Contra a vontade

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Não toque em mim.

Não. Toque. Em. Mim.

Não toque em mim.”

Aquelas palavras ficaram ressoando na mente do Ackerman. Repetindo com um eco numa caverna.

O peso do corpo alheio fora retirado de cima do seu e ao invés de alívio, ele sentiu falta.

Ao ver que o moreno cairia, Levi se jogou como num mergulho inverso, com a única intenção de cair primeiro embaixo dele, permitindo que seu corpo amortecesse a pancada da queda do Jaeger. Só pensou que a queda poderia agravar qualquer lesão que ainda pudesse existir nos joelhos ou qualquer parte que estivesse atrapalhando a recuperação dos movimentos das pernas dele.

Após aquelas cruéis palavras, eles trocaram um longo e profundo olhar. O de Levi demonstrava medo. O de Eren mostrava apenas mágoa e raiva.

O primeiro tinha medo de ser rejeitado. Pensava que depois de tudo o que passara na infância, das perdas, decepções, necessidades e injustiças, nada mais poderia machucá-lo; isso até conhecer Eren. Ao amar, abriu brechas para ser ferido.

Pôde sentir o coração esfriar e quase parar quando escutou o moreno lhe dizer para não tocá-lo. É claro que automaticamente o libertou do aperto leve de suas mãos e sentiu que os enfermeiros ajudavam para que o paciente ficasse novamente de pé.

Um tanto envergonhado e um pouco desnorteado, Levi se levantou e passou a mão nos cabelos que haviam se desalinhado quando sem pensar em nada, se jogou no chão para suportar o peso alheio.

— Me perdoe. — Pediu. Referia-se a ter tocado no outro. Queria dizer que o fez por conta do momento de urgência que exigiu um movimento ágil, no entanto sua garganta travou. A voz havia lhe abandonado por completo.

Eren estava diante de si.

Finalmente podia vê-lo por inteiro e não era uma alucinação trêmulante diante de sua janela ou uma miragem cruel atrás do vidro do banheiro. Era mesmo o moreno, com a sua linda pele exposta e os belos cabelos daquele comprimento que para o baixinho era completamente novo e magnífico, além dos marcantes olhos verdes que no momento lhe olhavam de forma dolorosamente impiedosa.

— Pelo quê? — A voz continuava fria. — Podemos escolher aqui, se for fazer apenas um pedido. Você pode escolher por qual dos erros vai pedir perdão.

— Eren… — Ele tencionava se justificar, dizer que foi até alí porque ainda se amavam, podia sentir; porque não resistiu ao vê-lo novamente, porque não podia mais viver sem ele e porque precisavam conversar. No entanto, as palavras não vinham, não saíam; até mesmo respirar se tornou dificil e Levi sentiu que fora abalado demais por aquelas palavras. Muito mais do que imaginava que seria. É claro que sabia que não seria recebido de braços abertos, no entanto ter ouvido palavras tão ácidas e duras o pegou de surpresa.

Aquele alguém que por tanto tempo desejou seus toques, agora parecia sentir repulsa quando sentia suas digitais na pele.

— Por favor, o senhor pode se retirar? — Um dos enfermeiros pediu, no entanto a voz dele parecia muito longe para que Levi pudesse realmente ouvir. Estava perdido na aura tensa entre Eren e ele. O olhar permanecia firme entre os dois. Os sentimentos conflitantes eram claros, sendo que o Jaeger estava claramente desagradado com a situação incomum.

Quando iria imaginar que Levi ia aparecer no meio de sua sessão de fisioterapia?

Como poderia ter imaginado que conseguiria dar um passo impulsionado pela pessoa que o deixou?

E de que forma sua mente seria capaz de lidar com aquele sorriso tão lindo? Um sorriso que nunca vira antes, um sorriso satisfeito e cheio de genuína felicidade… Isso ficaria na mente do moreno por muito tempo.

Nos passos do destino • EreriWhere stories live. Discover now