CAPÍTULO XX - Única Parte

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Lucius estava completamente desnorteado, com a vista embaçada e até um pouco enjoado. Sentia frio. Muito frio. Olhou ao redor e tudo era muito branco, percebeu estar no meio da neve. Ao seu lado viu o que parecia ser Amroth sentando-se no chão.

- É normal sentir-se mal após ser transportado dessa maneira. - a voz do elfo soou fraca, completamente diferente do que soava na conversa minutos antes.

O rapaz apoiou-se nos joelhos para não cair e concentrou-se por alguns segundos. Respirando fundo e lentamente.

- Onde ela está? - ele olhou na direção de Amroth, fuzilando-o com o olhar, já enxergando-o nitidamente. O elfo abria um pequeno frasco de vidro e vertia todo seu conteúdo.

- De novo com essa pergunta? - ele guardou o recipiente de volta no bolso e vagarosamente pôs-se de pé - Vai vê-la quando Morthond quiser que você a veja. Vou levá-lo até ele. - suspirou de uma maneira como quem recompunha-se.

"Ele não usou essa técnica para trazer Sallah, porque pelo visto fica extremamente esgotado", Lucius concluiu. Eles andaram pouco até chegar numa imensa caverna de pedras e gelo. O rapaz arrependeu-se por um instante por ter caído na conversa de Amroth. Não pegou seu equipamento ou espada. Saiu tão sem pensar de seu quarto que sequer calçou sapatos e os pés descalços na neve gelavam-lhe a alma. Sentiu estar caminhando para sua sentença, só faltavam as algemas. A aura daquele lugar era pesada, com uma energia muito ruim. Fazia quase um ciclo que a parceira fora raptada. Entristeceu-se só de imaginar o que aquele ar cruel poderia ter causado a ela. Passaram por um grande salão e a sua direita o jovem dragão notou uma cela com barras de ferro, mas Sallah não estava ali. Lucius torceu para ela não ter ficado muito tempo naquele lugar. Algumas fendas pelo alto teto da caverna forneciam a iluminação de Mahina pontualmente, mantendo outras áreas do salão completamente escuras.

Morthond estava sentado em seu trono, bem abaixo de um desses pontos de luz, e observava os dois chegando. Seguia Lucius com o olhar como um predador acompanha sua presa, prestes a dar o bote. O visitante sentia a sede por sangue do Dragão Negro, o que o deixou atormentado. Já cruzara com bandidos, ladrões e até com assassinos - principalmente na sua época de exército em Algathar -, mas nunca nenhum deles emanou uma energia como essa. Amroth fez uma reverência respeitosa e saiu sem dar as costas a seu governante, enquanto Lucius não despregava o olhar de Morthond. O jovem estava em estado de alerta. Seus instintos gritavam lhe dizendo que ele não era páreo para o dragão a sua frente, porém só sairia dali com Sallah, ou morto.

- Somente um tolo viria sozinho enfrentar um dragão... - Morthond quebrou o silêncio.

- Não tive muita escolha... O que quer comigo? - Lucius rosnou entre dentes.

- Quem falou que quero algo com você? - o homem ficou de pé - Você eu quero morto! Estar aqui é só um incentivo para conseguir o que realmente quero... - ele gesticulou com a mão direita e, pouco ao lado dele, a barreira negra do local que Sallah estava caiu como um véu, revelando a prisioneira desacordada, suspensa pelos pulsos.

O rapaz arregalou os olhos ao vê-la. Havia sangue escorrido de suas mãos, pulsos e tornozelos. Os cabelos brancos estavam escuros - sujos - e desgrenhados, com algumas mechas jogadas para frente que cobriam-lhe a face. Quis correr até ela, mas seu corpo travou. Amroth o paralisou com seu feitiço.

- SALLAH! - ele gritou fazendo força para se mover. A moça continuava com a cabeça baixa - O que fez com ela?? - vociferava para o dragão.

- Apenas pequenos incentivos para me ensinar a usar a pedra... - o homem deu de ombros, como se não tivesse feito nada demais - Mas ela é teimosa... Você é a pessoa mais importante para ela, sendo assim é também minha última cartada. - sorriu largamente.

Silver Leaves - O Dragão Negro (COMPLETO - SEM REVISÃO)Where stories live. Discover now