Você já estragou seu futuro

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Maria de Lourdes

Ela esperava na porta da escola. Braços cruzados na frente do peito e uma perna apoiada na parede. As pessoas passavam e a cumprimentavam. Lola respondia com um leve aceno de cabeça e um sorriso. A maior parte deles, ela não conhecia. Os que reconhecia, não fazia questão de falar. Só havia uma pessoa que queria ver naquele momento. A única que ainda não havia chegado.

Quando já estava com as costas e as pernas doloridas por ficar tanto tempo na mesma posição, um carro parou e de lá saíram duas pessoas. Uma menina de cabelos louros e um rapaz alto de fios tão escuros quanto os dela própria. Duas pessoas conhecidas. Juno e Felipe. Lola correu até eles. A curiosidade e a preocupação a corroíam por dentro. Ela precisava saber o que aconteceu após a sua partida. De preferência, pela boca de Felipe.

— Precisamos conversar — ela disse, esbaforida, para os dois.

Felipe olhou de relance para ela, frio demais, e respondeu:

— Eu não quero conversar agora. Muito menos com você.

Ele continuou andando e deixou uma Lola pasma e confusa para trás. Juno deu um tapinha no ombro da amiga, em solidariedade. Ela ia seguir Felipe para a sala de aula, mas Lola segurou seu braço, impedindo-a de prosseguir.

— O que foi isso? — Perguntou, sem se importar se seria grossa ou não.

— Sinto muito, Lola — começou Juno —, mas você realmente não é a melhor das influências para Felipe, nesse momento.

— Como? — Ela estreitou as sobrancelhas e soltou o braço de Juno.

— Você ouviu — Juno falou, já saindo da presença de Lola. — Sinto muito mesmo.

Lola levou um tempo para se recuperar. Sabia que era irresponsável e impulsiva, que tinha sonhos demais e ações de menos e que muitas vezes dava a entender que não ligava a mínima para o futuro. Tinha inúmeras histórias que provavam isso. Mas era uma boa amiga.

O comentário de Juno atingiu a garota como um soco no estômago. Seu primeiro pensamento, naquele momento, foi que deveria ligar para Eric ⸺ ele saberia o que fazer, ele sempre sabia.

Apesar de ter rasgado o papel, a imagem dos nove dígitos ficara presa em sua mente. Só que não podia fazer isso. Só machucaria Eric ainda mais.

Ela decidiu, então, que iria conversar melhor com Felipe depois. Quando ele se acalmasse e não estivesse mais sentindo tanta raiva dela. Saiu do lugar em que estava parada e foi andando, de cabeça erguida. Atravessou o pátio da escola, subiu as escadas e se viu no corredor das salas de aulas. Cheio de estudantes. Gente se reencontrando após três meses de separação. Professores conversando com alunos. E pais, muitos pais perdidos, procurando pelas salas dos filhos.

Entrou na sala do terceiro ano do ensino médio. Jogou a mochila numa cadeira do fundo, pegou seu celular e voltou para o corredor.

Não tinha amigos ali. Todos eles já haviam terminado o Ensino Médio há muito tempo. Eric já estava na faculdade. Logo, ela também estaria longe dali. Naquela escola, só havia conhecidos e ela não estava com paciência para conversar com nenhum deles. Portanto, decidiu ir até a biblioteca.

Procurou por seus livros favoritos nas prateleiras e começou a ler enquanto esperava o sinal tocar. Por vezes, seus pensamentos voavam para noite anterior e ela se lembrava do toque de Eric sob sua pele. Sempre tratava de jogá-los para o fundo da mente e se concentrava novamente em seu livro.

Aquele, porém, era o primeiro dia de aula. O sinal não tocou. Contudo, às sete em ponto, a voz da diretora começou a sair das várias caixas de som espalhadas pela escola.

Ovelhas NegrasWhere stories live. Discover now