O meu... Amor

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Maria de Lourdes

Ela nem sabia o motivo de Eric tê-la seguido, ele não tinha muito a ver com aquela história, mesmo tendo a ajudado mais cedo. Sabia, apenas, que tinha de falar com sua mãe. Ela queria pedir desculpas. Porém, algo a impedia. Parecia uma espécie de bloqueio. Toda vez que tentava, as duas acabavam brigando.

Então, quando Eric abaixou o vidro do carro e ela viu seu rosto familiar, não pensou duas vezes. Entrou no carro sem dizer uma única palavra e ele aceitou a presença dela ali, sem questionar. Talvez, o rapaz apenas não quisesse que ela se afastasse de novo, como havia feito nos últimos tempos. Ou, talvez, só estivesse preocupado.

Depois de um tempo parados, ali, na calçada, ela contou a Eric das brigas com a mãe. Ele ouviu sem dizer nada, enquanto tirava a menina dali. Não havia nada a ser dito. Ele havia ficado distante por tempo demais, ela havia feito isso à relação dos dois, não podia exigir que ele se sentisse confortável para sair lhe dando conselhos ou emitindo opiniões.

Ainda assim, Eric sugeriu que ela ligasse para a mãe, alguns minutos depois que Lola parou de falar. Ela queria muito seguir o conselho dele, mas as palavras lhe fugiam toda vez que discava o número da mãe. Talvez fosse mais fácil ficar com Eric, onde quer que ele estivesse indo, até aquela confusão de sentimentos passar.

Lola recostou a cabeça no vidro do carro, depois de muitos minutos, e observou enquanto as luzes da cidade ficavam distantes. Ele tinha prometido, em algum momento da conversa, que a levaria para um lugar seguro. Lola achava que sabia onde era esse lugar. Pegou-se sorrindo quando chegaram à estrada deserta. Ir para longe de tudo talvez fosse a solução, mesmo que a distância nem fosse tão grande assim.

Eric não dizia uma única palavra. Vez ou outra, segurava a mão dela por um tempo, só para depois soltá-la. No fim, ele colocou o álbum novo da Taylor Swift para tocar. Lola se perguntava onde ele tinha arranjado aquilo. Pelo que ela se lembrava, Eric odiava aquele tipo de música. Contudo, ela não ficou muito tempo pensando naquilo. A Lua e as estrelas, a estrada silenciosa e o toque ocasional de Eric se misturavam à melodia da faixa Lover e Lola sentiu suas pálpebras pesarem. Aquele fora um longo dia e ela nem percebeu quando adormeceu, com a cabeça colada no vidro da janela.

— Já está acordando? — Ela ouviu a voz de Eric antes de vê-lo.

Levou um tempo para que conseguisse abrir os olhos. Mais tempo ainda até ajustar sua visão à repentina claridade. Procurou por Eric e o viu sentado numa poltrona à sua frente. Segurava um livro velho nas mãos e o fechou assim que viu Lola sentando na cama.

— Onde estou? — Ela perguntou, mesmo sem se importar com isso. Olhava ao redor, procurando por algo conhecido, porém, era tudo estranho.

— Num flat dos meus pais — ele disse, esticando os braços como se quisesse abraçar o quarto todo. — Todo redecorado, é claro.

— Sandra e Garcia não vão estranhar que você não está em casa? — Lola fez outra pergunta com a qual não se importava realmente.

— Eles nem vão perceber. — Eric piscou para ela.

Em seguida, o menino levantou da poltrona e foi até a cama. Sentou ao lado de Lola e começou a encará-la. A menina sentiu seu rosto assumir tons de vermelho. Não era de se envergonhar facilmente, mas Eric tinha esse efeito sobre ela. Sempre tivera. Entretanto, ele também podia ser um calmamente ou uma pílula do bem-estar. Naquele momento, era um pouco dos dois.

— Mas os seus pais vão perceber. — Ele quebrou o encanto. — É melhor você ligar logo.

Lola olhou para o celular que Eric estendia para ela sem realmente acreditar. O que mais gostava em Eric é que ele não fazia muitas perguntas e nem se metia na vida dela. Parecia que ele tinha resolvido mudar isso. E a pior parte é que ela sabia que ele estava certo.

Ovelhas NegrasWhere stories live. Discover now