Butterfly Effect

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Como o esperado não é fácil ser uma pessoa sem lembranças.

No entanto quando você passa da fase da negação e aceita o fato de que jamais vai se lembrar de quem você era, o dia a dia se torna mais interessante.

Interessante porque a cada dia você descobre um pequeno traço da sua própria personalidade, algo que te fez ser você ou que pelo menos faz parte de quem você é agora.

Ao longo desse tempo, percebi um traço específico sobre minha personalidade: sou uma pessoa muito positiva quando o assunto é o futuro.

Se estamos bem, imagino que as coisas ficarão melhores. E se piorarem, ironicamente, é aí que realmente acredito que a má fase vai ter um fim.

Quando soube que meu diário de meu não tinha nada, de primeira obviamente, fiquei em choque, mas depois quando pensei melhor no assunto acabou sendo um alivio. Todas as mil e uma divagações e dúvidas acerca do caderno simplesmente sumiram uma vez que eu não era o dono dele e tinha zero responsabilidade com o que estava escrito ali. Sem falar que o diário em si não era de muita ajuda uma vez que eu não o entendia, não me lembrava e nem me identificava com o que estava escrito ali. Então era menos uma parte confusa da minha antiga vida da qual eu não me recordava que se foi embora.

Em contrapartida com meu choque momentâneo, a felicidade de Cold quando achou o caderno acabou fazendo valer a pena eu ter achado o diário, mesmo que ele não me pertencesse e de certa forma eu tenha perdido tempo tentando encaixa-lo em minha vida.

Bem, acho que não existiam palavras suficientes para Cold expressar como ele realmente se sentia quando achou aquele livreto de capa preta, mas mesmo assim ele tentou formular em palavras pelos dias que se seguiram.

E fazendo jus ao meu traço de personalidade que sempre esperava que as coisas iriam melhorar, não pude evitar ficar feliz ao notar que de certa forma as coisas estão sim caminhando para melhor.

As enfermeiras aparentavam estar um pouco tensas, mas não era como se elas nos confidenciassem alguma coisa e como nada nos tirou de nossa rotina, eu e os rapazes simplesmente ignoramos a curiosidade sobre o que quer que essas mulheres tenham.

A cada dia que se passa eu lido melhor com a questão da culpa. Ela não sumiu e nem acredito que vá algum dia, mas penso cada vez menos e a imagem da enfermeira não transtorna mais meus sonhos.

Não houve nenhum desentendimento desde a briga de Cold e Thunder.

Até porque no momento, Cold anda muito desligado pois concentra toda sua atenção no diário de TK.

Force continua o mesmo garoto gentil de sempre, por mais que agora ele esteja de certa forma 'viciado' em brincadeiras infantis.

A questão é que há alguns dias Force nos contou que teve mais um daqueles nossos sonhos únicos (para não dizer loucos) mas nesse aconteceu algo especial: ele era uma criança! E durante todo o sonho ele brincou com outras crianças que estavam lá.

Desde então ele não para de nos questionar sobre cantigas de roda, brincadeiras e de como deveria ser a nossa vida quando éramos pequenos.

Em minha percepção é apenas a reação inocente de um garoto que sente falta da liberdade, de respirar ar puro. Mas como nada é perfeito, Thunder (que já anda impaciente, acredito eu pelo fato de Cold não estar lhe dando muita atenção) está subindo pelas paredes.

'Se ele me perguntar mais alguma coisa sobre cantiga de roda eu juro por Deus que jogo um raio nele!' resmungou ao meu lado assim que me sentei para tomar o café da manhã, e tudo o que pude matutar desde então é que espero que ele não pense demais nisso, pois não acho que Force vai reagir bem se o escutar.

GRAVITY                                                         [CONCLUÍDA ✓]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora