24- My Uncertainties

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-É.. E-Eu queria saber do.. Do meu celular. -Respirei fundo. -Estava te procurando por conta do..

-Sim! -Me cortou e abriu a boca aos poucos, até se formar em um meio sorriso. -Seu celular esta comigo. Venha. -Chris entrou de novo no escritório e eu fui logo atrás dele, reparando então no quanto ali era arrumado.

Era um quarto pequeno, porém todo o espaço havia sido muito bem utilizado. Como a porta era no canto e não no meio, facilitava muito. As paredes, lotadas de prateleiras com os mais diversos livros, desde o chão ao teto, menos uma, a do lado da porta. Ela era branca e não continha nenhum quadro.

Franzi o cenho e continuei a observar o local enquanto Chris procurava meu celular na escrivaninha. Bem, no centro também continha uma escrivaninha. Sobre ela, um notebook, mais livros e uma papelada. Porta retratos, e até um globo. Olhei para cima e vi um projetor, entendo então o motivo da parede branca sem nada.

-Aqui. -Fechou a gaveta e mesmo o mínimo barulho, por ser o único ali, me fez encara-lo. -Pode fazer o que for, até mesmo entrar em redes sociais, já que consegui te colocar off-line nelas o tempo todo. -Riu. -Só não conseguirá falar com ninguém. -Piscou e me entregou o celular.

-Obrigada, Chris. -Disse e já ia saindo quando lembrei de algo, a adega. Eu era curiosa demais para deixar passar. -Hm, Christopher? -O chamei, virando e voltando a encara-lo.

-Sim?

-O que tem naquela primeira escada?

-Ah, é uma adega!

-Posso ir até lá? -Perguntei.

-Claro, mas antes eu tenho que pegar a chave e me desculpe, mas eu não vou poder ir com você. Estou exausto! -Disse e eu sorri vitoriosa.

-Tudo bem. Depois eu te entrego a chave. -Comecei a ouvir gemidos que pareciam ser abafados. Vinham do andar de cima. E um ranger na parede e chão chegavam a me incomodar. Nem era preciso pensar muito. O que estava acontecendo ali era mais do que óbvio. -É sempre assim? -Perguntei e Chris riu.

-Vero só não é mais ninfomaníaca do que Lauren. -Ri também. Lauren parecia estar sempre animada e disposta quando se tratava de sexo. -Espere aqui. -Ele voltou no escritório e depois de destrancar uma das gavetas, sim, possuía uma tranca, ele voltou com uma daquelas chaves antigas, que parecia ser de ouro e bem antiga, porém estava totalmente limpa e me entregou. -Guarde-a e me entregue amanhã assim quando me ver. -Assenti. -Boa noite, Camila.

E Chris então apagou a luz do escritório, o trancou e me deixou ali no escuro, subindo as escadas em seguida. Encarei meu celular em uma mão e a chave da tal adega na outra. Para precisar ser trancada, a importância deveria ser imensa. Me perguntei se não estava invadindo o espaço de Lauren se entrasse ali, mas aí lembrei das inúmeras vezes que ela entrou na minha casa sem ser convidada. Eu podia e iria descontar.

Iluminei meu caminho com o celular e deixei o chinelo ao lado da escada para não fazer tanto barulho. Andei calmamente, com medo de ser flagra, mesmo sabendo que Lucy e Vero nunca me veriam ali, já que estavam literalmente, ocupadíssimas uma com a outra, fazendo algo melhor do que se preocupar em me achar pela casa.

Iluminei e encarei a pequena escada. Na parede, tochas e lampiões de enfeite. No final, um escudo e duas espadas de prata. Desci a escada e prestei atenção nas espadas. Em ambas, assim como a faca, possuíam o cabo de ônix, e as letras "L" e "M" gravadas com ouro.

Coloquei a chave na fechadura e abri a porta calmamente. Engoli em seco. Não sabia mais o que poderia esperar de Lauren. Minha boca foi ao chão assim que entrei no cômodo e tateei a parede, achando o interruptor e rapidamente acendendo a luz.

A luz era vermelha. Do tipo que se coloca em quartos de fotografia. E bem, ali era praticamente um quarto de fotografia. Agora pude entender por que Veronica disse aquilo, que as adegas de Lauren era tudo para ela, e literalmente, sua vida inteira.

Em um canto, uma parede com buracos, lotada de vinhos muito bem encaixados. Em cima deles, um vidro colado na parede, com vodka, whisky, tequila, run, cachaça, conhaque.. E taças em uma bandeja. Para ser específica, deviam contar cinco pares totalmente diferentes. Lindos.

Na parede acima dos vinhos e bebidas, três discos de vinil. Não eram como discos comuns. Eram sim discos, porém cada um era contornado com fotos pequenas, antigas, do tipo que só é tirada assim com máquinas fotográficas do século passado. Me aproximei dos discos e de cara, reconheci quem era nas fotos. Eram todas, em ambos os três, da Lana Del Rey, isso não me surpreendeu nem um pouco.

Engoli em seco e levei a mão a boca para não vomitar ali mesmo com o que vi. Como ela conseguia tirar fotos disso? Era como se ela guardasse o antes e o depois de cada morte, para se deslumbrar depois as olhando, como troféus. Mais de vinte garotas. Sem contar nos sutiãs que deveriam ser de cada uma, pendurados ao lado das fotos que também estavam penduradas em uma linha de barbante. As garotas, todas nuas, com cortes nos mesmos lugares. Jugular, braço, barriga, joelho. Sem dúvida, morreram depois de sofrer muito e por falta de sangue.

Senti que ia vomitar e sai correndo do cômodo no mesmo segundo. Puxei a porta tão rápido e de uma forma tão bruta que pude ouvir o estrondo de quando ela provavelmente bateu na parede. Corri subindo a escada e entrei no toalete já desesperada, minha sorte foi que a privada era bem em frente a porta.

Vomitei por nojo, desgosto. Nojo dela, de mim. Desgosto de ambas. Me senti patética sabendo que me deixei levar por alguém como ela e por também saber que agora não teria mais volta. E não adiantava. Foda-se o que Veronica pensava, para mim, Lauren era sim a porra de uma psicopata. Pessoas normais, mesmo com problemas pessoais, não fazem isso. "Jauregui" era anormal, não tinha outra explicação, aquilo sequer tinha explicação.

-Então esse é o meu destino? Amar uma assassina profissional? -Murmurei para ninguém enquanto fungava, parando de vomitar e já sentindo as lágrimas grossas tomarem o meu rosto.

-Seu destino no momento é apenas dormir. -Uma voz masculina preencheu o ambiente e eu coloquei o cotovelo no canto da privada, apoiando minha cabeça em minha mão no mesmo instante. -Eu não devia ter te deixado entrar lá. Olha o seu estado.. -Chris se aproximou e deu descarga na privada, a tampando em seguida e me obrigando a erguer a cabeça para olha-lo. -Venha, te levo ao quarto. -Depois que finalmente me levantei, apoiando na parede e na pia, me senti tonta, como se tivesse bebido a noite inteira. Percebendo isso, ele passou meu braço por seu pescoço, e agarrou em minhas pernas, me erguendo e me carregando para provavelmente o quarto onde eu ficaria.

Enquanto Chris me carregava, apesar de ter a visão turva por conta das lágrimas, pude jurar ter visto Lucy e Vero conversando, ou praticamente discutindo sobre algo. Não dei importância e continuei na minha bolha, com minhas incertezas.

Burning Desire BabyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora