CAPÍTULO 17 - FEITIÇOS E FINAIS

777 178 100
                                    


A Casa da Descida estava anormalmente quieta quando Dinorah caiu esparramada na sala após levar um tranco da mesinha de cabeceira, que deu uma espécie de coice ao soltar a respiração, e a bengala se soltou de sua fita e saiu rolando para o pé da escada.

O pé de Anastácia foi atingido em cheio e ela começou a pular como um saci, gritando de um lado para o outro "ai, ai, ai!". E enquanto isso, mestre Valentim, alheio a toda a confusão, sem nem mesmo parecer escutar os agudos pedidos de desculpas de Radames, entrou na sala olhando em volta muito interessado, torcendo as mãos e murmurando "Encantador, encantador... Um lar de bruxo sem tirar nem por".

Um enorme estrondo vindo do segundo andar fez todos olharem para cima e ficarem imóveis. Cornélio veio descendo as escadas correndo como um louco, as roupas e o rosto cobertos de fuligem, os cabelos soltos descendo pelas costas e um olhar alucinado. Seus pés mal tocavam os degraus e ele praticamente se jogou em cima de Radames. Não sem antes pisar nos dedos da mão direita de Dinorah, que continuava caída no chão de barriga para baixo, e nem pedir desculpas. Anastácia, que estava parada como uma estátua, segurando o próprio pé no ar, logo se esqueceu da dor, pois seu novo mestre agarrou o móvel com facilidade com apenas uma das mãos, colocando-o debaixo do braço, exclamando casualmente:

- Finalmente! Vamos, Radames! Olá, Valentim! Vejo que a glória chegou afinal. Antes tarde do que nunca!

E correndo de volta para a escada, voltou a pisar nos mesmos dedos de Dinorah, que se levantava. Ela gemeu de dor e ele exclamou sem olhar para trás:

- Tapetes de sala não gemem. Meu chão não é espaço para repouso – e com um movimento de cabeça fez a bengala voar para sua mão livre.

Mestre Valentim se precipitou atrás do colega com um enorme sorriso e murmurando baixinho "Que beleza de confusão! E pensar que não é minha! Fim dos fracassos para Valentim, sim, sim!".

Anastácia arregalou os olhos escuros, exclamando:

- Vamos, Iaiá! Vamos! Ai, ai, ai! – e saiu ao encalço dos mestres.

No andar de cima, todos se reuniam numa espaçosa biblioteca. O cômodo era bastante grande, mas parecia ter muito mais estantes do que deveria. Algumas até estavam por cima de outras! O teto era muito alto e com desenhos muito gastos de várias pessoas muito diferentes, quase como se aquele espaço fosse uma espécie de catedral coberta de imagens de anjos. Dinorah reconheceu nos desenhos Magnólia, a Elfa Arrependida num canto, era uma de suas personagens de literatura favorita quando era criança. Anastácia olhava para cima apontando e guinchando:

- O Morcego Azul Que Comia Pitombas! Larissa, a Aventureira! Capitão Maracujá, O Desbravador dos Mares! Marquês Polvo e os Tesouros do Reino Submerso! Ahhhhhhhhh! Olhe, Diná! Os Trigêmeos Elfos!

As duas irmãs começaram a gritar histericamente, agarrando-se as mãos e saltando pela sala. Elas haviam lido a coleção dos Trigêmeos Elfos ao menos umas vinte e cinco vezes.

- Basta! – Cornélio berrou e as duas olharam assustadas para o bruxo que tinha as bochechas vermelhas e os olhos arregalados.

Mestre Valentim parecia levemente surpreso com a cena toda. Olhava para o teto e para os livros murmurando "Feitiço de Mais Espaço executado à perfeição... Saiu de moda há muito tempo, porém...".

Ícaro tentava segurar o riso de um canto da biblioteca. Também estava um tanto sujo de fuligem, mas, estranhamente, isso só o tornava mais belo.

Radames estava em cima de uma sólida mesa redonda de madeira e várias poltronas macias haviam sido empurradas para os cantos. Anastácia, envergonhada pela cena, correu até o novo mestre, pronta para receber instruções. Ícaro, por sua vez, contornou os bruxos para se postar ao lado de Dinorah e murmurar em seu ouvido:

O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora