🌊 Águas Desconhecidas 🌊

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Infelizmente eu não estava nenhum pouco animada com aquela vista. Fernando de Noronha estava esplendoroso e suas águas eram tão sensuais como a pele indecente de uma irresistível jovem maçã, mas meu estado de espírito era mórbido. Da janela do quarto em que Sophia escolheu pra ficarmos a vista era surpreendentemente linda, contudo nada parecia querer me empolgar.

— Pedi mariscos pro almoço tudo bem meninas? —, Dânica disse arrumando a tanga de frente ao grande espelho que ficava em frente à cama.

— Amo mariscos. —, Sophia respondeu passando protetor solar em minhas rubras costas. — Tudo bem Ceci?

— Ah sim! Claro. —, respondi com um sorriso forçado. — Vamos descer pra ver o mar hoje?

— Já está curiosa né? Vamos sim. —, Sophia respondeu animada.

— Na verdade estava querendo ficar aqui mais um pouquinho. Meu estômago está meio fraco.

— Tudo bem então... —, respondeu frustrada. — Quando se sentir melhor você pode descer e aproveitar a praia.

Claro que eu sabia como eu estava sendo desconfortável o tempo todo, mas de fato isso não me importava, pois não queria estar aqui. Enquanto belas, radiantes e clássicas elas desceram para tomar um sol e se banhar com o sal marino, eu fiquei jogada pela cama olhando pra mim mesma no reflexo do espelho que cobria toda a face do teto.

Batidas energéticas em meu espírito, corrupção sádica do meu intelecto, fome masoquista  da minha alma. Queria sentir Benjamin aqui, do meu lado. Desejava sentir seus lábios acariciando os meus, suas mãos quentes percorrendo meu rosto, sua respiração ofegante em meu pescoço. Meu sangue estava em êxtase, fervia. Suas lembranças na minha memória, Uma dor de cabeça terrível me tomou conta do cérebro. A dor do desejo profano de se ter algo que não se pode ter jamais. Uma sensação diferente, quente, dramática da qual eu nunca havia experimentado antes me subiu pela espinha despertando sentimentos diferentes dos quais estou acostumada sentir. Meu corpo alumbrou-se tornando-se lívido de descendia e fornicou com minhas orações vulgares. Meus lábios umedecidos pela língua que insistia em mantê-los hidratados, meus lábios molhados pelo líquido misterioso que me corrompia o caráter. Flamejei ideias insanas no meu íntimo e minha luxúria corrompeu as castas leis da minha inocência. O que de fato era certo ou errado? O que é real ou não? Estarei existindo ou sou uma fantasia da mente infantil de Benjamin? O fulgor da depravação enfeitiçou minha inocência. Deveria ter cuidado com a felicidade que me assola mas não pude conter minhas mãos percorrendo por meu corpo jovem, virgem e delicado. Minha pele estava quente, ruiva, desprovida de vergonha. A adrenalina percorreu minhas veias sujas de vontades sexuais. Enquanto meus dedos satisfaziam a minha sede meus devaneios me levavam a imaginar que eles na verdade se tratava dos lábios de Benjamim. Minhas mãos se tornaram as suas, meus desejos os seus e meu corpo e agora suplicava por ser um fragmento do escárnio. Uma persistente e perigosa substância inundava minha sanidade, minhas pernas amolecidas sorviam do vinho de meus pecados lícitos. Pelo espelho via a mim mesma abraçada a Benjamim enquanto lentamente movimentávamos nossos corpos que colidiram como meteoros na atmosfera de Júpiter. Movimentos suaves se tornaram mais rápidos, rápidos e rápidos. Frenética, hipnótica, pecaminosa liberdade que me levou até o mais profundo do oceano. O libido da minha volúpia me foi depravação e todo o falso pudor me deixou quando de mim saíram estrelas a plumar pelo mar. Ofegante, cansada e me sentindo completamente diferente pus me a observar a mim mesma depois de tão profunda sensação. Uma fraqueza muscular afetou-me e por alguns minutos me senti arrependida e quis da minha face fugir. Será que Sophia sentiu algo parecido enquanto transava com aquele jovem dentro daquele carro naquela noite em que senti todo o amor e energia de Benjamin? Estava correndo perigo. Mas, quem poderá me defender do perigo quando eu mesma sou o perigo do qual preciso ser protegida?

Depois de um banho frio sobre minhas costas senti desejo de conhecer este lado do oceano. Coloquei o biquíni que Sophia havia comprado pra mim. Me olhando no espelho pude perceber como meu corpo estava diferente da última vez que me observei assim. Aquilo me trazia um pouco de medo e confusão momentânea. Um turbilhão de emoções e sentimentos percorrendo quase na velocidade da luz pela minha carne. Pude sentir um calor envolvendo as camadas da minha insegurança. Eu conhecia aquela energia. Por um momento imaginei ser Benjamin. Virei-me pare ter certeza, mesmo sendo possível ver qualquer coisa que estivesse ao redor pelo espelho. Confesso que me frustrei ao nada ver, mas de alguma forma ainda sentia a energia corporal, mental e espiritual de minha amada quimera justo aqui. Aos poucos ia me abandonando, mas estava aqui ainda. Senti tanto medo de nunca mais vê-lo novamente, de nunca mais sentir suas mãos. Eu queria sentir suas mãos.

Aquela energia diferente exalava da minha face. O sol impetuoso não me deixava ter uma visão agraciada da praia. Dânica e Sophia se aproximaram surpresas pela minha presença.

— Olha só quem decidiu dar as caras! —, Dânica disse com seu sorriso dourado. Sombreei os olhos pra que pudesse vê-las com mais clareza.

— Fiquei um pouco entediada. —, respondi tomando um pouco de água de côco.

— Depois do almoço vamos pra Baía do Sancho. Eu tenho certeza que vai amar. —, Sophia disse se agachando pra minha bochecha beijar. — Vai ter dançarinas de Hula Hula e muito Ukulele.

— É um lual de novo? —, perguntei sôfrega.

—  Na verdade não. Vai ser uma festa do Iate. —, Dânica foi quem respondeu. E respondeu muito animada. Mais animada do que deveria.

— Iate de quem? —, indaguei curiosa, porém temerosa.

— De uns amigos. —, Sophia respondeu passando a mão sobre minhas coxas. Seu toque era tão suave. Senti um arrepio diferente pelo corpo. Fiquei um pouco envergonhada ao ver que ela percebeu, mas apenas me respondeu com o mesmo sorriso açucarado de sempre.

Depois de brincarmos com uma peteca e um delicioso mergulho refrescante, tomei uma ducha aconchegante. Os pensamentos comiam meus cérebro, o que diabos eu havia feito mais cedo? Porque eu fiz aquilo? Por que sentia tanta falta de Benjamin? Por um momento cheguei a duvidar da sua existência, mas me era  impossível que fosse verdade sua não existência. Senti e vivi aqueles momentos e foi tão real e por mais que tenha acontecido coisas inexplicáveis, dentro de mim, em meu íntimo, sabia que havia verdade naquelas coisas todas. Fui interrompida de meus pensamentos quando Sophia bateu à porta pedido pra que me apressasse no banho, pois logo iríamos almoçar. Coloquei uma simples saída de praia e o velho chapéu da minha mamãe. Que lugar formidável. Um grupo de homens entoavam cantigas locais em chachado enquanto o vento sorrateiro musicava a cortina de miçangas. Tudo era tão singelo, mas porém tão intenso. Pela primeira vez em muito tempo meus olhos, meu tato, audição e ofato estavam captando os detalhes ao redor. Pela primeira vez em muito tempo, Benjamim não me roubava os pensamentos. Eu não me divertia dr maneira tão genuína assim há muitos meses. Fiquei feliz por estar conseguindo, por me permitir conseguir.

OCEANO EM SEUS OLHOSWhere stories live. Discover now