Ela finalmente acordou

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Maria de Lourdes 

Ela passou o resto da semana sem falar com Felipe. Também não atendeu mais nenhuma ligação de Eric. Não entendia o que estava acontecendo.

Luan nunca gostara muito de Felipe, mas agora parecia que ele estava retribuindo isso. Algo realmente estranho, porque Lola não achava que isso fosse do feitio do garoto. Talvez ela devesse perguntar para eles o que tudo aquilo significava. Contudo, Luan negava tudo o tempo inteiro. Felipe provavelmente faria o mesmo.

Eric, por sua vez, nunca havia ligado para ela de um número privado. Por que ele não desbloqueava o próprio número? Se ele estava escondendo alguma coisa, não seria ela que iria descobrir — ou ajudar a encobrir. Aliás, ela se manteria longe da vida de Eric, não importava o motivo. Seria melhor assim. Para ele. Para ela. Para todos.

Lola sacudiu a cabeça para esquecer aqueles pensamentos. Pegou a bolsa em cima da cama e foi à cozinha. Sua mãe não estava lá. Deveria estar dormindo. Ela pegou um pedaço de pizza na geladeira e colocou no micro-ondas. Enquanto a pizza girava dentro do aparelho, seus pensamentos voavam para Felipe, Luan e Eric. Ela queria muito descobrir o que estava acontecendo.

Quando o micro-ondas apitou, ela foi arrancada de seus pensamentos. Tirou a pizza e desceu as escadas. Mordia a fatia enquanto caminhava rumo à escola. Deixou seus pensamentos voarem, com o cuidado de não os deixar chegar perto dos assuntos proibidos. Ela não queria ficar preocupada e sabia que isso aconteceria caso pensasse demais naquilo.

Como sempre, Lola chegou atrasada na escola. O pátio principal estava vazio e a moça da portaria a repreendeu mais uma vez. Ela seguiu correndo para os andares superiores, para sua sala. Entrou feito um canhão e respirou aliviada quando viu que o professor de Literatura ainda não havia chegado. Já estava se preparando para ir direto ao seu lugar de sempre — ao lado de Luan — quando notou algo fora do comum. Luan olhava fixamente para Felipe, como se estivesse provocando o garoto. Já Felipe, tentava disfarçar, puxando conversa com os outros colegas.

A menina franziu o cenho e olhou novamente. Revirou os olhos e deu a língua para Luan. Passou direto por ele e foi para frente da sala. Sentou ao lado de Lara, a menina com quem tinha brigado. Ela deu um sorriso para a garota, que pareceu incomodada, todavia não ousou dizer nada. Lola não sabia porque tinha feito aquilo.

Quando viu Luan tentando provocar Felipe, ela sentiu raiva de seu provável melhor amigo. Aquilo já estava passando dos limites. Então ela decidiu que ia ignorá-lo pelo resto do dia. Em parte, para ver se ele parava. Em parte, para Felipe perdoá-la por ter sido tão arisca no dia do almoço.

Sua estratégia, entretanto, foi por água abaixo. Luan nem tentou se comunicar com ela durante todos os três primeiros tempos de aula e Felipe nem sequer a olhou. Aliás, ele nem sequer levantava a cabeça quando ela ia para perto de sua cadeira conversar com Gabriel. Quando o sinal para o intervalo tocou, Lola suspirou e decidiu descer as escadas.

Mal chegou ao pé da escada quando notou que Luan e Felipe ainda estavam lá em cima. Ela fez o caminho de volta, torcendo para não encontrar os dois brigando. Uma parte de si, entretanto, queria apenas ver o que eles estavam fazendo na sala de aula. Ela estava curiosa. Ao se aproximar da sala, ouviu vozes alteradas. Afastou a porta um pouco, com muito cuidado para não ser ouvida. Os dois estavam no fundo, não tinham visão da porta.

Felipe estava virado para a parede. Seus ombros subiam e desciam. Podia estar chorando ou apenas respirando fundo demais. Luan cruzava os braços e sorria. Todavia, não era um sorriso simpático. Era mais um misto de divertimento e perversão. Lola se assustou.

— Então quem você é, hein? — Luan perguntou, mordendo os lábios. — Por que tanta vergonha em dizer?

— Quem você é? — Felipe devolveu a pergunta e virou-se para Luan.

Ovelhas NegrasWhere stories live. Discover now