CAPÍTULO 11 - ABACAXIS E CONFUSÕES

1.1K 207 294
                                    


Anastácia estava de pé, rodeada por plantas verdes brilhantes, na estufa da Casa da Descida. Ela havia terminado de contar a Cornélio tudo que lhe acontecera desde que deixara o casebre no pântano e agora olhava de esguelha para as plantas, pensando que elas deviam estar sobre algum feitiço da juventude. Afinal, se toda a casa estava suja e mal arrumada, quem iria se dar ao trabalho de regar as plantas? E elas eram exageradamente verdes e vistosas.

Cornélio também estava de pé, atrás de uma bancada, e enquanto ficou ouvindo a história de Anastácia,

- E havia mais alguma coisa que as Bruxas-Alvas mencionaram sobre o demônio? - ele perguntou, de repente, atrapalhando o fluxo de pensamento de Anastácia.

- Eu não sei... Acho que não. Na verdade eu sou um pouco surda do ouvido esquerdo.

- Você ainda tem muito que aprender...

- Mas você vai me ensinar, não vai mestre Cornélio?! Por favor! Eu quero tanto ser uma bruxa!

A porta da estufa se abriu e dois sacis entraram pulando. Um deles era o mesmo que tentara levantar a saia de Dinorah, o outro era um saci muito velho, de barba branca e cara de cansado. Eles começaram a saltitar pela estufa, espalhando um pó vermelho em cima das plantas. O saci novo atirava pó pra todos os lados, sem nem se importar com Anastácia e Cornélio parados no meio da estufa. Os dois sacis passavam no meio deles, esbarrando e jogando-os para o lado. O mais velho ficava mais rabugento ainda quando empurrava um dos dois, como se achasse que eles estavam lá só pra atrapalhar seu trabalho.

- Você vai ser uma bruxa, não se preocupe. – Cornélio sentenciou sem nem parecer notar os sacis – Uma coisa importante é descobrir que tipo de bruxa se quer ser.

- Não quero ser uma Bruxa-Alva!

- E por que não?! As Bruxas-Alvas são muito competentes e ambiciosas. O caminho para se tornar uma Bruxa-Alva é tortuoso, mas vale a pena para os que têm talento. Algumas entre elas são medíocres, mas a maioria é muito habilidosa. 

- Ainda assim não gostaria de ser uma delas.

- Bem, nesse caso, não se preocupe. Você não será. Isso está escrito nas suas pintas no pescoço!

- Como você consegue ler minhas pintas no pescoço? - Anastácia perguntou, levando as mãos ao pescoço, pensando que suas pintas deveriam ser do tamanho de verrugas já que era possível ver até o seu futuro nelas.

Cornélio fez uma careta, porque a resposta lhe parecia muito óbvia.

- Porque eu sou um Bruxo-Aparência.

- Um o quê?!

- É o meu... clã.

- O seu o quê?!

Ele ficou vermelho e bateu uma das mãos na bancada a sua frente.

- Assim não é possível! Seu antigo mestre nunca lhe contou nada sobre os clãs e essas coisas?! – Anastácia respondeu um tímido "não" e Cornélio balançou a cabeça, reprovador – Que horror.

Ele parecia assombrado. Anastácia temeu que tivesse acabado de perder seu segundo mestre por culpa de sua extrema ignorância. Mas Cornélio apenas suspirou e começou a resmungar.

- Oh, puxa... Pega-se um aprendiz, achando que ele poderá ser útil, e então descobre-se que ele é um completo imbecil! Os Bruxos Uno é que fazem muito bem de não terem aprendizes... Mas o que se há de fazer?

O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora