🌊 Saudades Marinas 🌊

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Em meio a paranóias e histerias
Encontrei na noite chuvosa
Meu porto seguro e nele fiz morada
Repousei e não mais voltei
Hoje distante do lar rogo a Posseidon
Pra que me traga saudades marinas
Das vezes que ao mar não pertenci

Em meio a paranóias e histeriasEncontrei na noite chuvosaMeu porto seguro e nele fiz moradaRepousei e não mais volteiHoje distante do lar rogo a PosseidonPra que me traga saudades marinasDas vezes que ao mar não pertenci

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Pelas margens coradas de um belo pôr do sol, degradê colorado, rosado, azulado. Nuvens esparsas pairando pelo céu depressivo de Copacabana.
Falhas visões me surfam nas lembranças, mas não posso discernir agora. Brincando como dois apaixonados, Alice e Benjamin corriam pela orla, tão bela, jamais esquecida a princesinha do mar.
Cerro meus olhos e os abro para realidade. A boca seca, mãos frias e o pés suados. Olho atentamente para o relógio na parede, não consigo compreender, procuro por meu relógio de pulso por entre a bagunça dos cobertores e lençóis, difícil tarefa. O encontro depois de alguns segundos sobre a cômoda ao lado. Nove da manhã. Já deveria estar de pé a horas, mas ultimamente tenho vivido dormindo. Um desânimo terrível me consome e apenas quero vegetar como se não houvesse uma vida pra viver, como se não tivesse livros pra ler ou histórias pra contar.

Fazia um tempinho que eu não sonhava com Benjamin ou com Alice, confesso que fiquei contente, mas também perturbada. Aquela fotografia havia me deixado vagando em outro estado da minha mente, não sei exatamente explicar o que estava acontecendo dentro de mim, mas não era nada legal. Queria de alguma forma indagar Tio Mário sobre isso, mas não sabia exatamente como e nem mesmo saberia inventar um pretexto pra isso.

Deixei as gotas geladas caírem sobre minhas costas. Em estado de alerta, adrenalina, emergência. O frio da solidão já não me incomoda mais. Talvez me amedrontasse quando há um ano atrás cheguei crua aqui nesta casa. Talvez naquele tempo eu ainda estivesse me adaptando a solidão, mas agora, sei exatamente que minha única companhia verdadeira é a solidão. Paraty, com sua alma pacata, calma e antiga, me ensinou que as vezes a solidão é uma companhia agradável, talvez todas às vezes.

Depois de um banho animador, tranquei a porta e me sentei próxima à janela. Leria cada uma daquelas cartas. Mesmo que isso me tomasse bastante tempo. Um receio me consumia como fogo e isso era tão agoniante. Tive medo pelo o que leria. Há esta altura do campeonato já não me podia dar ao luxo de ignorar os fatos. Talvez lendo estas memórias eu venha ter total certeza de que não estou ficando louca.  Abri o primeiro dos sete envelopes:

Abril, 1978

Querido Mário, estou com saudades. Copacabana tem estado linda. Diga-me quando virá me visitar? Estou morta de saudades de tua presença, do teu jeito engraçado e das tuas boas piadas.

Lhe escrevo para avisar que estarei em Paraty em breve, vamos talvez, nos encontrar?
Os últimos dias não tem sido nada fáceis entre eu e minha família, só você me faz pairar de felicidade quando minha vida se encontra neste caos. Só o teu abraço me motiva a seguir firme neste mar de energias negativas. Em ti encontro alento. Espero podermos nos encontrar, claro, se sua namorada, Alice não intervir.
Tenha um bom tempo, obrigada por sempre me amparar.

Com carinho, sua amiga
Helena Prates Belo Monte

Precisei me segurar firme nas grades da janela pra que pudesse entender, engolir e assimilar o que estava acontecendo. Engoli a seco. Parece que havia mais pessoas envolvidas nisso do eu imaginava, mas agora me restava saber por que minha mãe fazia parte disso tudo. Como  e quando foi que ela entrou nessa história? No final disso tudo eu teria tanta coisa pra refletir que nem mesmo sei se tenho cabeça suficiente pra isso.

Segui para a segunda carta

Setembro de 1978

Querido Mário, quão frustrante foi nossa passagem pelo baile de primavera este ano. Sei que neguei teu convite, mas não espero que tenha me odiado tanto a ponto de me ignorar.
Estou profundamente irritada com tua pessoa. Não me digas que mais uma vez Alice o impediu que viesse até mim? Estavas tão belo como o luar. Poderíamos ter dançado fabulosamente juntos naquele salão, mas tu preferistes correr para de baixo das saias de Alice. Venha me me ver hoje na biblioteca, estarei a sua espera se falhar comigo mais uma vez, não mais me terá.

Com carinho, sua amiga
Helena Prates Belo Monte

Então quer dizer que meu Tio Mário e Alice eram namorados? Mas o pior, isso parecia incomodar profundamente a minha mãe. Minha mãe era uma espécie de amante de Titio? Sem mais delongas parti para a terceira:

Porto Alegre, Rio grande do Sul, Novembro de 1978

Meu querido amor

Têm sido dias maravilhosos, cheios de flores e frutos. Gostaria que estivesse aqui. Estou me apaixonando cada vez mais pelo curso, mas a falta que sua ausência me trás é terrível. Às vezes me pego pensando em você durante as aulas. Confesso que ainda não consegui me conectar a Fotografia, não sou muito boa com isso, mas creio que serei uma boa repórter. Segurar uma câmera é um pouco desengonçado e ela pode ser pesada, mas creio que vou me adaptar.

Outro dia peguei um livro na biblioteca do campus que me trouxe lembranças de sua presença, "Pássaros Feridos"  peço que tente encontrar um exemplar pelas livrarias do Rio de Janeiro, tenho certeza que irá adorar.

Amei sua última carta, tuas palavras e teus poemas, me senti tão aliviada a lendo, é como se você estivesse aqui ao meu lado. Te desejo profundamente.

Com todo amor e carinho, sua doce namorada Alice.

Quando eu estava prestes a abrir a quarta carta alguém bateu a porta e foi o suficiente pra que meu coração quase saísse pela boca.  Escondi os envelopes por entre as cobertas. Aquilo parecia terrívelmente oculto.
Me ajeitei, dei três batidinhas na minha saia, acertei o cabelo e abri a porta. Era Sophia e como sempre sorria.

— Vamos dar uma volta pela contra praia, quer vir?

Ah a contra praia! Há quanto tempo não me aventurava por aqueles meios, receios e seios? Parecia algo tentador, mas não estava nenhum um pouco animada para ter com aquela paisagem sem o meu querido farol. Dei um sorriso sem graça e agradeci o convite, fechei a porta, dei um pulo na cama e continuei da onde tinha parado, mas quando pelas cartas procurei, não mais as encontrei. Riverei o lençois, cobertores pelo chão e até movi a cama de sua posição, mas elas haviam simplesmente desaparecido. Que agonia meu Deus!

 Que agonia meu Deus!

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OCEANO EM SEUS OLHOSWhere stories live. Discover now