CAPÍTULO 9 - MUITA GENTE EM UM ESPAÇO MUITO PEQUENO

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Dinorah estava esgotada. Já era madrugada quando finalmente entrou na casa dos Nogueira. Tudo porque Joaquina decidira desaparecer.

Ao chegar ao centro de Dique do Duque, depois de deixar Ícaro, ela foi novamente abordada por Paloma, que dessa vez queria sua ajuda para a confecção de um novo modelo de chapéu e Dinorah se viu, de repente, em pé em meio a um mar de fitas, no minúsculo depósito da loja usando um modelo do tamanho de seus braços abertos.

- Não acha que está muito grande? – perguntou à Paloma.

- Tolice! É a nova moda na capital, além do mais...

Mas Paloma foi interrompida, pois uma cabeça surgiu na vitrine e um nariz enorme ficou prensado contra o vidro. Paloma gritou, levando um susto e o dono da cabeça abriu a porta resmungando:

- Que bagunça. Que coisa pavorosa é essa que está usando? – apontou para a cabeça de Dinorah.

Paloma exclamou indignada:

- Ora essa!  Como se você entendesse alguma coisa de moda! Saia já daqui, Ilarion!

Ilarion revirou os olhos e apontou para Dinorah:

- Você! Viu Joaquina?

- Não... – Dinorah respondeu ainda chutando as fitas.

- Pois tire essa monstruosidade da cabeça e venha me ajudar a procurá-la!

Dinorah tirou o chapéu e saiu para a rua, correndo atrás de Ilarion que se afastava a passos largos:

- O quê aconteceu com Joaquina?

- Sumiu.

- Sumiu?! Mas para onde?

- Se eu soubesse não estaria procurando!

- Vamos até a loja do alfaiate! - Dinorah exclamou, lembrando-se dos olhares que o ajudante do alfaiate sempre lançava à Joaquina quando elas iam juntas ao centro.

Ilarion riu roucamente, mas sem parecer achar graça:

- Nogão e o Lucêncio sitiaram a loja há horas. O ajudante também desapareceu. A cidade inteira está atrás dos dois.

E foi assim que Dinorah passou horas e horas daquela noite. Procurando, sem sucesso, o casalzinho fugitivo.

Quando ela e Ilarion finalmente voltaram para casa, o senhor Nogueira já oferecera uma recompensa de 175 potes de geleias sortidas a quem achasse a filha, Lucêncio entrara numa briga com o suposto melhor amigo do ajudante de alfaiate (um peixeiro magrela de olheiras enormes e corcunda pontuda) e a senhora Nogueira desmaiara na praça no mínimo cinco vezes.

Faustina e o pequeno Matias, alheios a toda a confusão, dormiam serenamente para escutarem Ilarion reclamando a altos brados à caminho do estábulo:

- Essa família é um terror! Só posso ter sido vítima de um feitiço do azar quando nasci para conviver com tamanha estupidez!

Dinorah ainda ouvia os resmungos de Ilarion ao longe quando abriu a porta de seu quarto, tirando as botas ainda na soleira.

- Pelas Mulas Sem-Cabeça Imperiais! – Radames berrou.

Dinorah tremeu ao ouvir a vozinha estridente, mas não respondeu. Estava muito cansada e se jogou na cama.

- Levante! Levante! Onde ele está? Onde? Onde?

- Silêncio... – ela murmurou.

- Onde? Onde? Você não o trouxe? Por quê? Por quê?

Como ele não parava de fazer perguntas de modo muito irritante, Dinorah se sentou com raiva:

O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now