— Alguns de meus professores em Voln estudaram lá.

— Eu não tive sorte quanto aos estudos. Completei apenas o ciclo elementar. Opção do meu pai. A revolução era para trazer igualdade, mas acho que ainda seria preciso dez revoluções para chegar a isto.

A opção do pai de Skeniev era muito comum entre a classe operária, pois trazia mais renda para casa, mais cedo.

— É verdade que há desigualdade aqui em Durkheim, mas conheci alguns estudantes estrangeiros que pensam que nosso país é o paraíso sobre a terra. Eles dizem que não sabemos o que é pobreza ou miséria de verdade.

— E você acha que deveríamos agradecer o estado por isto?

— Não acho nada... apenas sei que fiz uma grande besteira libertando aquele Yrkun-Nasca. Algo que não sei se poderei consertar.

— É, você ferrou o pobre Ilya.

— Ele está até bem... Fico imaginando o que aquele monstro possa estar fazendo numa hora destas. Belo genista que sou... Certamente serei expulso da ordem se descobrirem o que fiz.

— Hoy, que cara é essa, hã Gregorvich? — o soldado indagou.

— Vamos ter que passar uns dias num hotel.

— Conheço um bom lugar — disse Halle.

— Por que vocês não vão em frente? Eu prefiro ficar aqui, fumar e pensar mais um pouco. — sugeriu Skeniev.

A roupa de Ilya remexeu-se e a cabeça de Urguda despontou em meio às dobras do cachecol. — Fumo, você disse? Puxa, como preciso disso.

Skeniev sentiu asco ao imaginar aquela coisa-lagosta fumando na mesma piteira que ele. Mas deu com os ombros e sorriu... — Por que não? — E ofereceu o fumo à criaturinha.

Ilya sentou-se ao lado de Skeniev e Urguda esticou o pescoço de modo que sua cabeça e boca ficassem próximas da boca de Ilya. Quem olhasse de longe teria a impressão de quem fumava era o rapaz.

— Vamos na frente — disse Halle a Balkan. — Há um assunto que gostaria de discutir com você.

Balkan levantou-se batendo a poeira das mãos. Halle indicou um antigo prédio de quatro andares com acabamento em madeira e telhado escuro.

— O hotel é ali. Eu vou providenciar dois quartos.

A dupla se afastou e Halle começou — Sabe Ian, posso chamá-lo assim?

Balkan deu com os ombros.

— Fiquei muito impressionado com o que tem feito ultimamente. Já nos livrou de problemas três vezes.

— É? Eu me considero um tanto desastrado. Ainda tenho muito o que aprender, na verdade, fico mais tempo pensando em minhas falhas do que nos acertos. Como no caso do Yrkun-Nasca.

— É... — ponderou Halle — Capturá-lo ainda será um grande problema.

— Pensa que é possível?

— Sim, na verdade, é sobre isso que queria lhe falar. Você já ouviu falar na ordem dos caçadores, certo?

— Sim, por que?

— Bem, não há outro jeito de dizer isto, mas eu sou um membro desta ordem e penso que você tem tudo para ser um grande caçador.

Balkan torceu o rosto espantado com aquela ideia — Eu, caçador? Mas eu sou um genista do estado, entende?

— Será que ainda é mesmo? Afinal, um desertor é um desertor. Sem mencionar a cagada que você fez libertando aquele monstro... Dificilmente passará sem alguma punição severa.

A Queda de DurkheimDove le storie prendono vita. Scoprilo ora