– Ajudei? – arregalo os olhos.

– Quando me perguntou, na varanda da minha casa, se acha que vivi o inferno durante um ano, como seria em seis – ele umedece os lábios – foi nesse momento que eu percebi que não adiantaria nada ficar enrolando esse encontro com ele, que eu teria que fazer isso em breve, enquanto eu tinha tempo, porque talvez ele precisasse de algum alivio, se eu ainda valho alguma coisa para ele.

Antes que eu despejasse mais perguntas a Logan, uma sirene grita, anunciando a chegada dos presidiários aos visitantes do dia. Um policial abre as portas do fundo da sala e aos poucos, eles vão adentrando, sempre em fila, organizada e sempre bem vigiada pelos guardas.

Eu não reconheço o pai do Logan de forma alguma. Percebo que há um homem encarando Sanders com bastante intensidade, andando lentamente na nossa direção enquanto Logan devolve o gesto. Ele é bem alto e musculoso, a pele clara como a de Logan, com mais tatuagens que eu consigo contar.

Está com algemas nas mãos e em um macacão cinza claro. Ele tem uma barba grande, a careca é lisa e brilhante que eu tenho que me fiscalizar para não ficar encarando por muito tempo e acabar sendo indelicada. Ele nos alcança e se senta no lado oposto da mesa, se ajustando, mesmo com as mãos presas.

Ele ainda está nos encarando, os olhos castanhos claros que consigo encontrar em Logan. Ele coloca as mãos em cima da superfície lisa da mesa, apertando os dedos. Noto que ele tem duas argolas pesadas, uma em cada orelha.

– Logan. – é a única coisa que ele diz, após dar um largo sorriso e Logan apenas acena a cabeça.

Vejo que os dois não são muito afetuosos, os seis anos sem se verem fez algum estrago na relação deles.

– Frank. – Logan devolve o gesto.

– Você cresceu bastante. – ele dá uma risada, mostrando um dente dourado bem escondido no fundo da boca, acho que fiquei reparando demais, porque antes que percebesse, Frank Sanders estava me encarando – E a garota bonita, quem é?

– Sou Jackie, senhor. – digo meio gaguejando – Amiga do Logan.

– Entendo. – ele dá um meio sorriso capcioso – Não precisa ficar com medo, Jackie, estão me prendendo com algemas poderosas para fingir que somos bem controlados, não vou fazer nada.

– Agora entendo de onde Logan puxou o sarcasmo azedo – disparo sem querer e arregalo os olhos – quero dizer... Desculpe por isso, mas Logan tem sérios problemas em fazer piadas com situação sérias, principalmente sobre ser um ex-detento.

Frank deu uma longa risada e Logan continuo calado, reprimido e começo entender melhor o motivo de estar aqui com ele. Ele não conseguiria simplesmente falar com o pai normalmente depois de tanto rancor durante seis anos da sua vida.

Ele estava frente a frente com um estranho, praticamente.

– É mesmo? – Frank olha para Logan, depois para mim – Me conte mais sobre isso, Jackie.

– Eu acho que é uma mania. – digo dando nos ombros, percebendo que Logan tinha se tornado apenas um observador na conversa, sem saber aonde se enfiar com tanta informação – Acho que passar um ano na prisão deixou ele metido, sinceramente.

Frank diminui o sorriso.

– Lidar com a dor através do humor. – ele dá uma rápida risada – Meu pai costumava a dizer que isso era um male dos Sanders, passado de filho para filho, creio que não foi diferente com os meus.

Cruzo os braços frente ao peito.

Lidar com a dor através do humor. Acho que nunca vi as piadas de Logan indo por esse lado, uma forma de lidar com toda a droga da situação em que ele estava.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now