A beira do abismo (16)

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Ayla:

Simplesmente não sei mais o que fazer para dona Norma não me detestar tanto. Arg. Desde quando disse não para seu pedido ela tem agido de forma diferente, quando não está me desprezando está me hostilizando igual minha mãe, e isso é algo que dói bem lá no fundo da minha alma.

Nunca me senti uma pessoa gostável, hoje tenho certeza disso. Agora estou aqui plantada em frente à dona Norma, tentando não chorar e focar nas outras palavras depois que ela disse que eu consigo ficar horrível mesmo com roupas bonitas e de grife.

—Sai! — Ela proferiu em bom som.

Maldita gagueira que me aparece quando estou nervosa, estou aqui tentando emitir algum som, porém, minha boca abre e fecha sem sair nada, nem um mísero pedido de desculpas.

— Isso, comece irritando meu dia logo nas primeiras horas de trabalho. Adoro funcionários com retardos.

Virei nos calcanhares e saí com os olhos cheios de lágrimas, fui em direção ao banheiro e só lá consegui respirar novamente, e infelizmente não consegui evitar as lágrimas. Não fazia nem dois meses que trabalhava com a dona Norma e já queria abdicar, sim, desistir do emprego extraordinário com salário maravilhoso, sou uma bosta mesmo, uma merda, como minha mãe costuma me chamar.

Sinceramente, não sei o que mais me machuca, se são as palavras da dona Norma, ou fato de que em nem um momento ela esteve interessada em mim.

Joguei água no meu rosto, respirei fundo tentando parar de chorar, e assim que me recompus voltei para minha mesa, apoiei os cotovelos nela levando minha cabeça até minhas mãos, estava de cabeça baixa empenhando-me em recordar quais às ordens que a dona Norma havia me dado, movimentei a cabeça lentamente para sua sala, lá estava ela compenetrada naqueles papéis, tão linda... Não sei quanto tempo me deliguei observando seus traços, mas quando voltei em mim, lá estava ela me encarando com uma feição indecifrável, meu rosto como sempre esquentou, mas não consegui tirar os olhos do dela, só o fiz quando ela arqueou a sobrancelha esquerda, pisquei algumas vezes voltando em mim, mirei minha mesa envergonhada. Com certeza ela julga que sou uma demente.

Juro por todas às forças que une, cria e move o universo que me esforcei para tentar lembrar quais eram suas ordens, mas só consegui lembrar-me de sua voz ecoando em minha psique o que ela pensava sobre minha pessoa e duas ordens. Uma era levar um documento para Jomar, ou algo assim e redigir documentos... "Ai minha nossa senhora das secretarias, me ajuda". Murmurei baixinho, merda! Não trouxe nem sequer o documento, respirei fundo, levantei e insegura segui até sua sala, ela não notou eu entrar, ou fingiu.

— É este o documento para levar para assinar? — Questionei apontando para uma pasta solitária na ponta de sua mesa. Torcendo para que realmente fosse aquela, já que deduzi que quando ela empurrou para aquele lugar era justamente na hora que ela estava me dando ordens.

— Não prestou atenção nas minhas ordens, Ayla? — Ela questionou cruzando os braços e me encarando séria.

— Desculpa!

— Não sou de dar uma chance Ayla, então faça por onde merecer permanecer aqui. Leva essa pasta agora e só me apareça com esses papéis assinados.

Peguei a pasta com pressa, segui para minha mesa peguei minha bolsa, segui a passos rápidos para sala da dona Paula na esperança que ela me ajudasse em alguma coisa.

— Desculpa te incomodar dona Paula, é que... bem, a senhora sabe me dizer onde fica ou quem seja Josimar Nunes? — Questionei ao abrir a pasta e ter certeza que o nome do cidadão constava no documento.

— Deixa-me ver — ela pediu esticando a mão para pegar, — fica do outro lado da ponte, é um prédio espelhado, o único edifício assim, Ayla, não tem como se perder, chegando lá pede para falar com Letícia e mostre o documento e diga que foi a mando do escritório G&K. — Dona Paula entregou-me a pasta me oferecendo o sorriso.

A beira do abismo Where stories live. Discover now