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Eu estava na aula de matemática mais demorada da minha vida. Eu havia acordado muito ansiosa, e o tempo tende a se arrastar quando estou assim, o que é um saco.

A Professora Suzan passava uma bronca em alguém que usava o celular em sala e eu brincava com meu lápis em minha carteira, não conseguindo me concentrar em mais nada que não fosse Scott Parker. Depois de ter mais algum tempo para pensar eu levei em conta que aquilo podia ser um alarme falso, que Scott pudesse ter tido uma alucinação ou algo do tipo. Mas aquela era minha única esperança e eu ia me agarrar a ela até o último segundo. Não que eu tivesse esperanças de que Julian voltasse, eu apenas precisava entender.

Finalmente o sinal tocou, eu joguei a mochila sobre meu ombro e corri para o carro, dei uma rápida olhada no espelho do retrovisor para conferir se estava apresentável e dirigi até a casa de Scott. Eram 4 da tarde quando cheguei, eu estava soando e senti que tremia. Droga de nervosimo! Antes que eu pudesse desistir eu toquei campainha, alguns segundos depois um homem que não aparentava ter mais de 40 anos atendeu a porta, supus que aquele seria o pai de Scott.

-Senhor Parker?

O homem franziu a testa, e me ofereceu um sorriso amigável.

- Ah não, não. O Sr.Parker está trabalhando, eu sou Jhon, o mordomo.

- Ah! certo. - respondi corando -Por a caso eeer...Scott, está? gostaria de falar com ele.

- Claro, entre vou chamá-lo.

Eu entrei um pouco indecisa, mas eu estava realmente determinada. Ele morava numa casa bonita afinal, a sala de estar era ampla e bem decorada, com parades pintadas com cores vivas e chamativas. Eu sentei em um sofá no meio da sala d esperei,c om meus pensamentos a mil, me perguntando se realmente devia ter vindo.

Dois minutos depois um jovem descia a escada, e meus olhos imperceptível se arregalaram. Scott era ainda mais bonito de perto, ele tinha um estilo que era de se espantar. Tudo bem, talvez eu estivesse exagerando já que ele estava de pijama, mas mesmo assim, não era qualquer um que ficava tão bem de pijama.

 - Olá - ele cumprimentou com a sobrancelha erguida - Reporter? de que jornal dessa vez? juro que não consigo mais repetir o que aconteceu pra ninguém.

- Olá Scott, sou Jenny, e não, eu definitivamente não sou uma reporter.Só quero conversar sobre o que aconteceu com você. Aconteceu algo parecido, com um amigo a 2 anos e eu presenciei o acontecido, mas ele não teve a mesma sorte que você, ele se foi. - Scott fez uma cara que beirava a surpresa - Só quero entender o que aconteceu, e acho que você pode me ajudar.

 Admito que me arrependo de ter falado tudo tão rápido, dado o fato de que Scott ficou "em choque" assim que acabei de falar. Alguns segundos depois ele murmurou alguma coisa sobre trocar de roupa, e subiu as escadas. Dez minutos depois ele estava de volta vestindo um jeans e um moletom, ele fez um gesto para que eu o acompanhasse e nós saímos ao ar livre.

Caminhamos em silêncio por alguns minutos e eu deixei que ele me guiasse, paramos em um café e depois que fizemos nossos pedidos ele desatou a falar.

- Olhe Jenny, tenho uma coisa a falar e espero realmente que você não tenha inventado toda essa história sobre o seu amigo. Escute, alguns dias atrás antes de o episódio do clarão branco acontecer, eu fui abordado por dois homens, por sorte eu consegui me livrar deles antes que eles me imobilizassem. Durante uma semana, eu senti que estava sendo vigiado e escutava sussuros por onde ia.Então, uma vez, enquanto dirigia até a escola eu reconheci os dois homens que haviam me abordado uma semana atrás, e sem meu comando, ou talvez eu estivesse tão distraido que não me dei conta do que estava fazendo, eu parei o carro. Os dois homens me viram,e o rosto deles foi a última coisa que vi antes de o clarão branco explodir e eu desmaiar.

Ele fez uma pausa,como se para decidir se revelaria a informação que guardava. Confesso que me impressionei um pouco, quando pesquisei na internet não encontrei detalhes, o que significava que ele não havia dito muita coisa. Agora vejo que como eu, ele também omitiu informações, talvez tivesse duvidado de sua sanidade ou teve medo de falar, mas agora que soube que ele não foi o único percebeu o grau de importância do ocorrido. Como ele estava demorando a falar, eu o incentivei.

- Como eram esses homens? você lembra?

 - Ah como eu gostaria de não lembrar. Sim, eu lembro, me recordo de cada detalhe e não estou me vangloriando por isso.

- Então me fale oras! os descreva por favor, acredito que não exista nenhum ser humano existente que a polícia não possa rastrear com um bom retrato falado!

- Justamente Jenny - ele falou, seus olhos derrepente se tornando sombrios e frios - acontece, que pelo que vi, eles não eram exatamente humanos.

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Deitada na minha cama mais tarde eu tentava absorver o que Scott tinha me dito. Nós tinhamos nos despedido com a desculpa de que tinhamos um compromisso marcado mesmo eu sabendo que nos dois estavamos mentindo. Mesmo assim, trocamos os nossos números de telefone com a promessa de no dia seguinte marcar um novo encontro para conversar melhor.

Durante todo esse tempo depois da morte de Julian eu já havia ligado sua morte a várias coisas sem sentido, mas não imaginei  que aquilo pudesse ir adiante, ultrapassando os limites da mente humana. Minha imaginação limitada não havia permitido que meus estudos passasem de experiências científicas. Agora sabendo que havia uma possibilidade de Julian ter sido levado por algo de outro mundo, eu voltara a estaca zero. O que mais me atormentava era a certeza de que se eu não o tivesse convencido a ir ao cemitério naquela noite, ele não teria morrido. Algo me dizia que seja lá o que for que levou Julian, essa coisa queria impedir que eu realizasse aquilo que traria o traria  de volta. Aquela experiência estúpida tinha me custado muito mais do que eu tinha estimado.

Agora eu percebia que aquilo não teria dado certo. Por meses eu pesquisei até que encontrei uma teoria, uma teoria de cura pelo semelhante, depois de ter estudado muito eu consegui encontrar algo sobre mutações muito parecidas com as que Julian tinha sofrido e me baseei nelas para encontrar substâncias parecidas com as que supostamente tinham feito ele passar por aquelas mudanças. Me encontrei dominada pela determinação, e eu só tinha 14 anos! De acordo com o que vi, havia uma chance de encontrar as substâncias necessarias para reverter as mutações, e eu fui atrás delas, me envergonho em dizer que as consegui por roubo, mas eu estava disposta a fazer qualquer coisa para trazer o velho Julian de volta.

Bem, não teria funcionado é claro. O que havia transformado Julian era coisa de um mundo em que eu não vivia, que eu não conhecia , e eu não sabia de nada na época, aliás, não sabia de nada até Scott me falar o que tinha acontecido com ele.

Meu celular tocou me tirando do meu estupor, para minha surpresa era Scott, eu atendi imediatamente.

- Jenny - ele falou com a voz apavorada - eu preciso que você venha até a minha casa agora, por favor!

- O que aconteceu Scott?! - perguntei com o medo me envolvendo - Scott me responda!

 - Eles vieram Jenny! eles vieram me levar!

- O que? Scott?! Scott?!

A ligação foi finalizada ,e Scott não me respondeu.

Toque de RecolherOnde histórias criam vida. Descubra agora