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A depressão é como um clone monstruoso de nós mesmos que toma seu lugar no mundo, te aprisionando dentro da própria mente. Enquanto ele diz que está tudo bem, te sufoca por dentro pra que ninguém escute seus gritos por socorro. Mesmo que eu esteja lutando para dizer que estou morrendo, o monstro abafa os meus sons com seus falsos sorrisos.
No domingo, sou eu que acordo no lugar do monstro, sou eu que sorrio assim que abro meus olhos para o teto. Lembrando de tudo que aconteceu na noite passada e durante a madrugada até Namjoon decidir que já era tarde demais.
Me divirto lembrando do jogo, que mais parecia uma desculpa para beber mais.
E no final, Jimin, que não parecia estar bêbado a não ser pelo nariz vermelhinho e os olhos inchados, deixou algumas notas altas em dinheiro sobre o balcão.
- Agradeça sua mãe por me deixar ter uma noite incrível como essa. - disse se inclinando para me beijar na bochecha. - E obrigado por ser meu par.
Desvei meu olhar para meus dedos que se entrelaçavam em meu colo. Tentando me acostumar com a proximidade que Jimin estava naquela noite.
- Obrigado por vir. - respondo ainda sem olhar para seus olhos.
Imaginando que se o fizesse, ele se daria conta do tamanho da admiração que eu sentia por ele. E todos os outros sentimentos conflitantes.
Sem nenhuma palavra além dos sorrisos Jimin se levantou para ajudar Namjoon a tirar Taehyung de cima do palco.
Então carregamos ele, Yoongi e Rosé para o carro de Jimin. Eu acabei por guiar o carro até suas casas e depois pegar um taxi para a minha. Não antes de observar o sol despontar no horizonte enquanto Jimin entrava em sua casa.
Com um sorriso bobo nos lábios, eu me levanto. Da cozinha, o cheiro do almoço sendo preparado me alcança. Com roupas frescas depois de um banho me junto a minha mãe no pequeno cômodo.
- Eu disse que era por conta da casa. - reclama Haelyn assim que me vê sentar em nossa mesa.
- Jimin não achou justo. - respondo apoiando meus cotovelos na mesa e meu queixo nas mãos, olho para ela no fogão já me encarando curiosa.
Então ela se apressa e senta rapidamente a minha frente jogando o pano de prato em suas mãos para seu ombro.
- Eai, como foi? - indaga com os olhos brilhando e o sorriso aberto. - Vi que beberam muito.
Dou uma risada. Realmente, eles haviam acabado com o estoque gelado de soju e com algumas garrafas de whisky e vodka.
- Eu não bebi, mãe. - balanço a cabeça negando.
Sua expressão murcha levemente me provocando uma risada.
- Nossa, que chato. - diz me fazendo rir mais.
- Mas... ahhh... - suspiro deixando minha cabeça tombar na mesa e estico meus braços para ela que os pega com carinho. Sorrio. - foi uma noite legal.
Dou outro sorriso enrugando o nariz e fechando os olhos levemente.
Minha mãe solta um gritinho.
- Me conta então, Jungkook. - pede afoita apertando minhas mãos nas suas impaciente.
Calma, mulher. Tá parecendo uma adolescente eufórica.
- Não rolou nada demais entre Jimin e eu, se está pensando isso. - me apresso em dizer fechando a cara por meio segundo antes de voltar a sorrir feito um bobo. - Nós só ficamos ali como se não precisasse de mais nada.
Suspiro alto olhando para os olhos brilhantes de minha mãe.
Ela emite um som fofo como se estivesse diante de um gatinho fazendo gracinhas.
- Como se já se conhecessem? - indaga levantando as sobrancelhas.
Balanço a cabeça sentindo a madeira raspar em minha bochecha.
- Foi diferente. - confesso - Ahhh... - suspiro novamente fechando os olhos me lembrando. - mãe, foi tão bom.
- Tá suspirando demais, Junkie. - alerta ela com os olhos arregalados, mas sorrindo em seguida.
Me arrumo na cadeira puxando uma mão para coçar meu queixo pensativo.
- Eu não sei explicar como a aparição de Jimin mudou as coisas.
Minha mãe espera paciente.
- É um pressentimento. - continuo. - Talvez eu só seja mais um iludido.
Haelyn sorri achando graça.
- Só o tempo dirá. - ela bate em minha mão e se levantando em direção ao fogão.
Não há como saber os motivos que fizeram Jimin se aproximar de mim naquele exato ponto da minha vida. Não há como prever o que acontecerá entre nós dois ou seu nível de interesse. Assim como não é possível saber o que aconteceria se eu não tivesse feito as exatas escolhas que me levaram até tal ponto.
Por isso, minha mente se isola do mundo naquela questão, há um momento certo, em um tempo certo e de um jeito certo.
O Jimin atual, com os sonhos e conquistas atuais, tendo as opiniões e preferências que tem, encontrou a mim, o Jungkook que sou agora. E nada mais além do tempo para dizer se as coisas assim são as certas.
Essa é minha teoria, com base nas palavras de minha mãe e nas próprias condições em que o loiro e eu estamos.
Porém, para mim, essa visão é muito otimista e eu não sou otimista.
Acho que em nenhum universo paralelo possível existe um Jungkook, o otimista.
Pois minha vida não passava de um completo erro. A minha insuficiência me dá a certeza de que todo interesse que Jimin possa ter em mim, irá se dissipar quando ele enxergar o Jungkook de todos os dias. Eu não sou bobo, sei que ele espera algo de mim, seja amizade ou uma relação, mas também estou ciente de todas as falhas que me compõe e isso por si só me condena a uma existência pouco próspera. Então, me diz, porque Park Jimin, estudante de medicina, futuro graduado em cardiologia, 25 anos e residente no hospital geral iria se interessar, tempo o suficiente para que saibamos se era o momento certo, por Jeon Jungkook, atendente de balcão de um Pet Shop, 19 anos, sem planos para o futuro? A resposta que está procurando é um sonoro, quase ensurdecedor e com certeza decepcionante, ele não vai, não.
E durante o almoço silencioso entre eu e minha mãe eu concluo que tudo bem. Tudo bem ele não se interessar por muito tempo, por que eu posso viver os dias que restam naquele conto de fadas onde as noites são como ontem e depois que Jimin partir, voltar ao meu mundo real. Pois qualquer migalha de felicidade é uma benção do destino.
Jimin pode me usar para o que desejar, pode me dizer de novo que sou bonito, que minha voz o impressiona e que suas noites de bebedeira ficam melhores com meus amigos e eu, e depois seguir com sua vida sem olhar para trás, nem para o garoto que conheceu no Pet Shop, parado no fim da rua.
Por que seria bom enquanto durasse, e aquilo era o máximo que minha alma e coração já decapitados e frios, poderiam receber.
Enquanto lavo a louça, concluo então que sou realista. E minha terapeuta devia ver isso como uma evolução, já que partindo do ponto de que sou alguém com um quadro de depressão grave, ela não devia esperar nada mais do que uma negatividade melancólica quase, e ás vezes, suicida.
Realista ao perceber, com uma calma que me surpreende levemente, que se Jimin estiver ali só por breves momentos, sejam carnais ou sentimentais, eu posso aceitar. Pois não há expectativa em mim. Na verdade, não há nada em mim. E as coisas que me importam, ainda, estão em mim desde que nasci. Minha música.
Por isso, quando a canção mais mal interpretada da história começa a tocar no radinho da cozinha, seco minhas mãos e agarro minha mãe pela cintura. Ela tropeça nos pés se chocando contra meu corpo bem maior que o seu assustada. Então percebe que estou dançando com ela pelo assoalho e me acompanha no ritmo de every breath you take, rindo enquanto encara meu sorriso como algo feliz diante os dias de escuridão. No entanto, há algo triste que preciso te contar mãe, assim como The Police não estava falando de amor, seu filho não está sorrindo de felicidade, e sim porque enfim aceitou que é insuficiente, chegando ao ponto de aceitar qualquer coisa para sentir algum resquício de serotonina em seu cérebro. Porque agora pode aceitar que Jimin viu aquilo que todos vêem, um rosto, um corpo e carência. E tudo bem, pois eram as únicas coisas restantes.
Giro minha mãe escutando sua gargalhada gostosa, e enquanto um sorriso se alarga em minha face, as lágrimas preenchem meus olhos e a dor meu coração. Eu posso ser feliz por alguns dias? Mesmo que sejam somente uma mentira?
E o monstro que não acordou comigo naquela manhã, me tranca novamente em sua masmorra e assume o controle enquanto a música caminha para o fim e meu breve momento com minha mãe se torna apenas lembrança.
Hoje eu aceito que ele viva por mim.
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Oie amantes de fanfic Jikook. Como estão?
Pois eu estou viva. Estou aproveitando a felicidade que está sendo ver o cb dos meninos e quanto sentimento existe nas músicas, Shadow e Black Swan, para escrever.
Sobre esse capítulo, eu escrevi com dor pelo Jungkook, mas não leiam assim, essas tristeza que sentimos nele é conformismo. Na verdade ele não está triste aí, está conformado. O que somente para todos é triste.
Mas eu realmente espero que leiam com a mente bem aberta, pois ele passou por muita coisa e é normal esperar que os outros o tratem da maneira que ela acha que merece e não como realmente merece. Na verdade, isso é um dos males da doença, sempre achar que tudo que lhe dão, já é muito mesmo que não seja, pois você não é suficiente para que lhe conceda mais.
Mas nosso Jeikey vai ser feliz de verdade, pois Jiminzinho não é um qualquer.
Como alertei, essa fic não é sad.
A att está saindo mais cedo do que eu imaginei, mas não preciso fazer ninguém esperar se já escrevi o que eu queria. E como sempre eu ainda não revisei e provavelmente vou me arrepender depois, então desculpa antecipadamente.
Queria deixar claro aqui que estou muito, muito impactanda com Yoongi e suas letras. Primeiro com Suga's Interlude e agora com Shadow, por que esse menino me faz ter certeza de que é meu UTT sem defeito nenhum.
É isso, beijinhos até a próxima e aproveitem os meninos.

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⏰ Last updated: Jul 05, 2023 ⏰

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17 Minutos Depois do Pôr do Sol - JJK•PJMWhere stories live. Discover now