CAPÍTULO 10 - OS IRMÃOS SE DIVIDEM

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Dinorah acordou no dia seguinte com os sussurros insistentes de Radames:

- Diná? Diná? Já amanheceu...

Ela bateu o travesseiro no móvel, enfurecida:

- Já não bastou ameaçar destruir a casa comigo dentro, gritar como um louco, encher meus ouvidos com conversas de bruxas assassinas? Ainda tem que me acordar?! – ela reclamou rolando na cama.

- Eu fiquei nervoso... – Radames admitiu, culpado.

- Ótimo! – Dinorah exclamou criando coragem para se levantar e se trancou no banheiro antes que ele pudesse retrucar.

Assim que terminou de se arrumar, encontrou toda a família Nogueira reunida diante do café da manhã e perguntou timidamente.

- Leta, acha que posso ir até a Casa da Descida ainda hoje? Prometo não me demorar, mas preciso ver minha irmã e descobrir o que a trouxe à Dique do Duque.

- Não se preocupe, querida. Tire o dia de folga.

- Fico muito feliz que as Aveleira conservem amizade tão bela com os queridos cacauzinhos! – o senhor Nogueira exclamou.

- Pare de chamá-los assim, papai – Lucêncio reprovou – Que coisa ridícula!

- Ora! Não seja bobo, Lucêncio. Cornélio e Ícaro Cacau sempre serão meninos travessos para mim. Os pobrezinhos... Perderam os pais tão cedo. Tiveram de cuidar sozinhos da Casa da Descida e todos sabemos bem como a casa ficou... Depois Cornélio se tornou aprendiz de bruxo na capital e Ícaro partiu com ele. Acho bom que tenham retornado a Dique do Duque. E me trouxeram aquele presente tão bonito...

- Aquela mesa de cabeceira medonha?! – Lucêncio interrompeu.

Enquanto Leta defendia a mesinha, que ela dizia achar uma peça de mobiliário das mais elegantes, Dinorah foi em direção a porta, já colocando seu chapeuzinho de palha.

- Você... – Lucêncio a chamou – Vai mesmo à Festa do Abacaxi com Chocolate com Ícaro, amanhã?

Dinorah deu um de seus enormes sorrisos e respondeu, deliciada, antes de dar um delicado salto para fora da casa:

- Oh, sim!

***

Quando Dinorah chegou ao portão enferrujado da casa dos Cacau, mais tarde, ela se lembrou do saci e imaginou todas as outras criaturas que poderia encontrar na descida, por isso decidiu percorrer o caminho correndo como um louca e só parou quando se jogou dentro da casa, abrindo a porta com violência.

A casa era antiga e muito bonita. A sala tinha uma escada que subia fazendo curvas, com corrimão de madeira trabalhada com abacaxis, tamanduás e capivaras entalhados. Havia pelo menos cinco portas fechadas em torno da sala e todos os móveis tinham o mesmo brasão esculpido na madeira. Tudo era muito bonito, mas extremamente sujo e velho. Teias de aranha e poeira cobriam todas as superfícies e até pedaços de jornais e papéis estavam espalhados no chão.

- Olá – ela chamou ao pé da escada.

Uma porta se abriu à direita e Ícaro, num maravilhoso roupão dourado, surgiu:

- Diná! Já lhe disseram como fica bem de vermelho?

Dinorah alisou o vestido sorrindo tolamente:

- Já, sim. Algumas vezes...

- Bom, acho que esse é o mal de elogiarmos moças bonitas. Qualquer elogio que se faça não é mais novidade.

- E minha irmã? – ela perguntou.

O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now