sem dar a mínima para a possível ressaca que eu teria ao acordar.

Os dois garotos nos esperavam no mesmo ponto da pista de dança em que estávamos anteriormente. Seth segurava uma cerveja e eu me aproximei dele, a arranquei de sua mão e dei um longo gole na bebida.

Sua pele negra retinta combinava perfeitamente com o suéter polo listrado em amarelo e azul marinho que ele usava. Seus olhos castanhos escuros, quase pretos, me fitaram com desaprovação, mas ele não disse nada, apenas comprimiu os lábios grossos e me assistiu beber, esperando que eu o devolvesse a garrafa.

Ao seu lado, Chace bebia uma cerveja também, vestindo uma camisa de botões azul clara com as mangas dobradas e os primeiros botões abertos de maneira despojada. Sua pele era clara e ele tinha cabelos castanhos ondulados em um corte indefinido, que crescia de um jeito bonito para todos os lados.

Paradise City, do Guns N' Roses, começou a tocar e nós movemos os nossos corpos no ritmo do baixo e da guitarra. Fechei meus olhos outra vez e me deixei levar pelo momento, sentindo as ondas sonoras guiarem o meu corpo em um ritmo agitado e eufórico.

As noites em Clarksville não costumavam ser das melhores, exceto pela Hunter, a única boate que valia a pena por lá. Nós morávamos em uma cidade pequena e pacata, cercada por lagos e repleta de pessoas conservadoras, que sempre adoravam cuidar da vida alheia.

LIKE A STORM | DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora