Capítulo 19

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Quando eu acordei de um cochilo habitual de fim de tarde, encontrei o bilhete que Janish havia colocado ao lado do meu travesseiro. Ele dizia que me amava e que tinha ido ao lago banhar-se, mas que voltaria logo. Penteei o meu cabelo ondulado com os dedos e me arrastei para fora da barraca, para logo, ser surpreendida por um vampiro pálido de olhos verdes.
  − Jess! O que está fazendo aqui? Janish já vai voltar!
  Um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
  − Olá Abelhinha. Talvez o seu namorado demore um pouco, eu não sei precisar. – ele pronunciou a palavra “namorado” de modo grosseiro. – Mas eu estou seguro de que você vai gostar de saber o que ele anda fazendo.
  “O que ele anda fazendo?”
  − Do que você está falando?
  − É bem pequena. – Jess apontou a barraca. – Como vocês conseguem viver aqui?
  Isso realmente não me importava.
  − Jess, o que você quer dizer com o que Janish anda fazendo?
  Ele meneou a cabeça de forma irritante.
    − Eu não vou dizer. Você não acreditaria. Se quiser mesmo saber, vá ao lago.
  − Está brincando comigo?
  − Oh não. E devo dizer que vai gostar muito do que irá ver.

  Eu não podia ficar com a dúvida. Corri imediatamente para o lago com todas as minhas forças, como se a minha vida dependesse disso. Os galhos de algumas árvores me machucaram impiedosamente e o vento gelado cortou o meu rosto. O trajeto nunca me pareceu tão longo. Mas ao chegar, compreendi que Jess tinha toda a razão.
  Agachei-me atrás de uma rocha e espiei por cima dela. Os meus olhos não podiam estar me enganando. Comecei a me aproximar devagar tomando cuidado para não fazer barulho, para não ser notada, e então, tive realmente certeza do que estava vendo. Janish estava agora pescando um peixe utilizando magia. Janish estava usando magia. Janish era um bruxo. Janish... Ele movimentava as mãos acima da abertura feita no gelo enquanto um peixe se debatia freneticamente tentando voltar para o fundo do lago. Ele era um bruxo... E isso mudava tudo.
  − Janish... – chamei enquanto me aproximava. Ele ficou tremendamente assustado ao me ver. Agora o frio já não me importava, pois nada era mais importante do que isso. Janish era um bruxo como eu, como Neil, como os outros...
  − Você é um bruxo! – Exclamei um tanto aturdida correndo freneticamente em sua direção, meus joelhos tremendo, e meus olhos não desgrudando do rosto dele.
  − Melissa, não...
  A essa altura eu já estava próxima o bastante para tapar-lhe gentilmente a boca com a minha mão. Seu olhar demonstrava medo.
  − Não diga nada. Destiny Hope.
  Ele me olhou como se não entendesse nada. Eu retirei a varinha do colar e fiz a minha confissão silenciosa. Quando ele a pegou, nossos olhos brilharam em uma mistura mútua de aceitação, alívio e surpresa. Janish me abraçou e em seguida fomos correndo para a barraca. Ao chegar, ele me surpreendeu aumentando consideravelmente o tamanho da nossa casa e fazendo surgir de sua mão direita um sofá marfim, onde eu caí, profundamente agradecida. Ele repetiu o meu gesto.
  − Tenho muita coisa para contar. – disse ele, acariciando o meu cabelo.
  − Talvez eu tenha muito mais. – ele sorriu. − Mas vou deixar você que comece.
  Janish se endireitou no sofá, esfregou as mãos uma na outra e começou a falar.
  − Precisamente eu nasci num lugar chamado “Praça do Diário” em Aurora. Mas minha família mudou-se para Horizonte Azul, onde vivemos por muito tempo, onde eu passei toda a minha infância.
  Eu não estava acreditando. Horizonte Azul era um vilarejo pequeno onde todos se conheciam, e então...
  − E você...
  Não deixei que ele terminasse de formular a pergunta.
  − Janish, sua mãe, Anna... Ela morava na Praça do Diário?
  − O meu pai morava na Praça do Diário. Minha mãe sempre morou em Horizonte Azul.
  Então Neil, Kenzie e os outros conheciam Anna há muito tempo. Por que ninguém nunca me disse nada? Por que Laura e Lizzie não me disseram nada?
  − E de onde você é? – perguntou ele.
  − Janish tudo o que você sabe sobre mim é verdade. Sou mesmo de Regina e faz pouco tempo que sei que sou uma bruxa.
  − O seu pai já sabe?
  −Ele nem pode desconfiar. Iria achar que eu fiquei louca ou algo assim. – Janish fez cara de espanto. – Tudo bem, eu entendo. Ninguém da minha família é bruxo, e eu realmente não sei por que eu sou uma.
  Ele se mostrou ainda mais surpreso.
  − Eu não entendo... Isso não é comum. É quase impossível que um bruxo passe o seu poder para um ser humano comum. Que razões um bruxo teria para fazê-lo? Tem que haver uma razão muito forte.
  − Não tenho a mínima ideia de quem possa ter sido.
  Cocei os joelhos enquanto Janish ainda estava em transe. Eu não conseguia pensar em ninguém que pudesse passar a magia para mim.
  − Quando um bruxo – começou ele. – passa o poder para o seu filho, nada é alterado nele, o bruxo permanece como era, ou até se torna mais forte. Mas ao fazer isso com outra pessoa, tal bruxo quebra o elo familiar, um elo sagrado, e como consequência, perde todos os seus poderes. Eu nunca pensei que alguém fosse capaz de renunciar a sua magia e repassá-la a outra pessoa sem ao menos consultá-la, ou informar sobre os riscos.
  − Riscos?
  − Sim. Não sabemos que idade você tinha quando recebeu a magia. Na maioria dos casos a magia é concedida assim que a criança nasce. Em outros casos os pais esperam que a criança cresça para poder usar seus poderes com mais responsabilidade, mas nesses casos é necessária uma atenção especial. A criança precisa ouvir histórias e aprender sobre magia para que possa suportar a transição. E olhe para você... – Ele acariciou a minha bochecha direita. – É totalmente saudável, como pode reagir tão bem a recepção de magia sem ao menos ter conhecimento dela?
  Janish tinha razão. Tudo era mesmo muito estranho.
  − Isso é um mistério. Eu não sei como isso aconteceu, mas conte-me sobre você. Quando e por que você e sua família saíram de Aurora?
  Seu olhar ficou triste.
  − É um pouco complicado... Mas vou tentar explicar. Quando eu tinha treze anos, aconteceu uma tragédia na minha família, meus avós maternos foram assassinados e desde então a minha mãe não pode ouvir falar sobre Aurora. Ela tinha conhecimento de um portal mágico construído por uma bruxa adolescente muito poderosa, Destiny Hope, a que você mencionou para abrir o seu colar. – um pequeno fio de felicidade me percorreu ao ouvir o nome dela. – E quando os meus avós foram enterrados, minha mãe nos trouxe para cá.
  Mesmo sendo doloroso para mim, tive que perguntar.
  − Por que os seus avós foram assassinados?
  Ele desviou o seu olhar do meu ao responder:
  − Eles não eram interessantes para o governo porque não podiam mais trabalhar. Foram terrivelmente assassinados porque pediram pelo direito de viver. Porque a nossa família participava de uma organização que pedia mudanças. Uma organização que lutava contra o Rei.
  − Você também participava? − perguntei incrédula.
  − Sim. Mas saí um pouco antes do início das aulas.
  − Não acredito... Janish eu... Eu pertenço a esta organização.
  Seus olhos brilharam em surpresa. Não existem palavras que definam o que eu senti após aquela descoberta.
  O tempo todo nós éramos iguais, apaixonados e lutando pelo mesmo objetivo. E o tempo todo eu me culpava por não poder dizer a verdade, a nossa verdade, o nosso segredo. Algo que poderíamos ter compartilhado há tanto tempo.
Passado um pouco o choque, perguntei:
  − Por que você saiu da organização?
  Ele limpou a garganta e agora sua expressão estava mais séria.
  − Tive uma discussão com Neil Clarke. Ele não queria que eu participasse mais da organização e não queria me dizer o motivo.
  − Como assim? Neil não pode andar dispensando seguidores. O que o levou a fazer isso?
  − Desconfio que ele fez isso devido aos pedidos insistentes de minha mãe. Ela não aceitava o meu envolvimento, é claro. Tinha medo que algo ruim acontecesse comigo. Mas não posso deixar a morte dos meus avós ficar impune, não importa se o governo acredite que pode matar as pessoas. Realmente não me importa.
  − Você tem razão. Nós vamos conseguir. Vamos agora mesmo à casa dos Clarke.
  – Agora? – ele perguntou incrédulo.
  – Sim, agora! Nós precisamos voltar à organização imediatamente.
 
  Juntamos todas as nossas coisas e partimos em direção às Aurora. Eu me sentia extremamente feliz e excitada com a ideia de voltar à Aurora. Me despedi silenciosamente da floresta, que apesar de ter sido uma experiência dolorosa, foi algo que me trouxe coisas realmente importantes.
Meu coração começou a bater freneticamente quando Janish e eu finalmente chegamos. Nós paramos e contemplamos a casa grande, de madeira, com as luzes apagadas, embora eu soubesse que lá dentro havia alguma luz magicamente acesa.
  − Apesar de tudo, sinto saudade deles. − Janish sussurrou. Um arrepio me percorreu e meus olhos ficaram marejados.
  − Também sinto saudades e você não imagina o quanto.
Se aproximava das dez da noite, e não podíamos arriscar em hesitar nem um minuto mais. Temerosa e olhando para a rua, golpeei a porta três vezes, enquanto Janish se escondia do meu lado esquerdo. Esperei alguns instantes e como não houve resposta, bati outra vez.
  − Quem está ai? − perguntou uma voz urgente, nervosa. Neil estava realmente preocupado por algo.
  − Sou eu, Melissa!
  Imediatamente a porta se abriu e eu vi um Neil dez anos mais velho desde a última vez.
  − Melissa... − ele suspirou ainda não me vendo.
  − Entre. − ele pediu e em seguida deslizei para dentro com Janish em meus calcanhares. Ele fechou cuidadosamente a porta enquanto eu desfazia o meu feitiço da invisibilidade. Neil me deu um abraço sufocante que quase me deixou sem ar.
  − Onde você estava? Onde...
  − Eu tive que fugir Neil... Não havia outro modo...
  Ele acariciou o meu cabelo com as mãos trêmulas. Tive impressão de sentir uma lágrima escorrendo rumo ao meu ombro.
  − Me perdoe por isso... − eu pedi com a voz entrecortada. Havia um nó na minha garganta, mas eu não sabia por que ele havia se formado.

  − Você não tem que pedir perdão... − ele disse suavemente. Acariciei o seu rosto enquanto os seus olhos encontravam os meus. Eles estavam tristes e preocupados.
Neste momento, Janish se tornou visível para o espanto de Neil.
  − Olá, Neil. − ele disse com uma voz um tanto áspera. O meu amigo ficou em silêncio por alguns instantes. Até que Kenzie apareceu na sala. Ela estava um pouco estranha, usava um avental de cozinha amarrotado, seus cabelos estavam despenteados e ela parecia ter chorado a noite inteira. Assim que me viu, começou a chorar e correu para me dar um abraço apertado.
  − Querida... você está... bem? – Me perguntou entre soluços.
  − Sim, estou bem.
  − Não sabe o quanto... não imagina o quanto ficamos preocupados...
  − Tudo bem Kenzie, mas espere. – ela parou e eu pude me desvencilhar do seu abraço. Olhei firme para Neil. – Nós precisamos esclarecer algumas coisas. Por que você tirou o Janish da organização? Por que... Por que nunca me contaram nada?
  Neil levantou as mãos em defesa e respirou fundo.
  − Eu posso explicar tudo. Para mim não foi fácil tomar esta decisão. Sei que não foi o correto e não estou numa posição confortável a ponto de poder tirar pessoas da organização. Mas me senti pressionado. Anna não me deixava em paz sobre isso. Ela queria desesperadamente que Janish saísse da organização e passasse a viver uma vida normal, uma vida sem magia.
  − Não acredito que por isso...
  − Deixe-me continuar. – ele me cortou. – Em sua última visita Anna deixou implícito que se Janish não saísse da organização ela nos denunciaria. E isso me fez ter um pouco de receio. Tenho certeza de que ela é capaz de fazer algo assim.
  Eu não queria acreditar. Não porque achasse que Anna não seria capaz de fazer algo assim, mas por Janish. Era notável o sofrimento em sua face e em seus olhos. Eu segurei a sua mão e desejei que toda aquela dor fosse embora rápido, mesmo sabendo que era inútil.
  − Eu não posso acreditar... – Janish suspirou. – Minha mãe não podia ser capaz de nos entregar...
  − Sinto muito Janish, − Neil começou. – Anna é uma covarde. E tenho orgulho de que você não seja como ela.
  − Você tem razão, Neil. – Janish disse limpando uma lágrima. – Minha mãe não desistiu por um motivo fútil, mas ela deveria ter lutado por justiça.
  − Quando vai ser a próxima reunião? – perguntei tentando mudar de assunto.
  − Amanhã. – respondeu Kenzie, entendendo a minha deixa. – Agora vocês devem estar com fome, vou preparar alguma coisa para...
  − Por mim não se incomode, Kenzie. – Janish disse, triste. – Quero apenas descansar.
  − Claro querido, pode usar o quarto de hóspedes.
  Ele pediu licença e se retirou. Meu coração estava em pedaços.
  − Eu vou até lá.
  − Melissa, − disse Kenzie, segurando o meu braço. – Talvez ele queira ficar sozinho, você não acha?
  − Não...− meneei a cabeça com convicção. – Tenho que ir, eu não posso ficar bem se ele não está.
  Bati três vezes na porta do quarto de hóspedes e quando entrei me deparei com o meu namorado completamente perdido em pensamentos, sentado na beira da cama e com a sua mochila jogada ao chão. Suas roupas estavam sujas e ele não se importava em manchar os lençóis.
  − Posso ficar um pouco com você? – perguntei baixinho. Ele acenou em resposta e me chamou para sentar ao seu lado. Toquei o seu cabelo. – Não gosto de te ver triste.
  − Não estou triste.
  − Não acredito.
  Ele me olhou com um pequeno sorriso.
  − Está bem. Vamos continuar conversando sobre como você descobriu que era bruxa.
    Então eu contei tudo, desde o momento em que o pássaro apareceu no colégio até quando eu destruí o museu. E é claro que Janish ficou totalmente impressionado.
  − Eu não posso acreditar... Você é mesmo uma... Uma Vower?
  − Uma Vower que não consegue controlar os seus próprios poderes.
  Nós rimos juntos. Para mim era uma coisa absolutamente normal ser uma Vower, apesar dos treinos irritantes e cansativos, eu já tinha me acostumado com a ideia.
  Em seguida Janish tocou o meu colar.
  − Este colar pertenceu a Destiny Hope Clarke. E eu tive a honra de ganhá-lo.
  Levantei e fiz uma singela reverência ao entregar-lhe o colar. Ele examinou minuciosamente aquele pequeno Poliguador.
  − Uau... Não há sinal algum de magia, nenhum vestígio de que foi alterado. − Janish levantou o pássaro acima de sua cabeça.
  − Hope sabia como fazer. – Eu disse, orgulhosa.
  Houve uma pausa, e então algo realmente importante me ocorreu.
  − Janish eu realmente agradeço por confiar em mim. A noite que eu passei fora do colégio... Eu estava aqui... Foi a noite em que eu destruí o museu. Não consegui voltar porque além de estar assustada e precisar entender o que havia acontecido, eu estava machucada.
  Janish arregalou os olhos em preocupação.
  − Não foi nada grave, e Neil cuidou dos meus ferimentos. – seu olhar estava cansado. − Você quer dormir agora?
  − Acho que sim.
  Dei-lhe um beijo de boa noite e em seguida me encontrei com Kenzie que preparava o quarto de Stacy para mim. O quarto era extremamente grande, com um papel de parede rosa, e alguns enfeites de menina que me faziam recordar um pouco do meu próprio quarto. Havia um espelho do meu tamanho numa das paredes e um banheiro só pra mim. Sobre a mesinha de cabeceira havia a foto da verdadeira dona do quarto, Stacy Clarke. Ela era decididamente linda, e usava um chapéu com um pequeno laço rosa, um par de luvas brancas e sorria para a foto, apoiando o rosto com as mãos. Eu segurei o porta-retratos em minhas mãos e, com isso, Kenzie parou o que estava fazendo.
  − É parecida com você. – Eu disse suavemente. Coloquei de volta no lugar e me virei para encará-la. Seus olhos brilhavam e de alguma forma eu sabia que eram por lembranças boas de sua filha.
  − Sim. – ela confirmou com a voz um pouco rouca, cheia de saudade. – Este era o quarto dela, mas prefiro não falar sobre ela agora. – ela sorriu para mim. – Descanse. E se sentir fome é só ir até a cozinha.
  Antes de ir embora, ela me deu um beijo na bochecha, como minha mãe fazia todas as noites antes de eu ter treze anos. Me perguntei se Kenzie também imaginou que eu pudesse ser a sua filha.
  Após um banho, eu me deitei na cama macia e confortável de Stacy, e imaginei por um momento como seria bom se ela pudesse voltar, como Kenzie e Neil ficariam felizes, e toda a organização também. Mas eu não podia me permitir tamanha ilusão, Stacy estava tão morta quanto Regina, e os mortos não podem voltar. O pensamento me fez ter raiva. Raiva por Shannon que a essa altura formava uma nova família com o meu pai, raiva por ele ter sido tão cruel me abandonando, e raiva por pensar que se algum detalhe tivesse sido diferente a minha mãe podia estar viva. Inclusive se eu tivesse prestado mais atenção ao comportamento dela, as coisas poderiam ter sido bem melhores para as duas. Girei o meu corpo na cama e fechei os olhos com força. Eu não podia mais pensar nisso, não podia mais querer viver pensando no passado. Agora eu tinha uma nova família, uma missão, um namorado, amigos, e a única parte do meu passado que me interessava era o meu padrinho.
  Um baque súbito me despertou. Pessoas batiam desesperadamente à porta e isso decididamente não era normal num lugar como Aurora. Ao olhar pela janela me deparei com meus amigos, Marcell, Esdras, Mar e com a minha não amiga Alana. Mar chorava, Alana sacudia as mãos em notável pavor, Esdras e Marcell conversavam coisas desconexas ao mesmo tempo em que esmurravam a porta. Desci as escadas o mais rápido que pude e cheguei a tempo de encontrar Neil já abrindo a porta e os quatro adentrando a casa. Janish veio logo atrás seguido de perto por Kenzie.
  − Uma tragédia! – gritou Mar. – Vai acontecer uma tragédia!
  − Acalme-se... – eu a abracei e ela chorou ainda mais. Em meio aos soluços de Mar, Alana correu para os braços de Janish.
  − Você voltou... – ela disse soluçando desesperada, e começando a chorar. – Eu não posso acreditar que tenha voltado...
  − Errr... Sim. – ele se desvencilhou rapidamente do abraço e se aproximando de mim. – Mas o que está acontecendo?
  − O que vai acontecer, − falou Marcell, limpando o suor do rosto. – É uma chacina. Amanhã... – ele respirou profundamente. – O Rei ordenou o assassinato de todas as crianças do orfanato de Horizonte Azul... Isso é o que vai acontecer...
   Eu realmente não estava entendendo... Ou não podia acreditar
  − O quê? – Neil perguntou, boquiaberto. – Como isso aconteceu, por quê?
  − Esperem! Antes de qualquer coisa, acalmem-se. – disse Kenzie, pegando Marcell pela mão e levando-o para o sofá. – Agora, conte-nos tudo.
  Ele se sentou, respirou fundo algumas vezes antes começar a falar.
  − Por alguma razão chegou aos ouvidos de uma das crianças do orfanato que a pessoa que destruiu o museu é uma heroína que está aqui para salvar Aurora das garras do Rei, para dar uma vida melhor para as pessoas, e também para as crianças órfãs. O problema é que esta criança não devia ter falado tanto. Uma das educadoras levou o caso para o Rei, que foi inflexível, decidindo que todas as crianças deveriam morrer, para que sirva como exemplo para todos.
  − Isso é doentio, Marcell. – comecei. – Eu não consigo acreditar que alguém possa ordenar o assassinato de crianças.
  − Uma coisa. – Neil disse. – Tenho certeza de que o Harold nunca diria nada sobre a existência da Melissa, mais por medo do que por lealdade, mas quem pode ter sido? Tem que ser algum de nós.
  Todos ficaram em silêncio, e mesmo que a resposta fosse óbvia para mim, isso não importava agora.
  − Isso não vem ao caso, Neil. Precisamos nos concentrar agora no que nós vamos fazer para evitar que isso aconteça. – eu disse.
  − Evitar? – Esdras perguntou indignado. – Como você quer evitar isso? Como vamos lutar com centenas de Guardas Reais? Isso é impossível!
  − É claro que é possível, Esdras! Se estivermos juntos, sim, é possível. O que não podemos é cruzar os braços e esperar que as crianças sejam assassinadas.
  − Mas eles são muitos...
  − Não, não são. – eu estava gritando agora. – Estas pessoas... Os camponeses, os escravos, eu vejo que eles querem lutar, eles precisam lutar, e talvez a única coisa que falta, é um líder. Nós somos maioria, mesmo que o exército do Rei seja imenso, nós ainda somos maioria. Se não fôssemos a maioria, não existiria a nobreza.
  Alana me olhou desconfiada.
  − E o que fazemos se na hora ninguém resolver lutar? – ela perguntou.
  − Eles vão lutar. – assegurei. – Não vão permitir que suas crianças sejam mortas assim.
  − Temos que repensar – Neil disse, me olhando nos olhos. – Você ainda não está pronta, ainda não domina o Vowerismo, ainda precisa treinar.
  − Me perdoe Neil, mas os seus treinamentos não estão se mostrando eficientes. Talvez eu precise viver a coisa na prática.
  Seus olhos brilharam em aceitação e possivelmente em orgulho.
  − Mas, Melissa, − Esdras começou. – Supondo que o plano funcione e que consigamos salvar as crianças, onde elas vão viver? Terão que se esconder por um longo tempo.
  Imediatamente algo me ocorreu. Uma lembrança do Diário de Hope.
  − Não se preocupe com isso, tenho o lugar perfeito. Pensemos apenas no nosso plano.







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⏰ Last updated: Sep 12, 2019 ⏰

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