Capítulo 10

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As garotas já estavam dormindo quando eu levantei sorrateiramente, arrumei uma pilha de travesseiros sobre minha cama e cobri com o meu cobertor. Parecia realmente eu ali.

Nos fundos da Hieróglifos e glifos Harold se preparava para dormir. Ele usava um tipo de camisola com mangas compridas que havia sido branca há muito tempo, um par de meias e uma touca grande combinando. Os cabelos longos e brancos caiam desgrenhados por suas costas.

− Oi Harold!

− Ahhh! − ele gritou abismado, puxando sem querer sua longa barba. − O que você faz aqui? Já fechei a loja há horas.

Eu fui objetiva.

− Terei que pedir que você me deixe passar então.

− Realmente não. − ele tentou ser firme, mas falava com a voz trêmula. − Você vai embora e não vai mais voltar!

Por que ele tinha que querer ser tão inflexível?

− Por favor, não seja covarde, eu vou sair invisível!

Suas sobrancelhas se juntaram enquanto ele pensava, pensava e pensava. E quando ele finalmente cedeu, eu fui caminhando pela escuridão de Aurora até a casa dos Clarke, tomando cuidado para não pisar em algum graveto e fazer barulho. Não havia realmente ninguém ali, mas eu não queria correr o risco de ser pega novamente.

A primeira visão que tive foi um lindo vampiro sentado no banco marfim, certamente à minha espera, vestido em trajes sociais parecidos com os que Janish usara em nosso primeiro encontro. Eu me aproximei e fiquei surpresa quando ele olhou exatamente para mim dizendo:

− Olá Melissa.

Girei a varinha ao mesmo tempo em que me sentei ao lado dele.

− Você me viu?

Ele balançou a cabeça.

− Apenas senti o seu cheiro e ouvi a batida do seu coração.

É claro, vampiros tem sentidos bem apurados.

− Oh me desculpe.

− Tudo bem, Abelhinha.

− Abelhinha?

Ele sorri.

− Tem a ver com o significado do seu nome. Melissa foi uma princesa mitológica que foi transformada em abelha após a sua morte.

− Eu conheço essa história, o meu padrinho me contou algumas vezes.

A princesa Melissa alimentava Zeus com mel extraído das flores ao invés de leite e quando ela morreu, ele a transformou em uma abelha por gratidão. De qualquer maneira eu estava muito longe de ser uma princesa. Eu me recostei no banco marfim e olhei para o céu que estava maravilhoso com estrelas infinitas de diversos tamanhos. E quando eu retornei o meu olhar, Jess me olhava como se eu fosse algum tipo de relíquia.

− Por que você está fazendo isso? − ele perguntou suavemente. Eu ergui uma sobrancelha.

− O quê?

− Você tem uma vida formada lá fora. Tem um padrinho, amigas. Por que você quer arriscar a sua vida entrando nessa organização e ficando perto de mim?

Joguei o meu corpo para frente e segurei a sua mão com firmeza. Ele ficou um pouco assustado ao sentir o meu toque, um toque humano que não devia sentir há anos. Eu comecei a falar devagar.

− Você pode estar certo. Qualquer um que veja a situação de fora vai achar que eu sou louca, mas... isso também é um mistério para mim. A verdade é que eu preciso fazer parte de um grupo e Aurora é o único lugar onde eu me sinto viva e feliz. Eu tenho uma família lá fora, mas não me sinto em família, tenho uma vida, mas não me sinto viva. Eu tenho um lugar no mundo, na minha casa, mas eu sempre me senti fora contexto. Eu sei que há coisas inexplicáveis neste momento, como por exemplo, a minha ligação com você.

AuroraWhere stories live. Discover now