EPÍLOGO

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Ela...

Naquela noite mesma noite descobri quem era. No breu da cela em que fui deixada, quando pousou na fenda entre as rochas no alto, seus olhos refletiam o pouco da luz que a noite estrelada sem Mahina no céu fornecia. O farfalhar de suas asas ecoou pelo espaço quando ela desceu até mim. Eu mal conseguia ver sua silhueta, mas conseguia sentir sua presença e saber que se aproximava pelo leve barulho que suas garras faziam quando encontravam o chão a cada passo que dava. Por algum motivo não tive o medo que Amroth colocou em mim. Tentei encontrar novamente seus olhos na escuridão, que de relance brilharam mais alto do que eu esperava. Aquela ave era enorme. Eu estava sentada no chão e seus olhos estavam na altura dos meus.

Ela sentia o cheiro do meu sangue. Cobri com cuidado, e sem fazer movimentos bruscos, meu latejante dedo que teve a unha arrancada pelo elfo e só torcia para que ela não me comesse, suplicando mentalmente por ajuda. Senti seu bico frio em minhas mãos, mas ela não insistiu em achar o dedo que ardia no contato com a mão que o protegia. Algo me dizia que aquele pássaro me olhava curioso, me fazendo pensar no porque Amroth a fez soar tão cruel. Ou será que ela não estava com fome e por isso não me atacou? Ouvi novamente o som de suas unhas na pedra e em seguida o bater de suas asas.

Nessa noite recebi a visita "dela", e foi completamente diferente do que eu imaginava.

	Nessa noite recebi a visita "dela", e foi completamente diferente do que eu imaginava

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Acordei com um curto chirriar. Tentei olhar para o alto, de onde veio o som, e vi seu vulto se distanciando. Em poucos segundos meu corpo travou e a barreira se desfez. Amroth estava ali novamente. Ele coçava o queixo enquanto me analisava. Provavelmente tentando descobrir se a ave havia me feito de petisco na noite anterior. Para a infelicidade dele foi um encontro bem amigável, mas ele jamais saberia disso. Vi-o se afastando e a barreira surgiu novamente. Será que desistiu?

Não recebi água ou comida. Talvez fosse esse o castigo da vez, além de ter me largado paralisada.

Durante a tarde houve uma longa nevasca. O vento entrava fortemente pela fresta no alto, uivando com vigor. Por um momento acreditei que fossem lobos. Por entre as rochas, a neve invadia o local e vinha em minha direção. Me perguntei algumas vezes se Amroth sabia sobre a tempestade ou se algum deles que a estava causando, porque não me pareceu coincidência ficar paralisada exatamente no fluxo do vento, não conseguindo sequer encolher-me ou proteger-me daquele frio direto. Fechei os olhos e tentei pensar em qualquer outra coisa. Morthond parecia muito confortável no meio do gelo, talvez eu também devesse... Tentei ao longo do dia me concentrar em meus poderes - quando o frio não falava mais alto - e falhei ridiculamente. Eu não sabia usá-los, fato.

Quando a noite caiu, a tempestade de neve estava mais branda, mas a temperatura estava tão baixa quanto. Logo, o muro mágico caiu e vi o elfo se aproximando com aquele mesmo alicate em mãos. Será que teria sido melhor ter meu dedo comido a outra unha arrancada? Talvez eu descobrisse logo...

- Acho que uma carne fresquinha será mais atrativa, não é? - Com seu sorriso diabólico no rosto, pegou minha mão e puxou vagarosamente outra unha. Eu via o prazer em sua face ao ver minha dor. E era impossível não gritar, mesmo tentando com todas as minhas forças não dar a ele o que mais queria: meu sofrimento.

Silver Leaves - O Dragão Negro (COMPLETO - SEM REVISÃO)Where stories live. Discover now