Gênio das sombras

Começar do início
                                    

Uma das mãos da sombra cravou as unhas no chão, mas isso não impedia o avanço da criatura.

— Clarão — pediu um sussurro agonizante — atire. Rápido, atire!

O que seria aquela estranha criatura que o chamava pelo nome? Ele não tinha ideia, mas seguiu seu conselho e atirou.

A sombra gemeu numa mistura de rugido e ganido.

— Liberte-me! — a voz de uma pessoa soou e a sombra se contorceu no chão, expandindo-se e contraindo-se até que expeliu como um excremento o corpo de um rapaz coberto por uma gosma negra. Ele se arrastou pelo chão e a sombra, agora separada dele, voou na direção de Clarão revelando seu olhos que queimavam como fornalhas de um fogo amarelo intenso. Suas mãos viraram garras longas e uma boca horrível mostrava dentes escuros e pontiagudos. Clarão tentou atingi-la duas vezes, mas ela se movia com velocidade e plasticidade. Ao menos conseguiu afastá-la de si. Ela seguiu para a outra câmara, ainda se transformando. Havia assumido a forma de uma enguia com uma dúzia de braços e pernas. A sombra viu os dois Vorn-Nasca espiando e escalou para o teto e correu na direção deles. Antes que pudessem agir, a sombra saltou sobre um deles envolvendo-o numa penumbra escura. Ele protestava e gritava enquanto era engolido.

Lá atrás, Clarão reconheceu o rapaz. Era o que chamavam de Balkan. A lateral de seu rosto e parte do pescoço estavam muito queimados, ainda exalando fumaça.

— Pre..precisamos fugir! — conseguiu dizer. — O Gor-Tusik está forte demais!

— Gor-tu, o quê?

— Aquele gênio. Usei-o por um tempo longo demais e perdi o controle. Foi vestindo sua pele que consegui escapar daquela turba de menodrols.

Clarão colocou a mão na cabeça e fraquejou, caindo de joelhos. — Não podemos. Tenho que desligar essa coisa a qualquer custo!

— Por que perder sua vida?

— Preciso libertar meu povo e o seu. Tenho que fazer logo, pois resistir ao zumbido está me deixando louco! — Rangeu os dentes e se esforçou para ficar novamente de pé.

— Que zumbido?

— O que está na minha cabeça... Vamos, consegue ficar de pé? — ofereceu a mão ao rapaz. — É Balkan, não é mesmo?

— Sim, não fomos propriamente apresentados. Sou Ian Balkan.

— Clarão Solar Quatorze.

Enquanto isso, do outro lado do corredor, a luta terminou com a vitória sangrenta do Gor-Tusik.

— Vamos então? — indagou Clarão.

— Estou muita fraco. Não vai dar para capturá-lo.

— Então, vamos destruí-lo. Pegue isto. — Ofereceu uma pistola. — Sabe usar?

— Tive umas duas semanas de treinamento antes de entrar para o exército.

Clarão recarregou seu rifle e deu uma espiadela no corredor. Decidiu avançar, seguindo lentamente. Balkan o seguiu sentindo zonzo e com um forte ardor no rosto, pescoço e outras partes queimadas do corpo.

— Será difícil vê-lo, se decidir se esconder. — Avisou o genista enquanto pensava como tinha escapado por pouco de ter se tornado um escravo-hospedeiro para o Gor-Tusik. Tomou nota mental de nunca mais tentar tomar para si um gênio das sombras. Seria melhor destruí-los.

Do outro lado, encontraram um corpo destroçado de um Vorn-Nasca, os braços arrancados e o restante todo retorcido. Clarão olhou com atenção procurando a criatura. Então, voltou-se para o outro Vorn-Nasca que jazia paralisado com a adaga na garganta. Removeu sua placa peitoral do Vorn-Nasca.

— Fique de olho — pediu a Balkan, enquanto se concentrava para eliminar o Vorn-Nasca numa manobra rápida. Retirou a adaga, percebendo que o Vorn-Nasca reagiu, abrindo os olhos injetados olhando-o com horror, mas antes que fizesse algo, cravou-a no coração. Estaria acabado? Retirou a adaga e observou. Cutucou o rosto com a ponta da adaga, mas não houve reações subsequentes.

— Acho que o eliminei de vez.

Suspeitou que a outra carcaça pudesse estar se fingindo de morta para livrar-se do Gor-Tusik. Foi até ele, mas quando Clarão pegou uma das fivelas que prendia sua placa peitoral, o Vorn-Nasca abriu seu único olho restante e disse — Não me mate. Eu posso... ajudá-los.

— Ajudar-nos, você diz! — retrucou Balkan.

— Sim, posso mostrar um caminho para que vocês escapem com vida.

— Isso não me interessa. — retrucou o menodrol. Mas Balkan quase disse em voz alta, "Mas me interessa!"

— Diga o que quer. Eu faço, juro que faço.

— Quero que nos diga como desligar o controlador de menodrols.

— Sim, sim, posso fazer isso.

— Então diga.

— Seria muito difícil explicar. Preciso levá-los até o local e...

Balkan interrompeu-o — Não é óbvio que está nos enrolando? Mentindo para salvar sua pele. Talvez, levar-nos para uma armadilha.

Clarão ponderou e antes que o Vorn-Nasca voltasse a falar, cravou a adaga em seu pescoço.

— Você tem razão. — Tirou a placa peitoral e deu um segundo golpe no coração. O Vorn-Nasca estrebuchou e depois ficou inerte.

— Vamos. — Clarão levantou-se e limpou a adaga. — Agora, até o final.

A Queda de DurkheimOnde histórias criam vida. Descubra agora