Dúvidas

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Foram duas, três, quatro, cinco semanas.

Levi aprendia muito rápido, estava se saindo bem. O esforço estava sendo muito grande também.

Eren não acreditava que "o problema", como o chamava mentalmente, poderia evoluir mais rápido que qualquer outro aluno. O professor sentia-se satisfeito ensinando alguém que se esforçava e tinha talento; uma combinação que considerava 'a combinação para o sucesso'. Porém, isso não o fazia deixar de considerar o baixinho um problema, visto que ainda tinha em mente que o mesmo tinha cometido um erro criminal da qual ele não sabia o motivo e poderia ser algo muito ruim, além da semelhança com Mikasa e a possibilidade quase certa dele ser o primo da falecida esposa.

Ainda que o aluno o tivesse ajudado em sua crise, como poderia confiar em alguém tão facilmente? Ele poderia ter tido apenas um momento de pena, um despertar humano ou algo do tipo. A ajuda não o santificou na visão do moreno, apenas amenizou a perspectiva acusadora, mas que na prática não teve muito efeito.

Voltando para a evolução das aulas; na filosofia de Jaeger, se um bailarino não tem um talento natural, ele precisa trabalhar duro, muito mais do que é esperado dele, para compensar o que lhe falta em habilidade inata. Se ele tem talento, mas não se esforça o bastante, com certeza fará apenas o básico, o que é esperado, nada além disso. No entanto, a combinação de talento e esforço levam um bailarino ao auge da perfeição.

Levi era um aluno promissor, porém difícil. O gênio complicado era uma pedra no sapato, por isso aluno e professor sempre acabavam se olhando torto.

Eren não costumava ser brando com os alunos e é claro que não o seria com Levi. Especialmente por achar que não duraria muito tempo por ali, afinal estava claro que aquele não era o campo escolhido pelo aluno para viver, os objetivos dele giravam em torno da luta. O ballet foi algo que lhe foi imposto, portanto não era o mesmo processo de escolha pelo qual os demais alunos passavam. Ainda assim não significava que o moreno deixaria as coisas correrem soltas. Se Levi era um aluno, independente da forma como entrara ali, seria tratado como tal, sendo exigido da mesma forma ou até mais, porque Jaeger julgava que tinha potencial para mais.

Apesar das explicações de Irwin quanto ao 'não-relacionamento' com o jovem balconista, Eren ainda o considerava como um pretendente ou algo do tipo, a quem o baixinho dedicava bastante tempo. Sobretudo porque o juiz fazia visitas regulares ao jovem no fim das aulas, acabando por leva-lo pra casa de carro. Isso não era da conta de Jaeger. A vida pessoal dos alunos não o interessava. Exceto naquelas circunstâncias.

"Eren, idiota, o que estava pensando? Que com toda a argumentação de Irwin para que aceitasse Levi na escola, não haveria nenhum tipo de relacionamento intimo entre eles? É claro que tem!" Pensava o moreno, porém nunca se atrevia a questionar algo ao aluno, visto que passou muito tempo se recriminando pela reação no dia em que o Smith foi até a escola levar o uniforme para o baixinho. Não deveria fazer questionamentos que não estivessem relacionados às aulas, portanto procurou conter-se.

Jaeger chegou a deixar de lado a ideia de propor um dia a mais de aula ao baixinho. Queria evitar muito contato, considerando os riscos de tê-lo por perto, afinal o moreno já tinha perdido o controle antes e tal coisa não podia se repetir. Ele admitia que Levi mexia consigo. A princípio sua auto explicação era a aparência que se aproximava muito com a da falecida esposa, Mikasa, porém seguiu os conselhos de Armin e com o passar das semanas, notou que havia algo mais

Era como uma aura misteriosa e desafiadora que o instigava. Outros detalhes foram notados aos poucos, como o porte físico, as mãos delicadas e pés pequenos; e os olhos que apesar de entediados maior parte do tempo, brilhavam quando conseguia realizar algum movimento com sucesso. Eren se enxergava quando criança nas descobertas do baixinho, via as mesmas reações e sensação de superação, de vitória. Era gratificante e isso o cativava. Levi era uma criança descobrindo a dança, descobrindo o próprio corpo ao movimentá-lo, superando os próprios limites e descobrindo todo o prazer que havia em dançar.

Nos passos do destino • EreriWhere stories live. Discover now