24. Festa do Pijama II

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Nancy é uma mulher bastante bonita, mesmo com os sinais de cansaço estampado em algumas rugas perto dos olhos. Eu sempre dava um jeito de anotar cada detalhe, imaginando o que seria dela se estivesse em circunstâncias diferentes.

Ela ensaboa os pratos, enquanto eu abro a torneira e tiro toda a espuma com a água, silenciosamente.

– Obrigada pela ajuda, Jackie. – Nancy diz e fico até comovida, talvez por causa da sua voz, baixa e serena, que fazia qualquer coisa que saísse da sua boca soasse como algo verdadeiro e puro – Apesar de trabalhar em uma lanchonete há um ano, tem vezes que parece um desafio lavar as louças aqui de casa depois de um dia cheio.

– Logan e Caleb não ajudam? Que tipo de filhos eles são? – acuso os irmãos arrancando algumas risadas dela.

– Só quando comem em casa, ou quando fazem lanches na madrugada e limpam a própria bagunça. – ela explica – São bons meninos, apesar de tudo, me ajudam quando podem.

– Bom, já que estamos falando sobre seus filhos... – aceno e olho para o prato brilhante a minha frente – Seria muita indelicadeza perguntar o motivo da rivalidade entre Caleb e Sierra? Foi bem perceptível.

– Caleb e Sierra... Por onde começar de uma rivalidade que começou há anos? – Nancy sorri ainda mais, passa alguns minutos pensando enquanto lava os pratos e continua: – Caleb sempre foi um garoto esforçado, Jackie, nunca vivemos no luxo, pelo contrário, já passamos por algumas dificuldades ali e aqui e Caleb sempre foi o mais esforçado dos três filhos, fazia o seu máximo para ajudar em casa e quando Logan apareceu com seus amigos ricos, ele ficou um pouco ofendido, digamos que ele certo receio com pessoas que tem uma vida fácil, não que seja culpa delas, mas Caleb tem essa visão um pouco imatura, acaba sendo meio ríspido com essa diferença de renda, social e tudo mais. Tyler até que conseguiu conquistar Caleb, era um garoto simpático e divertido, agora, Sierra...

– Sierra é um mistério, ás vezes compreensível, ás vezes uma vadia. – declaro e olho espantada para Nancy que se diverte com minhas verdades cruas e impulsivas – Me desculpe pelo linguajar.

– Tudo bem. – Nancy sorri e me entrega outro prato – Acho que Sierra têm um gênio forte igual Caleb, tem uma personalidade marcante, não aceita desaforo e Caleb gosta de provocar, desde então, vivem se espetando, mal sabem o quão parecidos eles são. Dariam até um belo casal, se acertassem as contas.

Dou uma risada ao imaginar Caleb e Sierra como um casal, seriam do tipo que viveriam dando respostas afiadas um para o outro, mas no fim das contas não aguentariam viver sem a presença do outro. Logo minha animação morre quando recordo do irmão do Logan falar sobre sua verdadeira origem.

– E... Você não se importa de Caleb falar sobre... – quando encaro Nancy, ela parecia estar bem concentrada nos garfos e na espuma que se formava, eu mal a conhecia e já estava fazendo perguntas impertinentes – Desculpa, estou falando demais.

– Sobre ele ser fruto de traição? – Nancy diz simplesmente, mas não detecto nenhum tipo de mágoa em sua voz – Já estou acostumada com essa história, para ser sincera, quando descobriram que minha vizinha estava grávida do meu marido... Foi um escândalo e tanto, claro que fiquei muito magoada, principalmente por estarem falando de mim pelas costas, mas eu não tinha outra alternativa a não ser ignorar.

– Deve ter sido muito difícil. – sussurro comovida com sua história – Nem consigo imaginar como deve ter sido.

– Está tudo bem. – Nancy diz, mais flexível do que eu tinha imaginado – Quando o bebê nasceu e a mãe faleceu eu até me senti culpada, sabe, apesar de tudo, eu ainda sou humana e tinha raiva da mulher que engravidou do meu próprio marido, desejei todo o mal a ela por ter feito o que fez, pra ela e pro maldito do Frank, queria que o carma voltasse a ela algum dia, porque éramos conhecidas, ela sabia que era meu marido, mas quando ela faleceu no parto... Senti muita culpa, como se eu tivesse ajudado em alguma coisa, a causa da sua morte foi devido às complicações da gravidez, mas me senti mal por ter desejado o pior para ela. Quando Caleb veio para nossa casa, eu pensei em separar de Frank de uma vez por todas, afinal... Quem iria compartilhar a mesma casa com uma criança que era filho da amante do meu marido? Como eu encararia a minha filha, Katherine, convivendo com isso tudo? Pensei em me mudar, mesmo sem condições para isso, mas quando eu vi Caleb... Aquela criaturinha, tão pequeno, todo gordinho que sorria para mim toda vez que eu fazia biquinho, que não queria colo de ninguém além do meu... Eu perdi a coragem, principalmente em deixar aquele bebê sobre os cuidados de um homem que mal sabia cuidar de si mesmo. Acabei me afeiçoando demais a Caleb. – ela dá um sorriso – Mesmo todo mundo falando nas minhas costas, sobre eu ser uma idiota, burra, uma pobre coitada que foi traída, eu nunca me arrependi da minha decisão, de assumir o garoto como um filho, mesmo com tudo isso, meu alívio foi olhar pro rosto de Caleb e ouvi-lo me chamar de mãe.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now