Capítulo 8: Indecisões

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        Eu continuo sentada atrás da porta, esperando o vazio desaparecer e eu ter forças para me levantar, de novo. Quando eu escuto Talía falando na cozinha.
       - Ok gente, a festa acabou, vamos todos embora.
       Ouvi sons de relutância, pessoas na minha cozinha que queriam ficar para poder me ajudar, para me consolar. Eles não faziam ideia do que acontecia do lado de fora de casa, muito menos de dentro de mim. Eu não precisava de consolo, não precisava deles, não agora. Fico feliz por ter Talía como amiga, por mais que tenhamos nossas desavenças, ela é uma boa amiga, fala tudo na lata, sabe quando deve retirar as pessoas do local, e não se importa se eles vão chama-la de ignorante, grossa ou sem coração depois. Ela consegue ver a realidade e ser totalmente sincera em alguns momentos.
       Depois de pouco tempo me levantei do chão e abri a porta para meus amigos saírem, escutei todos os comentários de despedidas: “ Obrigada pelo convite, estava tudo muito bom”; “Melhoras, no fim vai dar tudo certo, não se preocupe à toa”. Sentei no chão novamente ao fechar a porta. Todos foram embora, todos passaram por mim, menos Lorenzo. Escutei a porta dos fundos batendo, imaginei que ele quisesse ir embora sem me ver e sem e despedir de mim, depois de tudo que ele passou. Mas pensei errado.
       - Megan?
       Ergui a cabeça e olhei para ele. Seus olhos pareciam aquelas pedras que mudam de cor conforme o humor. De seus tradicionais olhos verde musgo, foram para um verde esmeralda. Ele me olhava fixamente até eu baixar os olhos, e fazer com que percamos o contato visual.
       - Achei que você tinha ido embora, pelos fundos, sem se despedir de mim.
       - Achou errado. Eu não iria embora sem me despedir de você.
       Olhei para ele.
       - Por que você estava lá fora então?
       - Eu poderia dizer que foi para tomar um ar, mas eu estaria mentindo – disse ele esboçando um sorriso entre os lábios. – Eu saí para enganar a Talía, para ela pensar que eu estava indo embora, se ela me pegar aqui dentro, ela me mata.
Eu comecei a rir, enxugando as bochechas que ainda estavam molhadas por conta do choro.
       - É, ela realmente iria te matar.
       Ele se agachou lentamente e sentou ao meu lado e voltou a falar.
       - Sabe Meg, eu sei que você ama ele. – Ele fez uma pausa. – Sei disso porque eu via o jeito que vocês se olhavam, se beijavam e entrelaçavam as mãos no corredor. Não é tão fácil parar de amar alguém, ainda mais quando se ama assim.
         Ele puxou meu rosto me fazendo olhar para ele. E continuou.
        - Eu sei de muitas coisas, pode até parecer que não, mas eu sei. Sei que ama ele, sei que sente falta, sei que está confusa e sei que eu só atrapalho nisso, eu não esclareço nada para você. Eu deixo você usar a sua cabeça e seu coração para enxergar as coisas, e você vê o que você quer. Mas acho que está na hora, chegou a hora de esclarecer tudo.
       - Esclarecer tudo, o quê?
       - Vou deixar claro para você sobre o que eu sinto, e vou te dar espaço para decidir. Você vai tomar sua escolha, quem você vai querer.
        Eu não sabia o que dizer, então só concordei com a cabeça para ele continuar falando.
       - Eu não sou perfeito Megan, eu fiz muitas coisas das quais eu me arrependo, machucar você é uma das coisas que me perturbam até hoje quando eu fecho os olhos para dormir. Mas sabe de uma coisa? Quando eu vi aquela menina na festa, implorando para ir embora, me ignorando totalmente quando eu fui me apresentar para ela. Ver aquela menina pequena, mas tão marrenta e briguenta, eu queria só te atormentar, queria te irritar para que você falasse comigo, nem que fosse aos berros. Eu gostei de você quando te vi pela primeira vez, quando eu te via pelos corredores, quando eu via você com ele, eu ainda gostava de você, então eu tomei um propósito, fazer você me perdoar, qualquer preço que dessem, eu iria fazer de tudo, então eu coloquei flores e poemas no seu armário. Ficava escondido como uma criança observando você ler e abrir um sorriso, observava você sorrindo e cheirando o perfume das flores, observava a sua delicadeza quando dobrava o papel, procurando deixar do jeito que você havia encontrado. Detalhes. Todos os detalhes. O jeito que você sorri, o jeito que você ri e me empurra, o jeito que você grita quando fica brava ou empolgada. Você. Eu gosto de você, de todas as suas qualidades e mais ainda de todos os seus defeitos, porque eles fazem de você, essa pessoa incrível.
       Eu sentia as lágrimas escorrendo no meu rosto novamente, mas as palavras não vinham, eu não sabia o que dizer para esse homem que se encontrava sentado do meu lado abrindo seu coração.
       - Quando eu disse que eu queria te conhecer, era verdade. Nunca falei tanta verdade na minha vida, está me devendo essa. Se você escolher ficar com ele, eu vou entender. Mas eu só estou te pedindo essa chance, me dá essa chance, e eu provo para você e para o mundo, que todos estão errados a meu respeito, que eu não sou um completo idiota, que eu sei pensar em alguém além de mim, que eu posso colocar as necessidades de outra pessoa, acima das minhas. Eu posso ser quem você quer, eu posso ser quem você precisa, basta me dar só uma chance, só uma chance, nada mais.
        - Lorenzo... – Ele me interrompeu.
       - Shhh... Não fala nada, vai estragar um dos momentos mais fofos da minha vida. Não quero que você escolha agora, só quero que você pense.
       Ele tirou uma caixinha do bolso e me entregou.
       - Eu quero que você aceite isso.
       Eu abri a caixinha e tinha um pingente, não era pequeno, era um livro fechado.
       - É de abrir esse livro.
       Então eu abri e comecei a ler as pequenas letras que estavam entalhadas naquele pingente.
“ Me apaixonar por ele seria como mergulhar em um precipício. Seria ou a melhor coisa que me aconteceria ou o erro mais idiota que eu cometeria”
Ele me deu um beijo na cabeça, enxugou minha lágrima e foi embora.

Única Estrela no CéuWo Geschichten leben. Entdecke jetzt