23 de novembro de 2001

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Dois dias depois daquele conversa, na parte da tarde do dia 23 de novembro de 2001, Aisha começa a delirar em meio aos seus sonhos, demonstrando que a sua capacidade cerebral provavelmente estava preservada. Aqueles sonhos fazem todos ficarem intensamente alegres. O doutor Wilian é chamado e então ele vê Aisha a acordar, daquilo que provavelmente deveria ser um pesadelo. Aquela jovem acorda assustada e aquele doutor fica extremamente emocionado em ver aquela jovem ativa novamente. Quando ela diz as primeiras palavras, a alegria foi geral entre os enfermeiros presentes naquela sala. As suas primeiras palavras foram:

- Onde estou?

Wilian se aproximou dela calmamente e disse:

- Finalmente eu pude ouvir a sua voz, jovem Aisha. Você não sabe como isso me alegra.

- Que bom senhor. Mas, quem é o senhor? Questiona aquela jovem confusa, enquanto os seus olhos estava ainda turvos, devido a passar muitos dias desacordada sem ver a claridade.

- Eu sou o doutor Wilian, tenho cuidado de você há algum tempo enquanto esteve inconsciente.

- Por quanto tempo eu fiquei assim? Eu não me lembro de mais nada. O que aconteceu para que eu viesse para cá?

- Você está aí a quase duas semanas desacordada Aisha.

- Parece que foi ontem. Eu não senti nada. Responde Aisha assustada com a fala daquele doutor.

- Isso é normal para pacientes em coma.

- Porque eu estava em coma?

- Acho que vou te contar sobre isso um pouco mais pra frente. Você estava a delirar agora a pouco, disse muita coisa desconexa. O que estava acontecendo?

- Eu tive um pesadelo senhor. Terrível.

- O que tinha nesse pesadelo?

- Sonhei que o meu marido queria me pegar e eu estava a tentar fugir dele pelas ruas da cidade. Quando finalmente ele me encontrou e estava me levando a força para casa. Ele iria me matar se conseguisse chegar em casa. Diz Aisha novamente demonstrando desespero em sua fala.

Naquele momento Wilian engole seco. Nem depois de todo aquele tempo desacordada Aisha havia conseguido esquecer os seus traumas do passado vivenciados naquela casa. Quando ele então diz:

- Tudo isso se tratou de um pesadelo Aisha. O seu marido não está mais aqui na cidade.

- E ele foi pra onde?

- Fugiu com a sua família assim que a cidade foi dominada pelos soldados inimigos daquele regime.

- Quer dizer que eu não vou mais voltar para casa? Questiona ela se mostrando mais tranquila com aquela fala.

- Provavelmente não. Provavelmente você será cuidada por uma outra família agora ou irá para um abrigo para mulheres.

- Assim fico mais tranquila. Eu estava com muito medo do meu marido nos últimos dias naquela casa. Ele estava cada vez mais violento. Eu estava a temer pela minha vida. Achava que não iria suportar mais. Responde Aisha com um semblante triste.

Naquele momento todos ficam tristes ao ouvir aquelas falas desesperadas daquela jovem, quando ela para em meio as suas falas e desconfiada questiona:

- Vocês não vão contar nada disso que disse a ninguém não é? Questiona ela com lágrimas a rolar pelo seu rosto, se descontrolando de tanto desespero e ficando imediatamente com os seus olhos arregalados demonstrando um intenso pavor.

Aquela fala parte ainda mais o coração daquele médico e daqueles enfermeiros, que tentaram tranquilizar aquela jovem dizendo que não:

- Claro que não Aisha, ninguém jamais saberá disso.

- Porque a útima vez que disse a alguém que não estava mais a suportar as dores dos castigos, essa pessoa contou tudo para uma jornalista e a minha vida se transformou em um verdadeiro inferno. Prometam pra mim que não dirão nada a respeito disso a ninguém. Questiona Aisha quase a interromper aqueles enfermeiros de forma completamente desesperada.

- Nos prometemos Aisha. Pode confiar em nós. Nós não vamos relatar isso a ninguém. Responde aquele doutor e os enfermeiros, pedindo com gestos que ela se acalmasse.

Aisha então fica calada. Ela não sabia se poderia confiar em mais alguém naquela vida. Ela havia confiado naquela mulher no templo e ela havia a deixado em uma situação complicada após aquilo.

Então aqueles senhores a questionam:

- Você está se sentindo bem agora?

- Sim senhor. Eu me sinto bem.

- Não sente mais nenhuma dor?

- Não senhor. Eu estou bem e sem sentir dores.

Ao ver que Aisha estava a responder de forma direta sem querer ampliar aquele diálogo, certamente ainda preocupada e traumatizada, com medo de seu marido saber algo a respeito do que disse, aqueles homens decidem que é melhor ela descansar e se recuperar antes de eles continuarem qualquer diálogo com aquela jovem. Nesse momento Wilian diz:

- Aisha, eu sou o seu médico. Foi eu quem cuidei de você durante todos esses dias em que ficou aqui internada. Vamos deixar você descansar e se recuperar um pouco, pois estamos sentindo que você ainda está confusa e com um pouco de medo. Eu te dou garantias de que ninguém aqui vai te fazer mal ou contar qualquer coisa para o seu marido, mesmo porque ele não está mais aqui. Como te disse, ele fugiu com o restante da família. Mas, eu entendo que você queira pensar um pouco antes de dizer qualquer coisa. Vamos deixar você aí tranquila e quando quiser conversar é só nos chamar.

- Tudo bem doutor! Diz Aisha ainda se mostrando confusa, preocupada e triste naquele momento. Quando todos se afastam e a deixam em meio aos seus pensamentos.

Imediatamente ao sair daquela sala. O doutor Wilian contacta com o quartel, para conversar com o senhor Johnson, que o atende:

- Olá senhor Johnson, ótimas novidades, Aisha acordou e está muito bem. Conversou conosco hoje pela manhã. Diz ele de forma extremamente alegre.

- Que ótima notícia Wilian. Agora eu estou resolvendo algumas coisas, mas assim que puder passo aí para conversar um pouco com ela.

- O senhor pode vir sim senhor. Só que ela está um pouco acanhada ainda. Não tem muita confiança nas pessoas. Ela desconfia que todos estão ao lado de seu marido e ainda podem contar alguma coisa para ele.

- Eu posso imaginar como ela se sente doutor. Pelo tanto que o senhor disse que ela sofreu eu também estaria com esse receio. Bem eu vou aí. Se ela quiser conversar conversamos, se não eu aguardo ela criar um pouco de confiança para poder conversar conosco.

- Isso mesmo senhor. Eu também estou aguardando por isso.

- Muito obrigado pelo contato.

- De nada oficial. Foi um prazer conversar com o senhor mais uma vez.

- O prazer foi todo meu.

Então eles desligam aquele telefone e Wilian vai atender os outros pacientes. 

Casamento forçado e abusivoWhere stories live. Discover now