A segunda-feira

1.2K 108 45
                                    

O dia seguinte amanhece, Osnin havia dormido no hospital naquela noite. Era 05 de novembro de 2001 e a guerra havia avançado intensamente na cidade de Mazar-e-Charif. O número de refugiados que cruzavam a cidade em que Osnin vivia em direção ao leste do país e, alguns deles, em direção a fronteira norte era muito grande. A população civil daquela cidade em disputa estava fugindo intensamente daquela zona de conflito, pois a guerra estava muito intensa, com bombardeios contínuos de navios e aviões americanos. Haviam também ataques com helicópteros a atirar em pessoas e o exército de rebeldes entrando nas ruas daquela cidade em um conflito feroz.

Muitas pessoas gravemente feridas estavam a chegar no hospital da cidade em que morava Osnin, especialmente soldados de maiores patentes, pois a região em que encontrava-se o principal hospital daquela grande cidade, palco da batalha, havia sido tomada por aquele grupo rebelde, o que deixava o exército defensor sem um grande hospital para tratar dos seus feridos, causando ainda mais dificuldade para os combatentes leais ao regime vigente que tentavam proteger aquela importante cidade.

Osnin logo pela manhã vai tratar de repassar as estratégias militares que havia aprendido no norte do país a um grupo de soldados e policiais leais ao regime. Ele também monta a estratégia e organiza a logística para o recebimento dos soldados feridos e os refugiados simpatizantes do regime, conforme havia sido definido naquele treinamento pelos líderes do Conselho religioso nacional.

Pelas informações que estava recebendo naquele momento, estava claro que a cidade de Mazar-e-Charif não seria mantida pelo exército defensor. Era questão de tempo e os rebeldes tomariam aquela importante cidade. Mais de 60% dela já havia sido tomada pelos rebeldes em pouco mais de três dias de batalhas terrestres. Aquela tomada era impressionante para todos. O medo da população da cidade em que Osnin vivia é que provavelmente a cidade deles seria a próxima a ser tomada, pois ela era a mais próxima da cidade em disputa no momento.

Ao terminar de realizar aquelas atividades de guerra que duraram, aproximadamente, toda aquela manhã, Osnin vai fazer uma visita a sua mãe no hospital. Ela já estava acordada no momento em que Osnin chegou. Quando ele vê que ela estava melhor a abraça sorrindo e diz:

- Que bom que já está melhor minha mãe.

- Estou não meu filho. Estou fraca, acho que chegou a minha hora. Diz aquela senhora em tom desanimado.

- A senhora é muito forte minha mãe. Tenho certeza que em poucos dias estará em casa conosco novamente. Diz Osnin de forma animada.

- Você ficou sabendo o que aquela insolente da sua esposa fez comigo? Questiona Marian já curiosa para saber o que Osnin havia feito para castigar Aisha.

- Sim minha mãe, eu já fiquei sabendo. Eu já castiguei Aisha ontem. Tenho certeza que ontem ela apanhou como nunca havia apanhado em sua vida. Nem quando ela fugiu aquela vez, que fui extremamente severo, eu fui tão violento no castigo o quanto fui ontem. Ela ficou completamente machucada após eu acertar as minhas contas com ela pelo que ela havia feito enquanto eu estava ausente.

Marian fica extremamente feliz que estava a ser vingada pelas afrontas de Aisha. Nem no hospital o ódio daquela senhora contra aquela jovem reduzia.

Osnin naquele momento tentava ser discreto em suas falas, pois haviam outras pessoas naquele quarto e também enfermeiras passavam de um lado para outro naquele espaço que poderiam ouvir e comentar o que aconteceu em sua casa, o que poderia gerar intensos problemas para aquele influente senhor perante a comunidade.

- O que você fez meu filho? Qual foi o castigo que você aplicou a sua esposa.

- Eu conto a senhora detalhes depois minha mãe, mas pode ficar tranquila que Aisha já pagou pelo que a fez. E ela me prometeu ontem que não iria mais afrontar mais ninguém mais velho naquela casa.

- Espero que dessa vez ela cumpra meu filho. Porque ela já havia prometido isso outras vezes e quando você saiu ela se tornou completamente insolente daquela forma, me afrontando e sendo irônica comigo, até que eu não suportei as suas humilhações e acabei sofrendo esse infarto.

Naquele momento Osnin olhava para os lados e via as enfermeiras a passar ficando preocupado. Se partes daquele diálogo saíssem daquele espaço, Osnin teria muita dificuldade de explicar que a sua família estava a ter conflitos tão intensos que acabou gerando aquele problema de saúde de sua mãe. Então ele tenta mudar de assunto:

- Como está se sentindo agora minha mãe?

- Estou bem melhor agora em saber que você está aqui meu filho. Eu estava muito preocupada com você! Como foi de viagem?

- Foi muito boa minha mãe. Aprendi muito nessa viagem, poderei fazer um bom trabalho para ajudar a defender a nossa cidade nessa guerra santa. Espero que possamos ter êxito nessa defesa.

- Eu tenho certeza que com você atuando nessa atividade conseguiremos defender a nossa cidade.

- Vou fazer o possível para isso minha mãe. Agora eu vou precisar ir. A Parisa ficará aí com a senhora e mais tarde Sônya vem para ficar no lugar dela. Hoje anoite eu volto para ficar com a senhora novamente.

- Muito obrigado meu filho. Eu te amo muito! Obrigado por ser um exemplo naquela casa para mim e para os seus filhos. Você agindo dessa forma perante a aquela esposa insolente, está ensinando as suas filhas que não devem agir assim perante aos seus maridos e a família deles. E também ensina os seus filhos como devem tratar as suas esposas insolentes, quando elas desrespeitam os seus maridos. Assim, certamente continuaremos a ter uma linhagem muito respeitada por gerações, como sempre tivemos. Você está seguindo os passos do seu pai e dos seus ancestrais.

- Esse é o meu dever minha mãe. Muito obrigado por me ajudar intensamente nisso. A honra da nossa família deve ser a nossa principal luta de sempre. Agora vou indo, eu tenho novas reuniões do Conselho Religioso atarde e anoite. Nesse período de guerra as reuniões estão muito pesadas e cansativas.

- Eu posso imaginar meu filho. Eu tenho um orgulho enorme de você por estar nos representando nesse conselho. Que o magnifico te ilumine.

- Que o magnifico ilumine a senhora também minha mãe. Se cuide. Eu te amo muito. Espero que a senhora possa retornar o mais rápido possível para a nossa casa. A senhora está fazendo muita falta lá.

- Eu farei o possível para me recuperar o mais rápido possível meu filho. Boas reuniões para você!

- Obrigado minha mãe. Diz Osnin saindo e chamando Parisa para ocupar o seu lugar de acompanhante da sua mãe.

Ao sair do hospital Osnin vai até os eu comércio para ver como haviam sido as vendas na sua ausência. E as notícias não são nada animadores. Ele não havia vendido nada durante aquele período. Os seus produtos eram, de luxo para aquela comunidade, "supérfluos", e naquele momento de guerra, as pessoas estavam a guardar os seus recursos para eventuais necessidades. Aquela notícia o deixou ainda mais preocupado e chateado com a situação em que sua família se encontrava.

Naquele dia ele resolve almoçar no centro da cidade em um restaurante, pois logo depois do almoço ele precisaria primeiro conversar com o presidente do Conselho para depois participar das reuniões que tenderiam a durar o dia inteiro.

Ao chegar no restaurante ele percebe as pessoas a olhá-lo de uma forma estranha com muitos comentários a ocorrer naquele espaço. Quando ele questiona ao dono daquele estabelecimento, que era muito seu amigo, se estava a acontecer alguma coisa.

Aquelesenhor então questiona se ele ainda não estava sabendo da última novidade? Eele diz que não. Quando Osnin recebe detalhes do que aquelas pessoas comentavam.Era mais um escândalo surgindo naquela sociedade.

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora