Por que a sensação é tão boa?

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Felipe

Os lábios de Lola eram macios. Porém, pareciam errados. Ele sentiu o coração acelerar e suas mãos estavam suadas. Por um tempo, ficou sem saber o que fazer. Um turbilhão de pensamentos o invadiu. Seus sentimentos estavam confusos. Ele gostava de Lola. Gostava muito. Achava até que estava apaixonado por ela. Mas desde aquela noite... A noite em que Luan o beijou... as coisas estavam mudando. Ele não podia negar.

Não sabia o que estava acontecendo com ele. Talvez fosse apenas coisa de sua cabeça. Então por que achava que não era? Eram tantas perguntas e nenhuma resposta. Felipe não estava aguentando mais. Aquele beijo de Lola acabou incendiando tudo dentro dele. O que pôde fazer foi afastá-la gentilmente.

— O que foi? — A menina perguntou, com um sorriso amarelo no rosto.

— Nada. É só que... — Ele não sabia o que dizer. Olhou para o rosto de Lola e esqueceu o motivo de tê-la afastado. — Estamos na escola — ele mentiu.

Nem sabia o porquê de mentir. Apenas não conseguia contar a verdade. Aliás, olhando para os olhos castanhos dela, nem existia mais motivo algum. Felipe estava confuso.

— Você está estranho. Alguma coisa aconteceu — ela disse, olhando para ele com severidade. Parecia querer ler os pensamentos do garoto, de tão estreitos que seus olhos estavam.

Ela comprimiu os lábios, analisando o rosto dele. Felipe imaginava se Lola poderia saber o que estava acontecendo apenas por ver sua expressão corporal ou para onde seus pés estavam apontando. Achou que não, já que ela balançou a cabeça, o empurrou para o lado e subiu as escadas.

Lola estava com raiva, ele sabia. Só não tinha explodido. Isso era um verdadeiro milagre. Felipe respirou, aliviado. Então achou que deveria ir atrás dela e assegurar que não, ele não estava estranho. Porém, seus pés não obedeciam. Felipe continuava parado, olhando para as tranças negras de Lola, batendo forte nas costas, enquanto ela subia as escadas. Enquanto a provável mulher da sua vida ia para longe dele, tudo o que conseguia fazer era observar e se perguntar o que diabos estava acontecendo consigo mesmo.

Por fim, Felipe deu de ombros. Seu corpo voltou-se para a frente e ele se preparou para começar a andar. Foi interrompido, entretanto, por uma mão fria que o segurou pelo braço. Quando se voltou para ver quem era, deparou-se com Luan.

— O que você quer? — Ele perguntou, com uma bravura na voz que não era sua.

Luan não respondeu. Seu maxilar estava travado e pequenas gotículas de suor enfeitavam sua testa. Os olhos dele tinham um brilho homicida. Estava com muita raiva. Felipe sentia a ira emanar de Luan para ele. Por isso nem reclamou quando Luan o puxou para dentro do banheiro masculino e fechou a porta.

— Qual seu problema, cara? — Luan soltou Felipe com tanta violência que o garoto teve que se apoiar na bancada das pias para não cair.

Felipe não respondeu. Tentava respirar. Não estava entendendo nada. Todavia, não queria discutir com Luan naquele estado. Então, apenas olhou de volta para o garoto, calado.

— Hein? Qual seu problema? — Luan voltou a perguntar. Dessa vez com mais raiva e mais alto. — O que você contou para Lola?

Felipe franziu o cenho.

— Nada. Do que você está falando?

Luan deu uma de suas risadas irônicas e escorou na porta do banheiro.

— Do que eu estou falando? — Ele disse. — Estou falando da Lola me atacar na porta da sala de aula, me perguntando o que eu falei pra você e me xingando!

Ovelhas NegrasWhere stories live. Discover now