52. Grilhões Invisíveis [Ryota]

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Ryota se levantou, sob os protestos da velha ponte de madeira, que vergou preguiçosa até beliscar a superfície do rio, e estralou os ombros para relaxá-los

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Ryota se levantou, sob os protestos da velha ponte de madeira, que vergou preguiçosa até beliscar a superfície do rio, e estralou os ombros para relaxá-los. Sua mente continuava agitada, em alerta, mas seu corpo já demonstrava cansaço com tantas horas de treinamento. Fitou o Sol sobre as copas dos pinheiros enfileirados na colina, e torceu para que sua solidão não fosse interrompida.

Com a construção da Ponte das Carroças no centro, ligando Uruma à Estrada Estreita, poucos foram os que continuaram a usar aquela travessia no Bosque das Carpas. Era apertada, instável, com seus inúmeros remendos de última hora, e, como se não bastasse, ficava completamente submersa quando o rio aumentava de volume. A Ponte Mergulhada, como costumavam chamá-la, havia sido, anos atrás, o lugar em que Takeso escolhera para treiná-lo.

Para seu mestre, um guerreiro que desenvolvesse a força e o equilíbrio necessários para lutar de forma perfeitamente natural naquela ponte, estaria apto a enfrentar qualquer outro tipo de cenário, por mais traiçoeiro que fosse. O suficiente para que Ryota se empenhasse com afinco em domar o implacável inimigo sob seus pés, treinando dia e noite para que a instabilidade não mais afetasse seu equilíbrio. Ainda que, por vezes, nos dias de sol mais forte, se deixasse acertar por um ou dois golpes de Takeso com o nobre intuito de se banhar nas águas cristalinas do rio. Aproveitava, claro, até o aparecimento das malditas carpas arranca-unhas.

E lá estavam elas em volta de suas pernas mais uma vez, curiosas, famintas como moscas no mel.

Ryota fechou os olhos e sorveu o suave calor do Sol em seu rosto.

– Sensei, o senhor tem certeza de que esses peixes não vão comer meus dedos? – perguntou Ryota, balançando as pernas com violência para expulsá-los de perto mais uma vez.

– Perigoso seria se você estivesse mergulhado da cintura para baixo! – Takeso gargalhou e Ryota não entendeu a graça do comentário. – Estou brincando, Ryota, não se preocupe. Sentirá alguns beliscões, nada mais. Procure se concentrar.

Ryota fechou os olhos e se segurou na ponte com mais força. Sem enxergar, a sensação dela se mexendo era ainda pior. Mais mordidas. Sentia os peixes passando agitados por suas pernas. Balançou-as mais uma vez. As escamas frias incomodavam-lhe.

– Continue de olhos fechados. Perceba que basta um movimento de suas pernas para que as carpas se afastem. Mas o que você me diria se eu ordenasse que você as expulsasse sem usar o seu corpo, apenas a mente?

– Que me parece impossível, sensei – respondeu, constrangido, agitando a água com os pés. Takeso havia dito que não, mas suas unhas ardiam.

– Pois bem – sentiu as mãos de Takeso em sua cabeça –, Tente esquecer os peixes. Como você não é um monge ancião que tem o controle completo sobre o corpo e a mente, que consegue passar a vida inteira sentado sobre uma pedra, imóvel... – Takeso riu, debochado. – Eu serei obrigado a paralisá-lo para que você consiga ignorar o seu corpo. Mas não tenha medo, eu estarei do seu lado.

O Dragão de UrumaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora