8 - Gosto de vitória

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Gustavo jamais poderia haver vislumbrado aquele cenário. Ele não havia sido o jovem mais aplicado no trabalho, mas, quando seu pai morreu, havia dedicado tudo o que pôde àquela empresa, ela era sua vida. Nunca havia se dedicado a nada tanto quanto à Romero Produções, à nenhuma mulher, à nenhuma relação, nem sequer à sua própria filha como já havia tomado consciência.

Ele sabia que a empresa não ia bem das pernas, há anos havia sido obrigado a vender mais ações do que era seguro para manter-se como sócio majoritário, mas acreditava que as ações que havia dado à Fabíola sem ter vontade, estavam seguras. Entretanto, era impossível saber ao certo, visto que ela e ele não se suportavam.

— Você não pode entrar na minha empresa e me dar ordens! — Gustavo reagiu em meio à perplexidade em que se encontrava.

— Gustavo... — Disse Natália com um sorriso cínico. — Não vamos perder o controle tão cedo, eu nem comecei aqui.

— Por que você armou todo esse circo? Que história é essa de que você é dona desta empresa? — Reclamou Gustavo.

— É exatamente o que quero explicar, caso você me permita. — Gustavo se irritou ao perceber que ela ainda tentava colocar na responsabilidade dele todo aquele pandemônio.

— Então fale comigo no privado, antes de falar com todos. — Ele praticamente rogou. Não queria ser tratado como um empregadinho qualquer.

— Não tenho intenção de explicar separadamente a ninguém. — Disse Natália bem próxima dele. — Sente-se aí que você é igual a todo mundo que está aqui.

Gustavo travou os dentes. Quase mordeu sua própria boca de ódio. Sem alternativa, retrocedeu e sentou-se. Ele havia praticamente implorado à Natália que lhe desse alguma preferência a seus funcionários, mas ela fez questão de tratá-lo como alguém qualquer. Parecia ser exatamente essa a intenção dela e provavelmente era. Mas dentro dele, ele sentia que Natália era realmente a dona da Romero Produções e, lhe restava aceitar o lugar que ela lhe designava para entender àquela situação tão bizarra.

Natália subiu novamente o degrau do pequeno palco, triunfante. Poucas vezes na vida havia se sentido tão vitoriosa. Finalmente ela tinha em suas mãos a vingança que tanto havia desejado. E como era doce seu sabor. Como aquela adrenalina do poder a fazia sentir viva. Como desejava aquele poder sobre aquele que um dia a fez sentir-se tão pouca coisa. Ver Gustavo humilhado naquela mesma produtora onde um dia ela havia sonhado com o estrelato, era a glória para ela, não deixaria de saborear nenhum detalhe daquela conquista.

Atrás de Natália estavam projetados dois gráficos paralelos. Um mostrava a oscilação decrescente no valor das ações da Romero Produções e no outro, mais simples, a divisão de investidores que, naquele momento, possuíam ações na empresa. Ela caminhou, habilidosa sobre os saltos até o centro do palco com um microfone na mão.

— A Romero Produções já foi, sem sombra de dúvidas, a maior produtora musical deste país. Sob o comando de um homem de visão, Silvio Romero, alcançou o topo em poucos anos, em uma época em que a música era o mais forte entretenimento. Sob a administração de Gustavo, aqui presente, — Natália apontou para seu ex-namorado humilhado na primeira cadeira do auditório. — a empresa colheu todos os louros desses anos de glória, para depois começar experimentar essa queda vertiginosa no valor de suas ações e, consequentemente, deixar de ser atrativa. O mercado se transformou ao longo dos anos, mas não foi acompanhado pela Romero Produções.

Cada palavra que saía de sua boca carregava uma soberba que fazia com que Gustavo a odiasse. Sua intenção era humilhá-lo e ela estava conseguindo com uma maestria invejável. Ele começava a entender o que ela idealizava, e tomar consciência de que ela, provavelmente planejou aquilo por muito tempo, era ainda mais degradante.

Tom de VingançaWhere stories live. Discover now