OCEANO EM SEUS OLHOS

🌊 eu posso ouvir o oceano 🌊

Os pássaros festejavam o sol depois de uma noite de chuva abençoada. Eu estava despertando preguiçosa. Vovó e eu íamos procurar conchinhas pra fazer uma caixa de conchas pro aniversário de Tia Rosa na semana que vem. Vovó amava criar artesanatos pro aniversário de alguém. Ela dizia que não há nada mais simbólico e importante do que algo que você fez com suas próprias mãos.

Sem muita disposição me levantei da cama. Olhei pela janela o azul celeste do céu se contrastar com o azul marino e cristalino que o mar refletia. Titia já estava com o rádio ligado e Sophia estava viajando pra Niterói, na casa de alguns amigos.

Por sorte depois da confusão na casa de Dânica, Sophia não se lembrava de nada do que disse. Ou pelo menos fingiu não se lembrar. Depois daquilo eu também não voltei a ver o Wesley, mas ele me ligou ontem a noite pra tentar marcar alguma coisa, mas eu disse que ia passar quase toda semana muito ocupada. Eu realmente não sei se eu estava preparada pra absorver toda a energia que Wesley mandava pra mim depois de tudo que descobri. Preciso primeiro resolver as questões pendentes, me acertar e depois sim, me permitir voar livremente como um albatroz pelos oceanos com ele.

Depois do café da manhã, vovó e eu fomos atrás das conchinhas. Estávamos tendo sorte, eu havia recolhido várias delas quando decidi fazer algo ousado. Eu sabia que poderia receber uma resposta totalmente contrária do que eu queria - e precisava - e que isso poderia soar extremamente desconfortável, mas ignorando todo o senso, perguntei: — Por que a senhora e nem ninguém nunca me contaram que o Tio Mário já namorou a minha mãe?

Vovó me olhou com oa olhos esbugalhados. Quase tive medo dela ter um infarto bem ali. Eu me sentiria culpada pro resto da minha vida. Mas ela não teve, graças a todos os deuses do mar. Ela me olhou com uma cara de incógnita logo em seguida e disse: — E quem foi que lhe disse?

— É que.... A senhora sabe muito bem  que eu não consigo mentir, mas eu não sei se eu deveria falar. —, engoli a seco toda a minha coragem antes de vomitar ela de novo delatando: — A Sophia. Ela me disse e do jeito que ela disse eu não acho que seja mentira.  —, firmemente concluí.

— E não é mesmo não. —, respondeu serena. — É verdade sim. Sua mãe e seu tio tiveram um breve caso no passado. Foi a partir de Helena que ele conheceu Rosalinda. Mas por que isso importa pra você, Cecília?

— Ah, vó... Porque importa. Faz parte da minha história também. Isso é... Se mamãe e o tio tivessem ficado juntos eu jamais teria vindo a existir e nem a Sophia. —, desconversei. — A Sophia também me disse que na verdade o Tio Mário era apaixonado por uma mocinha chamada Alice.... A Senhora conhece?

— A tua prima Sophia anda desenterrando muita mágoa pelo visto. —, vovó respondeu me reprovando com o olhar.

Normalmente eu me calaria. Eu deveria aliás. Mas não aguentava mais todas estas questões me enchendo a cabeça. Muitas coisas haviam mudado em mim nos últimos meses.

— É sim. E eu fiquei interessada. Sei que as pessoas não gostam de falar sobre coisas ruins que aconteceram no passado. Mas eu quero saber, vovó. Eu queto saber o que foi que a minha mãe fez que deixou o Tio Mário tão triste e chateado.  Eu quero saber...

— A Helena não fez nada. —, me interrompeu bruscamente. — Se você quer saber a verdade, a sua mãe não era flor que se cheire mesmo não. Mas a responsabilizar por toda a tragédia que aconteceu seria irresponsabilidade demais.

— Exatamente vovó! É isso que eu quero e preciso saber. O que foi que aconteceu? Toda esta tragédia. —, já estava quase ficando nervosa mesmo me segurando pra não aflorar os ânimos e humores.

— Às vezes precisamos nos abster de coisas que só trazem negatividade e sujeira pras nossas vidas. O bom de ser racional é que podemos escolher quais memórias cultivar. Pra que ir atrás de tanta dor assim minha filha? Águas passadas não movem moinhos. Você nunca ouviu este ditado? Mexer em algo que causou tanta tristeza e raiva agora que já se passou vai alterar a harmonia das coisas.