48 - Quinze minutos

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Natália estava intensamente angustiada sentada naquela cama olhando para Gustavo. Ele caminhava de um lado para outro naquele quarto visivelmente transtornado. Por vezes passava as mãos pelos cabelos, encarava a figura dela naquela cama e voltava a mover-se sem parar tentando lidar com toda aquela tensão que as palavras de Natália lhe produziram.

Haviam se passado mais de vinte anos daquele dia e, talvez, agora, a fixação de Natália em vingar-se dele fizesse realmente sentido. Entretanto, com todo o esforço que ele fazia para compreender o lado dela levando em conta tudo que viveram e seu estado atual, ainda era difícil para Gustavo digerir o fato de que ela tenha feito o que fez e o pior, sem lhe contar uma única palavra.

Natália secou as lágrimas que inevitavelmente corriam por seu rosto e buscou forças dentro de si para cobrar de Gustavo uma palavra ainda que sentisse que não tinha o direito de cobrar nada dele:

— Pelo amor de Deus, diga alguma coisa, não vou aguentar essa angústia.

— Eu não sei o que dizer, Natália. Eu também cometi erros na minha vida, tive inúmeras atitudes das quais não me orgulho e decidir viver essa história com você não foi uma coisa fácil porque... porque você me lembra o quanto eu fui capaz de ser canalha um dia. Mas agora... isso! Pelo amor de Deus, Natália por que você não me contou? Por que você não me procurou naquela época? Por que não me disse nada agora?

— Você realmente acha que era fácil para mim te procurar para contar que eu esperava um filho seu? Você disse em rede nacional que eu era uma golpista, Gustavo. Que tentei dar um golpe em sua gravadora e que não era de confiança. Te dizer que eu estava grávida de você significaria me submeter a todo tipo de julgamentos de todos a sua volta, mas principalmente, julgamentos seus.

— A culpa foi de Diogo! — Praguejou Gustavo. — Ele ficou me manipulando por dias. Fazia pequenas intrigas, depois tirou umas fotos suas com os garotos daquela banda que queriam gravar com você... eu fui muito idiota! Caí nas manipulações dele e destruí nossa história. — Lamentou sentando-se na cama de frente para ela.

— Manipulação é a especialidade de Diogo. Até hoje. Veja só o que ele fez comigo na cabana.— Recordou Natália sentindo um arrepio percorrer-lhe o corpo que ainda não havia superado aquele trauma.

— Eu não sei o que teria acontecido... provavelmente eu teria sido um pai tão relapso quanto eu fui para minha filha Evelyn que sofreu muito com os problemas que tive com a mãe dela, mas... Eu lamento muito Natália. Lamento muito que minhas atitudes tenham levado você a tomar essa decisão tão extrema. — Ele levantou a mão e acariciou seu rosto.

— Não foi só sua culpa, Gustavo. — Natália levantou os olhos e o encarou. — É uma culpa compartida, um erro de nossa juventude que, infelizmente, teve consequências. Eu não queria fazer um aborto, mas Mariano...

— O que Mariano tem a ver com isso? — Gustavo se alterou.

— Assim como Diogo fez com você, ele se aproveitou da minha fragilidade e me manipulou. Quinze minutos. Quinze minutos foi o tempo que eu tive para decidir se fazia ou não esse aborto. Quinze minutos foi o tempo que levou para eu tomar a decisão da qual me arrependi por toda minha vida.

— Desgraçado!

— Gustavo... Eles só puderam fazer isso conosco porque estávamos frágeis. E estávamos frágeis porque estávamos separados. Juntos somos mais fortes. Precisamos nos unir para que nunca mais caiamos nas manipulações de Diogo, Mariano, Ana Paula ou qualquer outra pessoa. — Natália conseguiu ser racional.

— Você tem razão, tem toda razão. — Respondeu Gustavo suspirando. — Já permitimos muito que interfiram em nossas vidas e nos manipulem. Vamos retomar as rédeas de nossas vidas e, de quebra, recuperar a Romero Produções.

Tom de VingançaWhere stories live. Discover now