A carruagem ia sacolejando de um lado para o outro, e se houvesse pessoas passeando na estrada naquela hora, elas ficariam aterrorizadas ao ver uma carruagem tão cambaleante, e iriam gritar pra quem estivesse dentro dela, saltar pela janela, antes que ela rolasse estrada abaixo. Mas já estava tarde e escuro, e não havia uma alma andando pela estrada que ligava o Ducado ao Baronato.Aquela era a última carruagem que saíra do Lar do Barão, e Anastácia e Ícaro só conseguiram pegá-la porque não se importaram que o cocheiro era um dos pôneis saltitantes da barraca de cabelos de sereia.
- Será que ele é primo do cavalo? - Ícaro cochichou para Anastácia, enquanto eles entravam na carruagem.
Ninguém mais quis se arriscar com um cocheiro que não era humano e não possuía polegares opositores para segurar as rédeas. Desse modo, eles iam fazer a viagem de volta sozinhos, o que foi uma ótima notícia, pois Anastácia estava tão apinhada de lembrancinhas que não haveria mesmo espaço para mais nada lá dentro.
Dentro da carruagem eles podiam ouvir o pônei cantar, alegremente.
"E não confunda nunca nãããão
Lar do Barão
Com o Bar do Larão!
O Barão é um homem digno
O Larão é um espertalhão
O Barão é um senhor fino
O Larão é um fanfarrão..."
Anastácia estava tão cansada, que foi fechando os olhos, embalada pela música sobre o Larão e o Barão, e antes que pudesse perceber estava dormindo no ombro de Ícaro. Ele, de imediato, puxou o ombro para longe, resmungando.
- Mas será possível, Anastácia, que além de me encher de bugigangas inúteis você ainda vem...
Ele parou de falar quando viu que ela nem respondeu e virou-se para o outro lado, encostando a cabeça na janela, usando os braços como travesseiro. Ícaro ficou olhando, envergonhado e sentindo-se um pouco culpado vendo a cabeça de Anastácia bater contra a janela a cada solavanco.
- Ora, bem... eu não quis...
Depois de uma curva muito rápida ela voltou a cair no ombro de Ícaro. Ele se resignou, jogando a cabeça para trás e depois soltando uma exclamação de dor.
- Meu cocoruto!
Olhou para trás e viu que havia batido a cabeça em uma das bugigangas que Anastácia comprara. Era um quadro enorme, uma aquarela da família Imperial e o pintor incluíra na hora o rosto de Anastácia entre o Imperador e sua esposa.
A canção do pônei parecia interminável.
"O Barão tem uma fazenda
O Larão mal possui uma renda!
O Barão é cheio de pompa e elegância
O Larão é um homem cheio de ganância!
E isso ainda não é tudo nãããão
Há muito a dizer sobre o Ba... RÃO!"
O pônei soltou um grito estridente, quando uma das rodas passou por cima de uma enorme pedra. Descolou-se do assento, durantes alguns segundos e achou que era o fim da sua vida. Quando viu que o perigo já havia passado, deu um relincho e voltou a cantar.
Dentro da carruagem, na hora em que a roda passou pela pedra, Ícaro e Anastácia bateram a cabeça no teto, e Anastácia acordou como se saísse de um pesadelo.
YOU ARE READING
O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]
FantasyDinorah Aveleira é uma humana condenada a uma vida comum. Sua irmã mais nova, Anastácia, é a aprendiz de bruxaria do grande Mestre Valentim. Cornélio Cacau é um bruxo sério e mal-humorado. Seu irmão gêmeo, Ícaro, é um humano fútil e galanteador. Des...