o quarto

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Foi naquele escuro que eu apenas escutava a respiração ofegante nos meus ouvidos. O ar quente descia pelo meu pescoço, me arrepiando todo. O toque dos corpos estava na maior excitação. O desenrolar dos beijos. O toque dos lábios. A mão subindo e descendo pelas minhas costas...Ah! Por um momento achei que meu corpo não fosse suportar tamanho prazer, mas ali tudo era possível.

Aquele era o homem que eu desejava. Era com quem eu queria estar. Sentia o gosto do pecado espalhando pelo meu corpo. "Eu não podia estar com ele, ou podia?" "Era minha culpa, ou dele?" "Esse momento vale esse risco todo, tanto para mim quanto para ele?". Nada disso importava verdadeiramente; o prazer conseguia inibir meus pensamentos, até mesmos os mais sinceros.

O movimento do vai e vem era bom, prazeroso, relaxante. Eu sentia uma mistura de sentimentos que nunca tinha sentido com outro homem. Uma dor subia pelo meu pescoço- ela provinha de uma mordida que eu levei no ombro. Todavia, o prazer estava tão intenso, que a dor se tornava um relaxante, tanto para o corpo quanto para a alma. "Como isso é possível?" eu tentava pensar naquele momento. "Não tem como ser possível"," Ele é tão mais velho do que eu", " Será que ele tem filhos?"...Eu não precisava dessas respostas. Nada disso era relevante o suficiente para eu me importar.

Então, aos poucos, aquele ato que exalava suor e prazer foi chegando ao fim. Da cama, ele foi para o banho; e eu fiquei deitado. De onde eu estava, conseguia ter acesso ao quarto todo. Do meu lado direito tinha uma cômoda branca, com alguns porta retratos em cima, mas não conseguia identificar quem era nas fotos. Ao lado dessa cômoda tinha um abajur, o qual eu não conseguia identificar as cores dele. Uma mistura de palha, com marrom café e marrom terra. Do meu lado direito, tinha uma escrivaninha, com alguns livros jogados nela. No centro do quarto, o tapete branco dominava. A cor branca era tão forte, que eu não conseguia fixar meus olhos nele.

O quarto era praticamente todo branco, exceto pelo abajur. Sentia-me em um ambiente pacifico e angelical, composto de uma força negra, que era eu. Eu não podia me culpar por aquilo, o desejo era maior. Sempre tive problemas em conciliar minha mente com o certo e errado. O que é certo e errado? Quem é que dita as regras? Quem seriam essas pessoas tão importantes, a ponto de fazer eu me sentir mal pelos meus atos? Acho isso tudo uma grande manipulação que sofremos, ou seria uma forma de evitar problemas? Não sei- é apenas o que eu consigo pensar.

Ainda na cama, consigo ver a porta do banheiro aberta. Subia de lá de dentro, uma fumaça. Se eu focasse bem, conseguia ver aquele homem. Mas quem seria ele? Essa informação eu não gostava de compartilhar nem mesmo comigo. Pode até parecer estranho, mas eu não gosto de pensar muito no nome dele. Sinto que isso pode comprometer o que temos, ou melhor, dizendo, o que acho que temos.

Sem perceber, acabei dormindo. Foi um sono relaxante. Aos poucos o prazer ia dando espaço ao relaxamento dos meus músculos. Acho que estava sonhando, não tinha outra resposta. De frente para mim havia um espelho, ou algo do tipo. Meu reflexo estava me encarando. Parecia que eu era capaz de ler os pensamento do meu outro eu. Aquilo era tudo muito estranho. O reflexo passou a ter uma expressão maligna no rosto. Aquilo não mais me refletia. Quando tudo estava perto de ficar mais insano, o ambiente que eu estava deu espaço a um vazio escuro.

Acordei com vários beijos no pescoço. Não conseguia imaginar forma melhor de abrir os olhos. Aquele rosto olhava fixamente para mim, até que uma frase quebrou o silêncio:

-Quero faltar à aula amanhã para passar o dia com você.

Por incrível que se possa imaginar, a frase não veio da minha boca, mas sim da dele. Aquilo foi o ápice do que eu poderia querer. Eu me sentia no céu, ou seria outro lugar? Não consigo definir. Todavia, tudo começou a desaparecer em grandes borrões brancos. Um barulho ensurdecedor entrava junto dos borrões. Era o despertador. Seis e meia, hora de voltar para a realidade.

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