Capítulo Três

90 32 12
                                    

Se uma doação inesperada acontecesse, se essa doação fosse importante para a saúde de um ente querido, mas ao receber essa doação sente-se mal, como se estivesse passando fome ou coisa do tipo, o que você faria?

# Entendendo A Vida

- Dr. Daniel, eu vim o mais rápido possível o que aconteceu? – pergunto ansiosa. Estava ofegante por ter saído praticamente correndo do restaurante em que estava há algum tempo atrás.
- Sua irmã teve uma pequena recaída, por um minuto seus sinais vitais caíram.
- Ela está bem agora? – pergunto preocupada.
- Sim, está! Ela é forte. Mas tem outro problema!
- E o que é? É algo sério com Helena?
- Não! Ela está bem! A questão é que estão querendo transferir sua irmã para um hospital público.
- Não! Ela tem que ficar aqui! É o melhor para ela, eu vou pagar o que está faltando. Eu consegui um emprego de meio período, e então terei o que falta para pagar o hospital. Só por favor! Não deixem que a tirem daqui!
- Sei que você consegue, terá que se esforçar bastante, pois agora ela precisa de exames novos, principalmente agora pela recaída dela.
- Só preciso de tempo. Posso vê-la?
- Claro!
Saio deixando o Dr. Daniel para trás, vou até o quarto de minha irmã e converso com ela, mesmo ela estando em coma espero que ela possa me ouvir.
- Oi Ele? Sou eu Liza. Estava com saudades, como tem estado? Desculpa não estar vindo aqui com tanta frequência é que as coisas estão ficando um pouco complicadas para mim. – sento-me em uma cadeira a seu lado, seguro sua mão em minhas mãos e digo com as lagrimas escorrendo em meu rosto. ¬- Sinto falta de nossos pais Ele! E de conversar com você, por que não acorda logo para irmos pra casa? O Dr. Daniel disse que aparentemente você não tem nada, então é só você se esforçar e abrir os olhos. Sabe! A Clarinha hoje começou a dar seus primeiros passos... E você não está vendo, quero muito que você acorde para comemorarmos o aniversário da Ana Clara, o primeiro aninho é o mais importante, você como mãe tem que estar presente, lembra de quando ela nasceu e você disse que era a pessoa mais feliz do mundo que faria qual quer coisa por ela? Talvez você possa fazer agora! Acorde volte para nos.
Fico por mais uns minutos no quarto de Helena em silencio, logo depois saio do quarto de minha irmã enxugando as lagrimas. Quando chego perto da saída ouço uma voz me chamar.
- Srta. Eliza?
Olho para traz é a recepcionista.
- Fiquei de lhe entregar isso!
- E o que é isso?
- É o recibo e o seu celular! Um moço alto veio pagou os gastos do hospital e deixou o seu celular que você havia esquecido com ele.
Não avia notado de que não estava com o meu celular.
- O que? Pagou? Por que alguém pagaria minha dívida?
- Não sei! Ele só pagou e saiu, não perguntou nada! Achei que talvez ele fosse seu namorado!
- Não! Eu não tenho namorado.
Quem poderia ser? O último lugar em que eu vi meu celular foi no... restaurante!
- Não acredito foi o cara do cinema?
Por que ele faria isso? Eu nem se quer lembro-me de seu nome. Vou para o ponto de ônibus, por sorte não demorou pra chegar um ao ponto em que estava. A caminho de casa não conseguia parar de pensar, por que um desconhecido pagaria algo para mim? Por que motivo, ele voltaria para cobrar algo depois? Ele parecia estranho no cinema! Assistindo a um filme sozinho, não que isso, eu também estava!

# Pagando De Volta

- Eliza o que aconteceu com você? Está um horror, olha esse seu cabelo, temos que ir a uma cabeleira. – diz minha amiga Amanda fazendo cara feia.
- Amanda! Sabe que não posso gastar assim!
- Desencana miga! É um presente.
Amanda e eu somos amigas desde o colegial, quando me mudei para cá. Ela é uma pessoa difícil e se esquenta rápido, mas é compreensível e sabe quando me ajudar, sempre esteve ao meu lado, principalmente quando estou passando por problemas.
Enquanto nossos cabelos são arrumados, folheio uma revista de economia enquanto falo a Amanda o que aconteceu no hospital, sobre o tal homem estranho do cinema. 
- Serio? Ele pagou os gastos do hospital? – pergunta Amanda perplexa.
- Sim! Mas sinto-me mal com isso e o pior é que nem tem como devolver seu dinheiro!
- Por que não?
- Não o conheço, não sei quem é! Nem ao menos lembro do seu nome.
De repente algo me parece familiar em uma fotos nas páginas em que folheava, volto umas duas páginas para traz e o vejo, é ele, é ele o homem do cinema.
- Aqui Amanda! É esse o homem do cinema, foi ele que devolveu meu celular e pagou a conta do hospital! Foi ele!
- Mas então ele é rico, está em uma revista de economia e não só em uma página, mas em três, e ainda por cima e lindo, nossa que gato! Como você pode ter cruzado com um homem desses? Olha esse peitoral? Ele deve viver em uma academia.
- Amanda! Não babe na revista! – digo brincando.
- Anda Liza Lê o que está escrito dele ai! – Esse é o apelido carinhoso que Amanda me chama quando está contente e quando esta brava me chama de Zaza, só por que eu não gosto. – Rápido! Estou ficando curiosa.
A revista falava muito sobre ele.
- Ele tem 27 anos seu nome é John Robert, aqui também diz que ele está prestes a herdar a empresa da família entre outras coisas, nossa fala até de seu tipo ideal. Isso é que é estar na mídia. – dou uma risadinha desdenhosa.
- Deixe-me ver! – Amanda diz puxando a revista de minhas mãos. – Ho! Que triste!
- O que foi? – pergunto para ela.
- O tipo ideal dele não é você! Pena achei que teriam futuro. Haha – depois de dizer isso Amanda cai em uma rizada assustadora, a devo ter esquecido de mencionar o senso sarcástico dela! ¬- Olha! Aqui também menciona o endereço dele, diz que ele mora em um dos mais caros edifícios da cidade.  E ele não mora tão longe. Eu conheço esse lugar!
Amanda me devolve a revista, apontando nas linhas em que fala da residência de John Robert, fico olhando sem poder pensar em mais nada além de encontrá-lo e devolver seu dinheiro. É isso! Tenho que devolver seu dinheiro nem que seja em algumas vezes. Pego um papel e uma caneta e marco o endereço em que está na revista.
- Eliza? O que você está fazendo? – pergunta-me Amanda.
- Vou encontrá-lo.
- Encontrar! Quem?
- John Robert. – digo mostrando a revista.
- Por que vai fazer isso?
- Não posso aceitar o dinheiro dele, e não quero ficar em dívida com ninguém, muito menos com alguém a quem nem conheço!
- Por que não? Como você acabou de ver ele tem muito, o que ele te deu nem vai lhe fazer falta.
- Mas agora que eu sei quem ele é.... eu não quero o seu dinheiro! Vou paga-lo nem que seja aos poucos.
Uma hora depois, me sinto renovada com um novo corte de cabelo, pedi um corte no ombro e fiz um permanente.
- Amanda você vai comigo? – pergunto.
- Sinto muito amiga, mas se é pra você se enforca que vá sozinha e pense bem você precisa desse dinheiro, você teve a maior sorte do mundo de alguém que tem muito te dar um pouco.
- Se foi sorte por que não me sinto sortuda? Eu vou ir! Mas pode deixar vou pensar bem no que farei.
Sai do salão de beleza decidida, fui até o banco e peguei tudo que tinha em minha conta, não era nem a metade do que ele avia pago no hospital, mas eu poderia pagar o resto em um ou dois messes, isso seria suficiente.
Cerca das 18h30min chego ao endereço marcado, era de um prédio, entrei e fui até a recepção. Falei com o porteiro e ele interfona para John e diz que uma moça o aguarda. Logo depois me passa o número do apartamento de John AP 307. Subi até o último andar, cheguei até a porta. Apertei a campainha, alguns segundos depois ela foi aberta. Uma moça muito bonita abre a porta, ela é alta morena de cabelos longos e ondulados, ela veste uma blusa social masculina, até parece um pijama de tão grande que fica nela.
- O que você deseja? – pergunta-me a moça que parece uma modelo de tão bonita.
- O Sr. John se encontra? – pergunto para ela, mas antes que possa me responder, ele vem atrás dela, sem blusa e com uma calça de malha cinza, meu Deus como é lindo! Realmente as fotos da revista fazem jus a ele. John é moreno, alto, seu corpo é todo esculturado, como disse Amanda ele deve viver na academia.
- O que você quer comigo? – pergunta John, me fazendo sair de meu devaneio.
- Vocês devem estar ocupados, posso voltar outra hora. – digo virando o rosto para não encarar seu corpo praticamente nu. Ele pensa um pouco e diz.
- Espera...  Você é a garota do cinema não é?
- Sim... sou eu! Eliza!
- Você recebeu o seu celular?
- Sim e algo mais, e é sobre isso que eu gostaria falar com o senhor.  – olho para ele e a garota que ainda continuava a porta. – Mas podemos conversar em outra hora, acho que... vocês estão ocupados.
- Eu já estava pra sair, só aguarde um momento e então poderemos conversar no caminho.
John sai puxando a “garota-modelo” para dentro, enquanto eu espero do lado de fora, logo depois ele volta com uma calça jeans preta e uma blusa azul marinho. Seguimos em direção ao elevador.
- Então! Sobre o que você queria falar comigo? – pergunta John quando entramos no elevador.
- Primeiro queria agradecer por devolver meu celular, e segundo, quero devolver seu dinheiro, o dinheiro que você usou para pagar as despesas do hospital. Não tenho a quantia toda aqui, mas te pagarei o restante mais tarde. – digo lhe entregando o envelope com dinheiro.
- Eu não quero esse dinheiro de volta! – diz John.
- Eu não entendo! Por que... Por que está me ajudando?
- Eu não estou te ajudando. Só não quero escutar que alguém morreu, sendo que eu poderia ter ajudado.
- Muito obrigada! Eu realmente estou agradecida, mas eu devo devolver o seu dinheiro, então, por favor, me dê o número de sua conta bancaria para que eu possa depositar o restante do dinheiro. – digo enquanto o sigo até o estacionamento.
- Já disse! Não é preciso. Para mim essa quantia tem o valor de um chiclete. Apenas aceite, pense que é uma doação. Uma pequena doação que eu fiz a você. – Diz John entrando em seu carro.
Seguro a porta antes que ele poça fechá-la
- Sério, eu não acho que você possa comparar a ausência de minha irmã com um chiclete! Você não faz nem ideia pelo que eu passei. E eu não sou uma morta de fome que precise de doação de alguém como você! Eu não quero ficar em gratidão com ninguém, por isso irei lhe pagar cada centavo.
Ele fecha a porta no carro e dá a partida, me deixando sozinha no estacionamento.

Destino Criativo Where stories live. Discover now