Capítulo 4

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And maybe I will never feel

You gave me something so real

Shawn.
Não entendia porque gostava tanto de correr ouvindo músicas tristes. Para ele, era quase como terapia. Conseguia ouvir as batidas de seu coração e sentir cada músculo do corpo, já que nenhuma batida eletrônica tocava em seus fones de ouvido. Aquele era o terceiro fone em seis meses porque havia perdido os outros. Ou guardado em algum lugar que ele não lembrava, mas já estava acostumado a ter que comprar outro a cada dois meses.

Shawn sabia que Andrew o mataria caso descobrisse que ele estava andando desacompanhado em Nova Iorque. Mas não queria interromper o tempo de Jake com a família apenas porque ele queria correr no segundo dia do ano. Poderia ter usado a academia do hotel, mas sentia-se preso e precisava de ar puro. Mesmo que o ar não fosse tão puro quanto ele estava acostumado em Pickering. Até mesmo Toronto era menos poluída e aquilo só afirmava um amor pelo Canadá que Shawn já sentia em toda sua alma. Estava sentindo falta de casa e o pensamento de que deveria passar todo o mês em Nova Iorque lhe incomodava. Preferia Los Angeles, mil e uma vezes.

Atravessou a rua do hotel e ocupou a calçada, iniciando a corrida em seguida. Havia se alongado no quarto e tudo o que precisava era correr até sentir suas pernas doerem. Cinco quilômetros seriam o suficiente para aquele dia, enquanto a playlist com as músicas mais tristes tocava. A corrida impedia seu coração de sentir saudade pois sua mente estava focada em outra coisa. Mas Mendes não conseguia deixar de pensar em Maria Eduarda a cada canção que tocava. Ela estava em tudo o que ele pensava, tudo o que desejava. Não conseguia fazer qualquer coisa sem que uma lembrança dela tomasse seus pensamentos. Naquele momento lembrava da vez que haviam se esbarrado em Toronto, mesmo que eles nem tivessem conversado. Shawn sabia que ela estava fugindo de Becca, achando que a loira a estava perseguindo, e um sorriso bobo tomou seus lábios. Madu era tão única, tão... ela. E ele sentia tanta saudade da singularidade dela e tinha certeza que nunca encontraria ninguém como ela.

Seu sorriso frouxo se transformou em uma careta ao mesmo tempo em que XO, na versão do John Mayer, começava a tocar nos fones de ouvido. Shawn respirou fundo, focando sua atenção na corrida e tentando afastar as lembranças de sua mente. Não queria lembrar da noite no boliche. Não queria lembrar que aquela havia sido sua última noite juntos antes de tudo desandar. Eles haviam dançado em um lugar que não era próprio para aquilo e feito promessas silenciosas de que tudo voltaria ao normal quando a turnê acabasse. E Shawn havia contado tanto com aquilo, havia esperado e desejado tanto. Estar vivendo uma realidade que ele nunca havia planejado ou cogitado era terrível, principalmente quando lembrava do quão feliz estava antes de viajar.

Deveria ter ficado. Deveria ter implorado para Maria Eduarda o acompanhar. Deveria ter feito mais do que realmente fez, mesmo que no fundo de sua mente, ele soubesse que a culpa não era sua. Outras pessoas haviam magoado a garota a ponto de deixar a permanência dela em sua vida impossível. Mas saber daquilo não amenizava a culpa que ele sentia. Sua mente continuava a lhe sabotar todos os dias e Shawn estava cansado. Precisava de um tempo, de uma folga. Precisava de sua casa. E em todo o momento que a música tocou, ele sentiu a saudade esmagar seu coração. Precisou se controlar para não pegar o celular e ligar para ela. Implorar para que tentassem mais uma vez. Prometer que faria de tudo para mantê-la segura. Mas seria egoísmo seu. Sabia que Madu estava sofrendo tanto quanto ele e que voltar para aquele relacionamento acalmaria seus corações, mas que a garota voltaria a se machucar.

E ele não queria vê-la machucada.

E por isso aumentou a corrida e esperou que a saudade diminuísse. Porque mais cedo ou mais tarde, ele precisaria se acostumar com a falta de Maria Eduarda. O riso dela seria apenas uma lembrança e o gosto do beijo dela não seria tão intenso em seus pensamentos. Shawn iria se acostumar com a falta do português dela e também do abraço apertado que ela lhe dava. Iria se acostumar com a falta do olhar admirado que ela lhe lançava. Iria se acostumar com a falta do amor dela, mesmo que ela ainda o amasse. Precisava se acostumar. Um dia, mas não naquele. Ainda era muito recente e ele se deixaria curtir a fossa. Precisava daquilo.

Nobody Will Ever Be Like You [Shawn Mendes]Onde histórias criam vida. Descubra agora