— Você quer dormir, não é? Claro que sim, deve estar exausta! — Scott voltou a falar, hiperativo diante a situação desconfortável — Eu posso alugar outro...

O homem se calou quando a mulher negou com a cabeça, sem forças para expor em palavras que precisava participar da conversa com a Irene. O McCall espremeu os lábios um no outro e decidiu esquecer o assunto de imediato, pois jamais contestaria qualquer decisão daquela mulher tão ferida. Seu corpo queimava de raiva e angustia, desesperado para ajudar e se vingar do sofrimento que ela tinha passado.

— Eu vou só... vou ficar calado e deixar você em paz — a voz grave soltou a frase vacilante e Scott se desencostou da parede, considerando a ideia de sair do quarto ao perceber que não conseguia ficar em silêncio. Antes que chegasse até a porta, a mulher falou baixinho:

— Malia.

— O quê? — Surpreso com a palavra dita sem contexto, Scott parou no lugar ao perguntar.

— Meu nome é Malia.

Scott pronunciou um breve som de compreensão e se satisfez com a revelação do nome, sorrindo com discrição, no entanto, não pode pensar em nenhuma resposta porque a porta do quarto foi aberta. Mitch entrou, sendo seguido por Irene. Rapp vasculhou o lugar com o olhar e apesar da expressão séria de costume, havia algo diferente nos olhos avelãs. Antes que qualquer um pudesse falar, ele se apressou em perguntar para o McCall:

— Lydia ainda não voltou? — O zelo mal escondido na voz e na postura fizeram com que Scott prestasse mais atenção em Mitch, analisando por alguns segundos antes de responder, a testa franzida.

— Ela mandou mensagem avisando que já está vindo — assim que falou, Scott observou a postura de Rapp relaxar.

Os homens começaram a explicar em uma versão reduzida sobre os ocorridos na missão. Irene e Malia ouviram com atenção, sem intervir. Quando Scott finalmente falou sobre a informação de ter um infiltrado na CIA, a vice-diretora focou na agente resgatada, o questionamento cobrindo o rosto. Bastava olhar para Malia por alguns instantes para ter certeza de que ela não tinha forças para explicações longas, parecia prestes a desmaiar a qualquer momento, no entanto, Irene perguntou:

— É uma acusação muito séria, você tem certeza disso?

— Absoluta — ao responder, Malia encolheu os ombros e uma única lágrima se desprendeu dos olhos, desabando sobre a maçã do rosto. Irene afirmou com a cabeça, pensativa, confiando na fala breve.

— A alternativa mais segura é mentir sobre a missão. Se há alguém infiltrado, ele precisa acreditar que o plano deu errado e que ela morreu sem ter chances de revelar sobre quem a denunciou para a gangue. — Irene se pronunciou com a testa enrugada de preocupação, a voz séria. Malia engoliu em seco, porém, não se opôs.

— Como a gente vai arrumar um corpo ou...

— Vou cuidar de todos os detalhes. Vocês precisam se preocupar em criar uma história convincente com a Amber e a Lydia para colocar no relatório e não podem falar sobre isso com mais ninguém. — A líder interrompeu Scott, convicta. — Precisamos ser cautelosos, não sabemos em quem confiar.

— Onde eu vou ficar? — Malia perguntou receosa, a voz baixa.

— Não se preocupe, querida. Tenho meus contatos e vou conseguir colocá-la em um hotel seguro com uma identidade nova para se esconder enquanto for necessário — a doçura incomum de Irene fez Malia se retesar no lugar — e vou trazer um médico para se certificar de que está bem.

**

Duas semanas depois...

Os dedos de Lydia batucavam no balcão de madeira, a expressão tomada por dúvida ao analisar as garrafas de bebida expostas nas prateleiras de vidro a poucos metrôs a sua frente. Com um suspiro cansado, se rendeu a indecisão e virou o corpo em direção ao barman, abrindo um sorriso gentil e pedinte. O rapaz atendeu de imediato ao chamado silencioso, indo até ela após passar a mão pelos cachos dourados que pendiam sobre a testa lhe conferindo um ar angelical.

Drop of waterWhere stories live. Discover now