CAPÍTULO 20 - SUSPIROS E SURPRESAS

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Não houve resposta e nem ela poderia esperar por uma. Mas no fundo, no fundo, Dinorah imaginou que ouviria o barulho de mil explosões e veria no céu as estrelas formando uma mensagem que dissesse "Adeus, Diná!". Mas nada disso aconteceu.

O navio foi sendo coberto por uma bruma dourada e quando essa se desfez, já não havia mais nada acima do dique. Duas Bruxas-Alvas ainda jogavam feitiços em Cornélio, que os aparava com a palma da mão como se fossem simples fogos de artifício. Dinorah pulou bem alto, agarrando a cintura de uma das bruxas, que se desconcentrou e caiu no topo do dique. Anastácia correu a ajudar a irmã, esmagada pela bruxa, mas parou, aterrorizada, pois agora todas as Bruxas-Alvas pousavam no dique e vinham na direção das Aveleira e dos Cacau.

Cornélio se adiantou até elas:

- É o fim. Todos perdemos o poder de Radames.

Uma bruxa muito velha, de pele mais enrugada que maracujá de gaveta, tomou a dianteira de seu grupo.

- Viscondessa Clara – Cornélio murmurou.

Viscondessa Clara ganhara esse título ao vencer num duelo um bruxo nobre, que em conseqüência perdeu seu título para ela. Mas a bruxa também pagou seu preço ao ser atingida durante o duelo, por um Feitiço de Velhice Aguda da Pior Espécie. A última vez que Cornélio a vira fora na capa de um jornal que listava os dez bruxos mais influentes da atualidade e Ícaro rabiscara com giz-de-cera no topo da foto: uva-passa!

- Ah! Cornélio... – Clara exclamou entre dois suspiros - Eu deveria amaldiçoá-lo agora mesmo!  Como pôde deixar um demônio desses escapar?

- Ora, viscondessa, eu já havia dito na capital que nunca a deixaria pôr as mãos nele. As Bruxas Alvas devem ficar onde sempre estiveram: no mesmo patamar de todos os clãs.

- Estúpido! Não vê que poderíamos nos destacar juntos?! Eu teria dividido o poder com você!

- Esses tempos passaram, Clara – Cornélio respondeu em tom baixo – Não temos mais dezessete anos e cada um fez sua escolha. Nosso mestre sempre disse que você deveria esquecer suas ideias de grandeza.

- Você sempre foi fraco, Cornélio. E um dia vai ver seu prezado equilíbrio chegar ao fim e vai se arrepender de não ter se aliado às pessoas certas.

- O tempo dirá qual de nós tinha razão...viscondessa.

Clara e Cornélio se encararam por um tempo e os cabelos de ambos pareceram flutuar à sua volta e seus olhos faiscaram. Então Clara disse:

- Sei que Radames está fora do meu alcance. A maldita Ilha Gloriosa está lacrada para qualquer outro bruxo que não um daqueles bobo-alegres imbecis! Esse demônio se foi. Mas outros virão.

Ela se transformou numa pomba branca com um estampido e todas as bruxas-Alvas fizeram o mesmo. A revoada de pombas voou para o interior do império, unido.

- Oh, puxa, Radames foi mesmo embora... – Dinorah falou melancólica.

- E o mestre Valentim... – Anastácia completou.

- Nunca senti tanta dor em minha vida. – Ícaro falou – Podemos ir para casa com um Feitiço-Sobremesa?

- Essa é uma das primeiras ideias sensatas que você teve, Ícaro. – Cornélio respondeu – Anastácia, você teria a honra?

- Eu, mestre?!

- Oh, droga! E eu que achei que íamos para casa! – Ícaro resmungou, recebendo uma cotovelada de Dinorah.

Os quatro deram as mãos, esperando que Anastácia bolasse alguma rima.

- Depois de tanta aventura,

O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now