31. Dívidas Antigas [Isao]

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Sentando no degrau da varanda, Isao curvou-se para a entrada da casa ao ouvir o barulho da porta do escritório se abrir

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Sentando no degrau da varanda, Isao curvou-se para a entrada da casa ao ouvir o barulho da porta do escritório se abrir. A conversa com Shimada havia terminado. Yutaka tinha sido o único a permanecer na fazenda, preocupado em discutir as ameaças feitas na reunião.

De longe, viu-o cruzar a sala e receber do criado seu chapéu de palha e o casaco de chuva. Saía sem visitar Hiromi, como lhe era de costume, e só deixou escapar um de seus sorrisos escorregadios quando fitou Isao esperando-o do lado de fora.

– Gosto também de perder meu dia sentado no degrau da varanda. É sempre muito confortável – disse Yutaka, cumprimentando-o.

– Confortável não é, mas tenho de aproveitar enquanto minha juventude permite certos exageros.

– O que me faz ignorar sua ofensa é saber que, um dia, serei eu a ajudá-lo a descer essas escadas – disse, com um piscar de olhos. – Guardarei para você uma de minhas bengalas, não se preocupe.

– Tenho certeza de que desfrutaremos de uma velhice juntos, Yutaka-san. Ainda viverá por muitas gerações – completou com um sorriso. – Deixe-me acompanhá-lo até sua carroça. Ordenei que seu cocheiro levasse os cavalos para a estribaria. Estavam todos exaustos da viagem.

– Imagino. A lama já nos atrapalhou o suficiente. Caminhemos um pouco, então. Não tenho pressa e fará bem às minhas pernas. Só lamento não ter trazido comigo nenhuma bagagem. O senhor, em plena juventude, seria obrigado a carregá-la em meu lugar. – Riu com malícia.

– Se o senhor tivesse bagagem, eu não teria dispensado o cocheiro.

– Ah, como é bom ser inspirado pelo altruísmo sacerdotal!

A bagagem de Yutaka não era carregada em suas mãos, mas em seus ombros, e não havia ninguém que pudesse dividi-la com ele.

O homem mais velho de Uruma fora destinado a viver com a dor do quase extermínio de seus irmãos. Uma maldição que impusera às suas palavras um desinteresse comum aos homens que há muito tinham ultrapassado o desfiladeiro da vida. Diferente dos outros nascidos de Galo, porém, Yutaka preferia o humor à lamúria, deixando a melancolia para momentos curtos de fraqueza.

– Gostaria de ter sua tranquilidade, Yutaka-san. Não há preocupação que o perturbe, nem que o apresse.

– Como escreveu Rokosenin, não há pressa para quem tem pernas curtas, meu caro. No meu caso, fracas. Pouca alternativa há a tartaruga que não nutrir a paciência.

– Rokosenin não escreveu a Doutrina da Leveza?

– Precisamente. No início dos seus estudos ele cismou em recriminar a gula. Odiava os mais gordinhos. Dizia que um homem tem de ser leve para sair do chão. Me espanta imaginar que tantas religiões preguem a magreza. Não sabem a satisfação que há em se ter onde apertar.

– Fala de meu altruísmo, mas nada me impressiona mais do que sua capacidade de perverter qualquer assunto. Um velho, que mal se sustenta com as próprias pernas, apaixonado pelas gordurinhas das mulheres!

O Dragão de UrumaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora