Com o baile de primavera se aproximando, os boatos sobre um possível término entre Hilary e Benjamin se alastraram pelos corredores da escola. Ninguém os viu juntos e isso só contribuiu para o aumento das especulações
Tento não pensar no assunto, inegavelmente confusa, mas é claro que sempre acabo divagando sobre isso. Será possível? Mas Benjamin disse que a amava e ele pareceu bem sincero. Porém, lembro-me da discussão anterior entre os dois e isso pode mesmo ser verdade.
Isso não é da sua conta, Cailyn!
Afasto esses pensamentos e murmuro um "olá" para Marilyn antes de me sentar em uma cadeira ao seu lado. Geórgia acena ao meu lado direito e eu sorrio em resposta, abrindo meu caderno.
Sinto um toque em meu ombro e me viro, dando de cara com Alex sentado atrás de mim.
— E aí. — ele sorri.
— Oi. Empolgado com a aula? — aponto a professora que já está escrevendo algo na lousa. Acho que são exercícios de cálculo.
— Nem um pouco. — ele volta os olhos para a frente da sala e estremece, fazendo-me rir.
Eu me endireito na carteira e observo a professora se virar e despejar uma enxurrada de ordens sobre a disciplina.
— Tentem resolver esses exercícios. Eu os quero antes do fim do horário. Podem começar. — murmura ranzinza antes de sentar atrás de sua mesa.
— Ela é vesga. — Jeffrey sussurra lá atrás, fazendo alguns alunos rirem.
Observo a senhora Hammett e acho que ela não ouviu, atenta demais ao celular.
— Para com isso, cara, ela vai ouvir. — Jordan comenta, divertido.
Foco minha atenção na resolução dos exercícios.
— Lembrando que quero a justificativa de cada resposta. Se eu encontrar uma resposta direta, a questão será anulada imediatamente. — a professora aumenta o tom de voz, deixando a sala estranhamente quieta.
***
Abro a porta de casa, encontrando minha mãe e meu pai no sofá. A cabeça dela está pousada sobre o ombro dele e a imagem é muito fofa.
— Como foram as aulas? — mamãe ergue o olhar, sorrindo.
— Boas. Muitos exercícios e eu acho que me saí bem.
— Ela é o nosso orgulho, querida. — diz papai, encarando-a.
— Nosso belo orgulho. — ela me encara. Sorrio levemente. — Aliás, tem um presente em seu quarto, de algum admirador secreto.
Admirador secreto?
— Estava na nossa caixa de correio. Veio com um bilhete anexado, mas sua mãe não me deixou ler. — comenta papai, aparentemente contrariado.
Franzo o cenho.
— Preciso ver o que é. — subo a escada com pressa, ouvindo a risada de meus pais.
— Ela é tão curiosa. — ainda ouço mamãe dizer, antes de entrar em meu quarto.
Passo os olhos sobre o cômodo e finalmente encaro o embrulho sobre a cama. Encosto a porta atrás de mim e me aproximo lentamente. Sento sobre o colchão, apalpando algo enrolado em um papel para presente com pequenos corações vermelhos.
Arqueio a sobrancelha, sorrindo.
Quem será...?
Descarto o embrulho, revelando, para a minha surpresa, um livro de Hemingway.
Sorrio empolgada e puxo o bilhete anexado. Eu o desdobro, encarando a letra bonita, rabiscada com alguma caneta de tinta escura.
Oi.
Essa é a típica maneira de começar uma simples carta, e soa até ridículo vindo de mim depois de tudo o que fiz. O que quero dizer é que sou um babaca pretencioso, mas tenho sentimentos. Não sou perfeito, então posso me arrepender.
Já me arrependi, pra ser sincero; não de ter conhecido você - foi a melhor coisa que me aconteceu - mas por ter te tratado de maneira errada.
Essa é a primeira carta que escrevo para uma garota – na verdade é a primeira carta que escrevo na vida. Para mim isso soava antiquado, mas sei que você gosta dessas coisas. Sinto que posso até me expressar melhor.
Sobre o presente, você deve estar se perguntando por que decidi deixa-lo na sua caixa de correio, mas a resposta é obvia.
Eu me importo e sei o quanto você adora esse livro em específico. Lembro-me do dia em que conversamos e como você estava chateada por não encontrar a versão física de "Adeus às Armas" em nenhuma livraria da cidade; pelo menos essa edição mais antiga. Você me disse o quanto comprar um pela internet seria arriscado e isso me fez pensar.
Eu comprei esse livro ontem. Eu o achei por acaso em uma livraria e resolvi comprá-lo para você, como um presente. Na verdade, aceite-o como um pedido sincero de desculpas por tudo o que te fiz passar. Não precisa devolver, quero que fique com ele.
Espero que um dia me perdoe.
Meu sincero pedido de desculpas,
B. Clifford.
Deixo o bilhete de lado e encaro o livro sobre a cama com uma imensa vontade de chorar. Quando falei sobre o livro com ele, nunca imaginei que ele tivesse prestado atenção. Ainda estávamos juntos na época e eu me sentia cada vez pior com a nossa relação conturbada.
Benjamin não deixa de me surpreender, realmente. Um simples livro de Hemingway ganhou um significado extremo e me deixou ainda mais confusa.
Acho que nunca vou entender esse garoto tão legal em alguns momentos, e tão indecifrável em outros; com suas atitudes, na maior parte do tempo, imaturas.
E aí, o que estão achando?
Votem e comentem, please.
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Desejo Reprimido
Teen FictionCailyn Shields tem um grande problema no que diz respeito a Benjamin Clifford, o garoto de beleza incomum, sensação no futebol americano e seu amor não correspondido desde que ela pôs os pés em Ohio. Cansada de ser a sombra do garoto, ela toma uma...