39. À Lucidez do Saquê [Isao]

41 16 7
                                    

Isao encarou por um instante a vasilha com o tal extrato de pele de pinheiro antes de levá-lo à boca mais uma vez

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Isao encarou por um instante a vasilha com o tal extrato de pele de pinheiro antes de levá-lo à boca mais uma vez. O sabor era terrível, um pouco melhor apenas que o gosto azedo do próprio vômito.

– Como pôde me forçar a beber algo tão ruim? – reclamou, mal dando um gole e empurrando a vasilha para longe. – Não aguento mais. Tem cheiro de esterco essa coisa!

– Pare de bobeira, Isao. Beba logo, que lhe fará bem. – Akio voltou com a vasilha para perto do amigo. – Você não pode ficar mal assim. Não fica bem um sacerdote vomitando o próprio estômago.

– Pelo Supremo, como você está chato hoje, Akio. Pare de falar o que eu devo ou não fazer – disse, aproximando mais uma vez o chá da boca. 'Que coisa fedorenta!' – Você está aparecendo um manual ambulante de boas maneiras da vida sacerdotal.

– Ah... – o amigo murmurou, coçando a cabeça, sem graça. – Talvez eu esteja mesmo exagerando um pouco. Mas é para o seu bem. Não quero que ninguém fique falando pelas suas costas.

– Você está mais preocupado comigo ou com a minha posição aqui em Uruma? – Lançou-lhe um olhar desafiador.

– Ah, não me ofenda. Sabe que não me importo com isso – disse, enfiando dois pedaços de tofu na boca. – Somos amigos.

– Então, como um bom amigo, pare de me importunar com isso. Vai dizer que nunca exagerou na bebida, senhor responsável?

– Hum, algumas vezes... – Sorriu. – Lembra quando eu roubava o saquê da sala do sensei e colocava água na garrafa para disfarçar? – Gargalhou.

Isao não acompanhou a risada. Endireitou-se na almofada e sinalizou com um movimento de cabeça para que Akio notasse a aproximação de Ryota.

O samurai era conduzido pelo corredor das cortinas vermelhas por uma das meninas. Em seus olhos havia uma sombra. Um arquear em seus ombros que não condizia com sua habitual postura de confiança. A posição como primeiro homem da guarda de Uruma começava a cobrar um preço grande demais do amigo.

– Senhores, boa noite – cumprimentou o samurai, não demonstrando verdadeira satisfação em vê-los. – Isao-san, admito que você era a última pessoa que esperava encontrar aqui.

– Com tantos acontecimentos estranhos em Uruma, me permiti esta extravagância.

– Pois fez bem, meu amigo. Não há lugar melhor para que esqueçamos um pouco dos nossos problemas.

As palavras de Ryota também acusavam sua apatia. Não desejava sobrecarregá-lo com mais um problema. O maior de todos, talvez. Mas não havia escolha. A presença inesperada do amigo no Galho sem Folha não era uma mera coincidência. Era a confirmação do Supremo para que Isao mantivesse sua decisão.

– Ryota-san, sente-se conosco. Por favor.

Akio contorceu-se na cadeira antes de se levantar.

O Dragão de UrumaWhere stories live. Discover now