O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]

CAPÍTULO 17 - FEITIÇOS E FINAIS

- Não se entusiasmem muito com os desenhos, na frente dele...

- Ora! E por que não? – ela replicou em sussurros.

- Ele fica mau-humorado porque só sabe desenhar esses rabiscos de feitiços.

- E quem fez esses? – ela apontou para o teto discretamente.

- Eu.

Os dois se entreolharam sorrindo e voltaram suas atenções para Cornélio, que exclamava:

- Radames vou tirar-lo do móvel e passá-lo para um outro objeto! – Cornélio começou a andar de um lado para outro - Um anel, quem sabe. Daí colocamos no dedo de Dinorah – ele correu até ela e agarrou sua mão – fingindo que é a aliança de noivado!

- Sim! – Radames berrou – Eu gostaria de ficar nesses dedos tão sujos de geleia!

- De novo esse noivado!- Dinorah exclamou ao mesmo tempo.

- Isso significa que teria de continuar escondendo Radames – Valentim disse.

- Eu já cansei de ficar escondido – o demônio murmurou, choroso.

Cornélio brandiu a bengala:

- Mas esse peixeiro de uma figa deve tê-las avisado sobre nós. Nunca vi uma Bruxa-Alva tão besta!

- Peixeiro? – Valentim perguntou.

Cornélio e Dinorah contaram sobre o ataque do peixeiro-bruxo ao que mestre Valentim replicou:

- Se as Bruxas-Alvas estão sendo informadas por ele, vocês deviam é dar um jeito de mandar Radames para longe.

- Não! – Radames, Dinorah e Anastácia exclamaram.

- Acho que Valentim tem razão – Ícaro opinou.

Mestre Valentim, que parecia bastante dado a divagações desde que se tornara tão glorioso, murmurou:

– Acho que tive uma ideia!

- Graças aos sacis-marítimos do Império Amarelo! – Radames exclamou – espero que seja uma ideia que envolva a minha liberdade! – e ele olhou com raiva para Cornélio.

- Meu navio para a Ilha Gloriosa sai daqui a pouquíssimo tempo do dique. Já estou atrasado. Como vocês, ou melhor, como você, Cornélio, bem sabe, apenas Bruxos da Glória podem ir para esse lugar encantado, onde todo o nosso passado terrível, carregado de infâmia e sofrimentos indizíveis, será esquecido entre conversas filosóficas e estoque ilimitado de água de coco e camarão no espeto.

- Sei, sei... – Cornélio respondeu, impaciente, talvez porque seu clã não tivesse tal recompensa.

- Pois então! Liberte Radames e eu o levarei para a Ilha Gloriosa comigo! As Bruxas-Alvas vão, é claro, sentir seu poder assim que ele estiver fora do móvel e nos perseguir, mas se corrermos, chegaremos primeiro ao navio e embarcaremos, Radames e eu!

- Mas eu não quero ir...- o demônio choramingou – Quero ficar com a Diná e ainda não pude testar o talento de contar histórias de Avelã e só Bruxos da Glória podem ir e vou ficar tão deslocado...

- Eu não quero que Radames vá! – Dinorah correu para abraçar o móvel com os olhos cheios d'água, enquanto o próprio demônio desatava a chorar.

Nesse momento várias coisas aconteceram. Um barulho agudo de vento forte fez todos se sobressaltarem, a porta se escancarou e um saci muito velho com uma barba branca que ia até os joelhos pulou para dentro indo cair no colo de Ícaro berrando "As Bruxas-Alvas estão na cidadeeeee!!", Cornélio e Valentim trocaram um olhar e algumas palavras que os outros não perceberam e o bruxo mais novo exclamou:

- Não temos saída! A Ilha Gloriosa é nossa única chance! – e empurrou Ícaro, Dinorah, Anastácia, Valentim e o saci para fora – Me encontrem lá embaixo! Vou libertar Radames.

Ícaro tropeçou no saci e rolou escada abaixo. Anastácia e mestre Valentim correram para ajudá-lo e Dinorah só teve tempo de ouvir Cornélio murmurar o feitiço antes de fechar a porta na sua cara:

- "Feitiço feito em noite de maio,

Um belo acerto que caiu como um raio,

Produto de bruxo tão poderoso,

Esqueça o domínio, mostre seu rosto,

Feitiço grande,

Feitiço gracioso,

Feitiço feito,

Feitiço desfeito,

Feitiço marcado,

Feitiço acabado!"

***

PRÓXIMO CAPÍTULO: 13/02/2020

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um beijo e um queijo

Andréa Romão

www.andrearomao.com