CAPÍTULO 15 - CACAUS E FOFOCAS

800 190 229
                                    




A carruagem ia sacolejando de um lado para o outro, e se houvesse pessoas passeando na estrada naquela hora, elas ficariam aterrorizadas ao ver uma carruagem tão cambaleante, e iriam gritar pra quem estivesse dentro dela, saltar pela janela, antes que ela rolasse estrada abaixo. Mas já estava tarde e escuro, e não havia uma alma andando pela estrada que ligava o Ducado ao Baronato.

Aquela era a última carruagem que saíra do Lar do Barão, e Anastácia e Ícaro só conseguiram pegá-la porque não se importaram que o cocheiro era um dos pôneis saltitantes da barraca de cabelos de sereia.

- Será que ele é primo do cavalo? - Ícaro cochichou para Anastácia, enquanto eles entravam na carruagem.

Ninguém mais quis se arriscar com um cocheiro que não era humano e não possuía polegares opositores para segurar as rédeas. Desse modo, eles iam fazer a viagem de volta sozinhos, o que foi uma ótima notícia, pois Anastácia estava tão apinhada de lembrancinhas que não haveria mesmo espaço para mais nada lá dentro.

Dentro da carruagem eles podiam ouvir o pônei cantar, alegremente.

"E não confunda nunca nãããão

Lar do Barão

Com o Bar do Larão!

O Barão é um homem digno

O Larão é um espertalhão

O Barão é um senhor fino

O Larão é um fanfarrão..."

Anastácia estava tão cansada, que foi fechando os olhos, embalada pela música sobre o Larão e o Barão, e antes que pudesse perceber estava dormindo no ombro de Ícaro. Ele, de imediato, puxou o ombro para longe, resmungando.

- Mas será possível, Anastácia, que além de me encher de bugigangas inúteis você ainda vem...

Ele parou de falar quando viu que ela nem respondeu e virou-se para o outro lado, encostando a cabeça na janela, usando os braços como travesseiro. Ícaro ficou olhando, envergonhado e sentindo-se um pouco culpado vendo a cabeça de Anastácia bater contra a janela a cada solavanco.

- Ora, bem... eu não quis...

Depois de uma curva muito rápida ela voltou a cair no ombro de Ícaro. Ele se resignou, jogando a cabeça para trás e depois soltando uma exclamação de dor.

- Meu cocoruto!

Olhou para trás e viu que havia batido a cabeça em uma das bugigangas que Anastácia comprara. Era um quadro enorme, uma aquarela da família Imperial e o pintor incluíra na hora o rosto de Anastácia entre o Imperador e sua esposa.

A canção do pônei parecia interminável.

"O Barão tem uma fazenda

O Larão mal possui uma renda!

O Barão é cheio de pompa e elegância

O Larão é um homem cheio de ganância!

E isso ainda não é tudo nãããão

Há muito a dizer sobre o Ba... RÃO!"

O pônei soltou um grito estridente, quando uma das rodas passou por cima de uma enorme pedra. Descolou-se do assento, durantes alguns segundos e achou que era o fim da sua vida. Quando viu que o perigo já havia passado, deu um relincho e voltou a cantar.

Dentro da carruagem, na hora em que a roda passou pela pedra, Ícaro e Anastácia bateram a cabeça no teto, e Anastácia acordou como se saísse de um pesadelo.

O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now