Foi a bebida

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Luan

Uma fina e repentina garoa começou a cair. O asfalto molhado refletia a luz dos faróis. Lola observava o brilho fraco com um sorriso no rosto. Vez ou outra, Luan olhava de esguelha para ela. Sempre se surpreendia com a beleza da garota. Era incomum, como se viesse de dentro, de um brilho pessoal e único.

— O que foi? — Ela perguntou, sem olhar para ele. Tinha abaixado o vidro da janela e agora girava a mão na chuva, observando os pingos molharem a pele negra.

— Nada — ele respondeu, dando um sorriso de canto e voltando a encarar a pista.

O carro ficou silencioso. Apesar da garota não dizer nada, Luan notou que ela estava inquieta. Mexia-se no banco com mais frequência e abria e fechava os lábios várias vezes. Então, ela virou o corpo completamente para ele.

— Por que não chamamos Felipe para vir conosco?

Luan teve que frear rapidamente o carro para não perder o controle da direção. Ele olhou para ela sem entender o pedido. Do que ela estava falando? Luan começou a rir, imaginando que aquilo seria uma brincadeira. Quando viu que o sorriso no rosto de Lola se transformava numa carranca, ele parou.

— Você não está falando sério, está? — Ele perguntou, enquanto colocava o carro em ponto morto, todavia, logo preferiu que não tivesse feito. Lola o fulminou com os olhos e levantou uma sobrancelha. — Sério que você quer chamar seu namorado de mentira pra gente comemorar o fato de vocês estarem namorando de mentira?

— Quero — ela respondeu. — Algum problema? Porque se você tiver, eu posso descer do carro agora e voltar para minha casa.

Luan suspirou e encostou a testa no volante. Se existia uma única mulher no mundo que era mais difícil, complicada e teimosa que Maria de Lourdes, ele fazia questão de nunca a conhecer. Ele encostou a cabeça no volante, sentindo o olhar fulminante de Lola, até alguns carros começarem a buzinar.

— Sai da frente, seu idiota! — Algum motorista gritou atrás deles.

Luan abaixou a janela e levantou o dedo do meio. Voltou a ligar o carro e saiu cantando pneus pelas ruas da cidadezinha.

— Nem acredito que vou fazer isso — ele começou —, mas passa o endereço daquele babaca.

Lola sorriu e deu as coordenadas para Luan. Enquanto seguiam pelas ruas paradas, ele pensava que os dois faziam uma bela dupla. Seria uma amizade duradoura se Lola não insistisse em andar com Felipe, um garoto certinho que não tinha nada a ver com ela. Será que Lola não entendia? Ela precisava andar com pessoas que a deixassem livre para ser a perfeita maluca irresponsável que sempre fora. Felipe era um cara tão errado para ela que chegava a doer. Não apenas como namorado, mas, principalmente e acima de tudo, como amigo.

Quando chegaram à casa dele, tiveram que inventar uma grande desculpa para conseguir tirá-lo de lá. A mãe de Felipe fez mil perguntas e só sossegou quando viu a carteira de habilitação de Luan, que já era maior de idade.

— Sabia que essa menina ia causar problemas... tirando meu filho de casa a essa hora... — Luan jurou tê-la ouvido resmungar, antes de arrancar com o carro.

— Onde estava seu pai? — Lola perguntou e Luan viu que era só para quebrar o silêncio incômodo que havia se instaurado.

— Trabalhando. É só isso que ele sabe fazer, agora — disse Felipe, abaixando a voz a cada palavra dita. — Acho que é porque não quer me ver.

— Nem imagino o motivo — Luan murmurou, porém Lola conseguiu ouvir e lhe deu um forte tapa no braço. — Aí! — Ele soltou.

— Bem, vamos esquecer seu pai e celebrar — ela disse, virando para trás e procurando pela mão de Felipe, sorrindo. — É pra isso que viemos te buscar.

Ovelhas NegrasTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon